A visita Papal ao Brasil desenha um rico e novo cenário em relação à política da fé, governabilidade e, essencialmente, ao prisma de visão da justiça social.
O clima de ebulição evidenciado no país é reflexo represado de grandes e graves injustiças que se perpetuaram ao longo de muitos anos.
A opção preferencial pelos pobres e jovens são lemas de prueba e, com seu carisma, profundo conhecimento e sentimento enraizado no discernimento das reivindicações populares, o Papa Francisco terá uma visita candente e sentirá o anúncio de uma nova era na jornada mundial da juventude.
E logo podemos concluir que os protestos se referem ao modelo de política, egoísta e nos seus próprios interesses, a uma situação extremamente de penúria da saúde, esquecida da cultura, empobrecida da educação, na qual programas sociais inconsistentes têm empurrado e coberto com cortina de fumaça a realidade do Brasil.
A fala da igreja expressa na pessoa do seu indutor, o Papa Francisco, tocará na ferida relativamente aos conflitos sociais e os tempos de rebeldia, com a presença dos jovens que não mais aceitam as propostas ridículas e distorcidas dos chamados representantes do povo.
A nossa incipiente democracia não foi capaz de aproximar a voz das ruas com as decisões do governo e, em razão disso, a injustiça social clama reformas substanciais, não apenas paliativas ou insinceras.
O único compromisso do Papa, e sempre o foi, é com a verdade, e ela é tal qual um diamante que vai cortando ponto por ponto as facetas das mazelas que se cometem em detrimento da população e do esgarçamento do tecido social.
Dias importantes se aproximam, de reflexão, de mudança, mas, sobretudo, de participação no aspecto de um novo Brasil, mais integrado e direcionado ao convívio fraterno com a população, a qual está fatigada de ser esquecida.
Os morros e as favelas ressoam e, se ficarmos calados, até as pedras gritarão, não é sem razão que hoje os protestos se transformam, a cada dia que passa, numa determinada reivindicação, num ponto que afeta a saúde, educação, transporte, enfim, na melhoria das condições de vida.
É chegado o momento de se terminar com as migalhas destinadas ao povo em geral e conferir os meios próprios e adequados para o trabalho e salário dignos, a crise monumental pela qual o Brasil atravessa é um fator atraente para a presença do Papa que, à semelhança de sua participação ativa na comunidade Argentina, terá bastante subsídio para fazer seu pronunciamento em prol da paz.
E essa paz hoje tão ausente é do que ressente a sociedade, na elevada e brutal criminalidade, na irracionalidade do sistema de segurança, e nos desperdícios públicos no ralo comum da corrupção.
Levanta-se a voz do Pontífice, que é um marco histórico em favor da Justiça social, a qual hospeda a verdade, a ferramenta da ética e da moral, em qualquer governo que se diz direcionado à solução dos problemas maiores da sociedade.
Um rasgo de modernidade do Papa, arauto da paz, defensor dos mais humildes, lado a lado com a juventude que não pode viver de sonhos e desesperanças, tudo isso será alvo incomum da jornada mundial da juventude, aglutinando milhões de pessoas vindas do mundo inteiro para aumentar sua fé, ouvir a palavra de Francisco, mas, fundamentalmente, estar antenada com a boa nova que nos alimenta e nos torna livres do pecado maior dos tempos, que é a falta de fraternidade em busca do apoio solidário aos mais carentes.
Que a presença do Papa no Brasil seja um recomeço positivo da luta iniciada na transposição das injustiças, no afã dos direitos sociais da população e de uma paz perene.
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* Carlos Henrique Abrão é desembargador do TJ/SP.