Diante da tela do computador e acompanhada de uma xícara de café quentinho, começo a nossa conversa pelo último artigo no qual comentamos sobre a importância de apresentar em novelas não somente o lado glamouroso da advocacia. Conversamos e sugerimos à autora da novela "Vai na fé", Rosane Svatman, que abordasse também os aspectos que levam advogadas e advogados à lona do estresse. Seria um serviço valoroso para a saúde mental dos profissionais e de seus familiares. Convido você para avançarmos à novela das nove da Rede Globo, Travessia, de Glória Peres. Nesse caso entraremos na trama dos personagens Lais, interpretada pela atriz Indira Nascimento, e Monteiro, desenvolvido pelo ator Ailton Graça.
Laís é uma advogada que vive no turbilhão de acontecimentos e emoções da profissão. Sócia de Stenio (Alexandre Nero), ela está sempre no limite do estresse, embora não tenha consciência disso. Muito sugada pelo trabalho, Laís acaba não tendo a real compreensão dos acontecimentos em seu núcleo familiar, com seus dois filhos Théo e Isa. Ela perde o tempo do crescimento dos filhos e, por consequência, a atenção fica por conta do seu marido Monteiro, professor de história. A barra é pesada demais, porque Théo é viciado em computador. Uma doença pouco admitida por muitos, mas que segue em expansão.
É nesse ponto que eu considero fundamental abordar a excessiva carga de trabalho e tensão das advogadas e advogados. Há um gancho no roteiro para tocar na ferida que se abre cada dia mais no exercício da advocacia. Não é só o filho da Laís que está precisando de ajuda. Ela também está. É real a necessidade de se repensar o ritmo de trabalho da advogada. Eu sei que o foco da trama é explorar o vício no computador. Aliás, aproveito para abrir um parêntese: Glória Peres sempre desenvolve roteiros de novela focando em temas relevantes para a sociedade. Por isso mesmo, acredito que seria uma boa oportunidade para se tocar na saúde mental de advogadas e advogados. Uma ou duas cenas em Travessia nesse sentido já seria imperioso para informar e esclarecer o quanto os profissionais de direito sofrem de estresse, ansiedade, depressão, baixa autoestima.
O bate-papo está fluindo tão bem que o meu cafezinho esfriou rsrsr. Não há problema. Seguimos em frente. Estou me lembrando de um caso de um estagiário que se jogou do 7º andar de um escritório de advocacia, em São Paulo, em agosto de 2022. Na ocasião, parte da imprensa colocou luz sobre uma questão real: o alto nível de estresse em advogados. A profissão, ainda observada com glamour, esconde um lado que leva ao adoecimento mental e físico. Embora haja grande sofrimento por parte de muitos advogados, advogadas e até mesmo estagiários, eles possuem dificuldade em assumir que precisam de algum tipo de suporte emocional. Na maioria das vezes precisam resolver sozinhos as demandas que se apresentam. Muitos dizem de forma equivocada e errada que o estresse em advogados não existe. Ledo engano!
Acredite! É comum que os profissionais desta categoria adoeçam, seja por diabetes, pressão alta, problemas renais ou cardíacos ou transtornos psíquicos. Este quadro acontece porque o sucesso do trabalho de um advogado não necessariamente depende dele. O ganho de uma causa depende, no fim das contas, do entendimento do juiz, não necessariamente do desempenho de quem representou aquele processo. A pressão é grande, até porque, em muitos casos, a remuneração está associada à vitória da causa. Para finalizar, eu gostaria de pedir aos autores de novelas, séries e filmes que pensem sobre a importância de levar essa questão à visibilidade da telas. Poucas cenas já seriam de grande valia para a conscientização de todos.
Para finalizar, depois do ponto final, passarei um novo café no coador de pano rsrsr. Obrigado por sua atenção e até a próxima.