Migalhas de Peso

Inépcia, incompetência e descaso

A causa da tragédia não foi só a chuva; passa, e muito, pela inépcia, incompetência e descaso desses sucessivos governos escabrosos que assolaram nosso Estado.

22/2/2022

(Imagem: Arte Migalhas)

Choveu no dilúvio bíblico durante quarenta dias e quarenta noites; na Macondo de Gabriel Garcia Marques, foram quatro anos, onze meses e dois dias; em Petrópolis, bastaram três horas para produzir o devastador efeito que presenciamos.

Foram três horas que durarão anos de sofrimento, luta, desilusões e saudades eternas.

Foram três horas de demonstração de força da natureza e de descaso de governantes despreparados, corruptos e oportunistas. Foram três horas de dura constatação de como estamos abandonados à própria sorte.

Vivemos uma era de trevas, é verdade, mas o que fazer nos próximos três anos?

Em primeiro lugar, buscarmos nosso espirito de fraternidade, solidariedade e empatia, vilipendiado, humilhado, zumbado e deixado para trás nos últimos três anos.

Em segundo, trabalhar muito para reconstruir uma cidade devastada física e moralmente. Cobrar soluções e não paliativos.

Ter a altivez necessária para não se contentar com afagos e migalhas.

A tragédia humana que se abateu sobre Petrópolis já havia assolado a Região Serrana do nosso Estado em 2011.

O que foi feito de lá pra cá? O que cobramos? Como fiscalizamos?

O atual governo do Estado do Rio de Janeiro gastou apenas 22% da verba orçamentária de R$ 711 milhões destinada à prevenção de tragédias desse tipo.

Suas prioridades eram outras, menos voltadas para a população, certamente.

A causa da tragédia não foi só a chuva; passa, e muito, pela inépcia, incompetência e descaso desses sucessivos governos escabrosos que assolaram nosso Estado.

Está na hora de uma atitude mais ativa e uma responsabilização direta, em todas as esferas, a quem tem culpa, por ação ou omissão, nessas tragédias.

Marcos Luiz Souza
Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)

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