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Serviços jurídicos X inovações tecnológicas: evolução ou substituição?

Com o surgimento destas e de outras tecnologias no mundo jurídico, o grande diferencial competitivo das bancas estará no resultado estratégico que será entregue ao cliente.

8/6/2017

Não passamos mais um dia sem ouvir falar sobre o impacto das novas tecnologias em nossas vidas, carreiras e profissões.

No mundo jurídico não é diferente; se propagam informações de que as novas tecnologias, cada vez mais aderentes às complexidades de uma ciência humana e suas inerentes interpretações, vão mudar em definitivo a forma dos negócios jurídicos, de como os advogados prestam seus serviços e atendem seus clientes.

Tudo isto já tem acontecido e o que se vê nas soluções que borbulham pelo mundo é que estas novas tecnologias não vão substituir os advogados, mas sim elevar o nível de serviços jurídicos a patamares de qualidade e celeridade nunca antes alcançados.

Estas novas ferramentas estão trazendo aos advogados soluções como a possibilidade de realizar pesquisas jurídicas sobre um tema específico, em diversas legislações e jurisprudências nacionais, agregando o Direito Comparado, com uma pergunta simples, em linguagem natural, recebendo, em minutos, a resposta da “máquina” com os insights e informações que devem ser considerados para aquele aconselhamento jurídico específico.

E, quanto mais perguntas e pesquisas os advogados fazem, quanto mais afinam suas consultas, mais a “máquina” aprende, mais ampla fica sua pesquisa, mais correlações são realizadas e mais assertivas ficam suas respostas. Esta é a proposta, por exemplo, do Ross.

Existem, ainda, soluções que prometem entregar aos advogados e aos seus clientes maior previsibilidade nos julgamentos, como a Lex Machina.

São aplicações que cruzam uma série de dados, informações e conseguem devolver aos advogados insights organizados que indicam riscos de perdas e ganhos da ação sobre aquele assunto específico, considerando o entendimento daquele tribunal, do julgador, os entendimentos jurisprudenciais, a estratégia comumente adotada pela parte contrária, estabelece faixas de risco de ganhos e perdas, etc.

Estas soluções prometem promover uma qualificação da análise prévia à propositura ou defesa de uma ação judicial, pois os advogados atuarão com direcionamentos claros sobre as estratégias que devem utilizar, tornando a sua atuação cada vez mais especializada e, para seus clientes, permitirá uma assertividade crescente nas contingências e riscos auferidos e/ou assumidos.

Merecem destaque também as soluções que conseguem ler documentos consultados e devolver aos advogados apontamentos que devem ser considerados, por exemplo, na revisão de um contrato, na elaboração de uma minuta e na revisão de documentos.

Uma destas soluções, o Beagle, promete aos advogados ou qualquer pessoa que pretenda analisar um contrato que, após fazer o up load da minuta na plataforma e realizada uma análise automática em segundos, receba apontamentos sobre as informações chaves e riscos para aquele negócio específico que devem ser considerados/observados na revisão e assinatura do termo.

Percebe-se que o movimento de inserção de novas tecnologias no dia a dia dos serviços jurídicos é, portanto, uma realidade sem retorno e, certamente, trará mudanças profundas neste disputado mercado.

Porém, por enquanto, o que se vê é que estas novas tecnologias não substituirão os advogados em definitivo, mas permitirão que dediquem seu limitado tempo mais para o atendimento e orientação dos seus clientes do que para longas pesquisas dos temas consultados.

Com o surgimento destas e de outras tecnologias no mundo jurídico, o grande diferencial competitivo das bancas estará no resultado estratégico que será entregue ao cliente. Os advogados terão que traçar novos caminhos e entregar mais do que ações ganhas na Justiça. Sua banca está preparada para isso?

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*Gustavo Pinhão Coelho é gerente Jurídico do Pires & Gonçalves - Advogados Associados.


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