Qual seria a relação da vacinação com o sucesso de bilheteria “O Resgate do Soldado Ryan”?
Bom, vamos lá. No filmaço dirigido por Steven Spielberg, o capitão John Miller (Tom Hanks), acompanhado de sete homens, se embrenham pelo território dominado pelo inimigo para salvar a vida de um único soldado, até então desconhecido por todos.
Oito vidas em risco para salvar apenas uma? Era a pergunta que alguns dos soldados convocados para a missão chegaram a se fazer. Eis que a célebre frase de John Miller ecoou entre os recrutados:
“I don't care. Man means nothin' to me. It's just a name. But if -- you know -- if going to Ramel and finding him so he can go home, if that earns me the right to get back to my wife -- well, then, then that's my mission.”
“Eu não me importo. O homem não significa nada para mim. É apenas um nome. Mas se - você sabe - se for a Ramel e encontrá-lo para que ele possa ir para casa, se isso me dá o direito de voltar para minha esposa - bem, então essa é minha missão.” (tradução livre)
Note que no início da busca, até se conhecer o empático James Francis Ryan – único de quatros irmãos que não sucumbiu à guerra, o aceite à perigosa missão não era motivado propriamente por uma atitude altruísta nem pelo capitão da esquadra, que “topou” a jornada muito mais pela possibilidade de poder voltar são para casa e abraçar sua amada esposa, do que de propriamente salvar aquele desconhecido homem.
Após encontrar o soldado, aí sim, a percepção de que aquela vida realmente importava “contagiou” (temos que ter cuidado em usar esse termo) o capitão e os demais integrantes daquela pequena tropa.
O que queremos dizer com isso? Você não precisa ter um nível exacerbado de altruísmo para poder colaborar e salvar um número indeterminado de desconhecidos que provavelmente continuarão anônimos por toda a sua vida.
E mais: mesmo numa perspectiva egocentrista, é interessante a todos o extermínio e/ou controle da infecção pelo vírus. Reserve-se a pensar que, ao se vacinar, você estará aumentando as chances de abraçar seus entes queridos por mais tempo, ou pelo menos não estará contribuindo com o inimigo.
E o ônus para enfrentar esse chamado é muito menor do que o enfrentado pelo Capitão Miller e seus liderados: ao invés de empunhar fuzis e avançar sobre campos minados, bastará que você e seus filhos, no conforto de suas casas, se utilizem do “escudo” fornecido e aprovado pelo seu exército. Nada mais!
“Ah, mas esse escudo também pode me matar!” Se você for ao Dr. Google, verá que há casos de morte relacionados ao impacto do air bag no corpo dos ocupantes do veículo, e desconheço pessoas pedindo que o acessório seja retirado de seus carros por isso. Não podemos ter olhar para as exceções, e sim para a regra geral do air bag: salvar vidas.
Com a vacina é a mesma coisa: retirando as teses conspiratórias, com as quais é impossível argumentar, podemos concordar que as vacinas foram criadas com o objetivo de imunizar as pessoas? Claro que sim. Podemos dizer que foram criadas em tempo recorde e que isso traz algum nível de risco? Claro que sim. Podemos dizer que o avanço da vacinação é inversamente proporcional ao número de óbitos? Desta vez são os números que respondem afirmativamente.
A conclusão a que chegamos é que a vida nada mais é senão uma sucessão sistemática e recorrente de riscos – do nascimento à morte. Nascer é um (baita!) risco. Alimentar-se é um risco. Respirar é um risco. E vacinar-se, sim, é um risco. Dos maiores aos menores, o risco é que o que nos mantém vivos. E sua ausência só encontra um significado na literatura médica: de que a pessoa não está mais entre nós.
Por qual razão o filme foi tão aclamado? Porque quanto maior o risco, maior o fascínio, a empatia, o sentimento de pertencimento e de coragem.
Pense em como você gostaria de ser lembrado no futuro pelos seus filhos e netos: como aquele que se juntou ao recrutamento histórico para salvar os desconhecidos Ryans, Antônios, Marias, ou aquele que ficou com a frase “meu corpo, minhas regras”?
Lembre-se: nada no mundo é 100% seguro, a não ser a morte. E se colocarmos lado a lado a letalidade do vírus e da vacina para adultos e crianças, tenho convicção intelectual suficiente a concluir que a primeira opção vencerá. Lutemos, pois, “Até o último homem”, para não fugir da analogia aos clássicos de guerra do cinema.
O convite é para que você faça parte do maior pacto social que nossa geração irá experimentar: a chance de, ao se vacinar, e ao vacinar seus filhos, estar colaborando com a saúde de sua família, ou ao menos não comprometendo a de outras pessoas. Afinal, salvar um soldado nesta guerra é salvar a si mesmo.
Não deserte a essa missão, não conspire contra a ciência, assuma seu papel nesta guerra e salve mais um.