É possível prever o preço do bitcoin?

Muito se vê no noticiário a afirmação de que determinado estudo ou analista encontrou um modelo capaz de prever o preço do bitcoin, e a pergunta que se busca esclarecer é a seguinte: é realmente possível realizar essa previsão?

Por mais que estudiosos e analistas se aventurem na missão de prever o preço do bitcoin, até agora não há qualquer evidência de que um método seja realmente eficaz na realização dessa tarefa.

Tal limitação está relacionada principalmente a uma questão lógica, matemática e probabilística, qual seja: a dificuldade de se montar uma função matemática composta por inúmeras variáveis instáveis e que eventualmente possam depender de outras variáveis igualmente instáveis.

Para esclarecer essa situação, utilizaremos um exemplo prático e didático. Imaginemos que um cientista esteja interessado em saber o que acontece com o volume de uma determinada quantidade água, quando ela é submetida a temperaturas diversas.

Nesse estudo, ao realizar inúmeras experiências em laboratório, o cientista observou que o volume da água tende a aumentar conforme se aumenta a temperatura. Dessa forma, repetindo o processo reiteradas vezes, o pesquisador elaborou a seguinte tabela:

A partir desse estudo, considerando que todas as condições se mantém constantes, o cientista elaborou a seguinte função: V = T. Ou seja, no estudo em questão, o volume é igual à temperatura, de modo que, uma vez sabendo a temperatura, não será mais necessário realizar o experimento para se obter o volume, pois poderá se utilizar a função preestabelecida.

Quando se trata de prever o que irá acontecer com um determinado ativo, ou uma moeda digital, a tarefa se assemelha, portanto, o analista tentará elaborar uma função ou equação a que o comportamento do ativo ou moeda obedeça.

Ocorre que, como é de conhecimento amplo, o bitcoin, por exemplo tem seu preço afetado por diversas variáveis, que por sua vez podem ser afetadas por outras variáveis.

Imagine que no exemplo utilizado, o cientista passe a realizar os experimentos em condições absolutamente distintas, ou seja, em um primeiro momento submete a água a uma pressão, em outro momento a outra pressão, e por fim, utiliza uma amostra contaminada, que além de água, possuía certa quantidade de sal.

É de se esperar que a função obtida anteriormente não venha a ter a mesma precisão nos casos em que as condições são variáveis, de modo que prever o volume de uma amostra contaminada será mais difícil, ou mesmo impossível a depender das condições.

Esse é exatamente o fenômeno que se observa nas tentativas de previsão do preço do bitcoin: o valor da moeda digital está condiciona a uma série de variáveis de igual dificuldade de previsão.

Dessa forma, ainda que se obtenha uma função matemática complexa, utilizando-se inclusive de força computacional e métodos estatísticos e de probabilidade para o seu desenvolvimento, sua validade ou eficiência certamente serão reduzidas, uma vez que as variáveis que a compõem são em sua maioria imprevisíveis.

Isso faz com que seja necessário se realizar a previsão da previsão, o que diminui sobremaneira a precisão do modelo.

Imaginemos novamente uma situação hipotética, em que determinado analista chegou à conclusão de que o preço do bitcoin é afetado por quatro fatores, sejam eles: preço do dólar, política monetária, movimento de baleias e situação jurídica das moedas.

Nitidamente a execução prática dessa função enfrentará grandes dificuldades, visto que os fatores que determinam o preço do bitcoin já são por sua natureza, ou pelo menos até o momento, imprevisíveis.

É certo que existem informações, fundamentos, comportamentos e situações que nos ajudam a ter uma visão de uma tendência daquilo que poderá acontecer, no entanto, afirmar que é possível prever de forma precisa e convicta o comportamento de uma moeda digital volátil não nos parece razoável.

Ressalta-se que o presente artigo não tem o intuito de descredibilizar o bitcoin ou qualquer outra moeda digital, muito pelo contrário, o que se busca de fato é evidenciar sua natureza volátil e imprevisível, evitando-se dessa forma a propagação de informações e promessas impraticáveis.

Inúmeras são as análises que contribuem para o entendimento das moedas digitais, sejam elas fundamentalistas, gráficas, de modelos matemáticos, probabilísticos, entre outros.

Apesar da existência desse aparato, é importante ressaltar que a aplicação de modelos que visem à padronização do comportamento do bitcoin, via de regra, apresentam complexidade substancial, sendo necessário a utilização de força computacional e softwares avançados para a sua realização.

Dessa forma, infelizmente, caso seja alcançado algum método eficiente de previsão do preço do bitcoin, certamente esse trabalho não poderá ser realizado dentro de nossas casas, no uso de nossos computadores particulares, restringindo-se, portanto, esse privilégio àqueles que possuem não somente a capacidade intelectual, mas, sobretudo a força tecnológica demandada.

Vítor Kozlovwsky
Advogado. Sócio do escritório Kozlovwsky Advogados. Pós-graduando (MBA) em Finanças, Investimento e Risco pela Fundação Getúlio Vargas.