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Cartas da Europa - Entrevista com embaixador Paulo Cesar de Oliveira Campos

A filial européia de Felsberg, Pedretti, Mannrich e Aidar - Advogados e Consultores Legais, Felsberg & Partners Europe LLP, situada na Alemanha, divulgou a 2ª edição de "Cartas da Europa", newsletter com notícias econômicas e jurídicas. Hoje trazemos na íntegra para os migalheiros a entrevista com o embaixador Paulo Cesar de Oliveira Campos.

Da Redação

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Atualizado em 21 de agosto de 2009 11:32


Cartas da Europa

Entrevista com embaixador Paulo Cesar de Oliveira Campos

A filial européia de Felsberg, Pedretti, Mannrich e Aidar - Advogados e Consultores Legais, Felsberg & Partners Europe LLP, situada na Alemanha, divulgou a 2ª edição de "Cartas da Europa", newsletter com notícias econômicas e jurídicas. Hoje trazemos na íntegra para os migalheiros a entrevista com o embaixador Paulo Cesar de Oliveira Campos.

  • Confira logo abaixo.

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VOZES DA POLÍTICA E ECONOMIA

Entrevista com embaixador Paulo Cesar de Oliveira Campos

O Embaixador Paulo Cesar de Oliveira Campos já representou o Brasil, em diferentes estágios de sua trajetória profissional, em Washington, Tóquio (duas vezes), Bonn e Londres.

Há quatro meses chefiando a Embaixada do Brasil em Madri, ele proporciona ao leitor nesta entrevista exclusiva uma visão geral da relação política e econômica entre o Brasil e Espanha mencionando inclusive os setores da economia espanhola que, em sua opinião, constituem uma oportunidade para o investidor brasileiro.

Quais foram suas primeiras impressões ao assumir a função de Embaixador em Madri?

A impressão forçosa é do elevado nível das relações entre os dois países, a qualidade do diálogo e a intensidade dos contatos. No entanto, percebe-se que, se muito está sendo feito, as circunstâncias indicam novos rumos, novas parcerias, novo ritmo dos intercâmbios entre Brasil e Espanha.

Atualmente o Brasil é o segundo país onde a Espanha mais investe, perdendo apenas para os EUA. Por que ainda é difícil ver um fenômeno semelhante no caminho inverso, ou seja, uma maior presença de empresas e investimentos brasileiros na Espanha?

Os capitais espanhóis aportaram no Brasil em um momento de abertura de nosso mercado e de expansão da economia mundial. Agora, nossa economia mostra, mesmo em um momento de crise mundial, sinais de vitalidade e possibilidades concretas de expansão. Esperamos, portanto, novo impulso nos investimentos espanhóis no Brasil.

No sentindo inverso, a própria dimensão crescente do mercado brasileiro modifica a equação que leva à internacionalização de nossas empresas. E temos que ter presente que o mercado espanhol é mais maduro, com menores expectativas de expansão. Ainda assim, já temos vários investimentos brasileiros importantes na Espanha, nos setores têxtil e siderúrgico. Há espaço para a chegada de novas empresas. Eu acredito, sobretudo, nas oportunidades que podem ser criadas por parcerias entre firmas brasileiras e espanholas.

A Embaixada mantém alguma estimativa a respeito do número de empresas brasileiras com sede na Espanha?

Sim, procuramos acompanhar de perto. Mas nem sempre é possível identificar todas. Em alguns casos, dependemos muito da boa vontade da empresa em contatar-nos. Pelas nossas contas, há cerca de 15 empresas, de dimensões distintas. Desde multinacionais como a Gerdau até empresas familiares. Mas podem existir mais, a respeito das quais ainda não dispomos de informação.

Em que setores o investidor brasileiro mais se destaca na economia espanhola? Há algum setor promissor que deveria receber uma maior atenção por parte do empresário brasileiro?

Como mencionei anteriormente, os maiores montantes de investimento brasileiro na Espanha estão hoje no setor siderúrgico - depois da compra da Sidenor pela Gerdau em 2005 - e no setor têxtil - por conta da fusão entre a brasileira Santista e a espanhola Tavex, que deu origem à maior produtora mundial de denim. Há espaço em setores em que somos muito competitivos e nos quais estamos ausentes ou com presença ainda discreta, como autopeças, móveis, vestuário e calçados.

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas pelo investidor brasileiro na entrada no mercado espanhol? E quais seriam as recomendações para uma empreitada ser bem sucedida neste mercado?

Uma dificuldade enfrentada pelo empresário brasileiro para atuar no mercado espanhol se refere às exigências para obtenção de visto de residência para o investidor, executivos e suas famílias. Este é um processo muito mais complicado do que os trâmites para abertura de uma empresa. Ao mesmo tempo, o visto de residência é uma condição imprescindível para a efetivação do investimento, especialmente no caso de pequenas e médias empresas.

O governo espanhol possui entidades que se dediquem a atrair ou dar suporte ao investidor brasileiro?

O governo espanhol dispõe de uma agência de promoção de investimentos diretos estrangeiros para a Espanha, que tem escritórios em Brasília e em São Paulo. Além disso, cada uma das Comunidades Autônomas também conta com sua própria entidade de atração de investimentos, que funciona de maneira articulada com a "Invest in Spain", na implementação de políticas de promoção de investimento e apoio ao investidor.

Em 2003 o Brasil e a Espanha firmaram um plano de parceria estratégica para intensificar as relações bilaterais. Quais iniciativas prevê o plano de parceria estratégica? Após seis anos, é possível identificar os benefícios concretos alcançados?

Os benefícios desse tipo de aproximação nem sempre são quantificáveis. A parceria estratégica forneceu um marco, uma estrutura para aumentar a cooperação bilateral e triangular, o diálogo político, o diálogo sobre temas econômicos e comerciais, os intercâmbios nos setores cultural, educacional, tecnológico e de defesa. Nos três meses que estou à frente da Embaixada, já recebi diversas missões brasileiras. Missões que vieram a Madri e a outras cidades espanholas para avançar nas mais diferentes áreas, desde cooperação judiciária e institucional, até cooperação no combate à violência contra a mulher, passando pela cooperação entre universidades em matéria de energias renováveis.

Quais semelhanças e diferenças V.S.a identifica ao analisar a cultura e o comportamento de brasileiros e espanhóis?

Os dois países se caracterizam pela diversidade e, por isso, por uma fácil aceitação do que lhe é diferente. Esse aspecto nos aproxima e gera uma natural simpatia entre os dois povos. As diferenças decorrem exatamente dessa diversidade que nos caracteriza.

Em sua opinião, a crise econômica mundial tem afetado de forma significativa as relações comerciais entre Brasil e Espanha? Em caso afirmativo, de que forma?

Nos primeiros seis meses de 2009, a corrente de comércio entre os dois países teve uma queda de aproximadamente 30%. Para essa redução, contribuiu mais a diminuição das compras de produtos brasileiros pela Espanha (-34%) do que as compras brasileiras de produtos espanhóis (-22%), o que, de certa forma, revela o impacto negativo mais forte da crise econômica sobre o setor produtivo espanhol que sobre o brasileiro. De qualquer maneira, é preciso ponderar que 2008 foi o melhor ano para o comércio entre Brasil e Espanha na história da relação entre os dois países e que, portanto, a referência de comparação é bastante elevada. O fato é que a aproximação comercial entre Brasil e Espanha, nos últimos anos, foi inegável. A intensidade da corrente de comércio certa-mente será retomada tão logo melhorem as condições da economia mundial.

Para promover o PAC e atrair investimentos estrangeiros foi realizado em novembro de 2008 um Roadshow nos EUA e nas principais capitais/ cidades européias entre elas, Madri. O Brasil poderá contar com a participação espanhola neste projeto? Em que setor(es)?

O roadshow realizado em Madri, no ano passado, foi realmente um êxito. Contou com 200 participantes, entre os quais representantes de vinte das trinta e cinco empresas que compõem o principal índice bursátil da Espanha (Ibex-35). Isso revela o interesse expressivo das empresas espanholas nos projetos do PAC e no Brasil como um destino estratégico de investimentos no exterior. Frente às oportunidades oferecidas pelo mercado brasileiro e ao bem-sucedido histórico das inversões espanholas no País, a nossa expectativa é contar com uma participação significativa de empresas daqui no financiamento e execução de diversos projetos do PAC, sobretudo nos setores de infra-estruturas ferroviária e rodoviária. Também o setor imobiliário no Brasil apresenta uma grande oportunidade de captação de investimentos espanhóis, pela combinação de potencial de crescimento da demanda brasileira por construções residenciais e a saturação do setor na Espanha. E há vários outros setores nos quais as empresas espanholas são competitivas e nos quais podem ter participação importante.

Em 2007/2008 as relações entre Brasil e Espanha foram estremecidas por vários episódios em que brasileiros tiveram sua entrada em território espanhol denegada, aparentemente sem uma forte motivação. O Brasil reagiu à altura, intensificando o controle da entrada de espanhóis no Brasil e repatriando aqueles que apresentavam uma documentação insuficiente. Pode-se dizer que este episódio foi completamente superado? Ainda que superado, poderia esse fato ter deixado consequências ou sequelas nas relações diplomáticas entre Brasil e Espanha?

Sim. O episódio está totalmente superado, o que não quer dizer que não voltem a ocorrer casos isolados de impedimento de entrada em um ou no outro País. O episódio comprovou a validade e a eficácia da parceira estratégica, que permitiu um diálogo produtivo entre as autoridades dos dois países que culminou com a rápida superação do episódio.

Em sua opinião, que significado tem Brasil e Europa um para o outro? Como e em que direção V.S.a crê que as relações entre nosso país e o continente europeu irão se desenvolver na próxima década?

A Europa significa uma das matrizes culturais de meu País. Sua importância sempre estará presente em nossa sociedade. O intercâmbio entre a Europa e o Brasil tende sempre a se expandir. O Brasil é uma das janelas de oportunidade para o crescimento dos investimentos europeus no exterior. A vitalidade de nosso País é um atrativo aos capitais e à tecnologia europeus.

Quais desafios V.S.a crê que encontrará pela frente e quais são suas expectativas como Embaixador do Brasil em Madri?

O desafio à frente desta Embaixada é aproveitar a diversidade da Espanha como pólo econômico, cultural e tecnológico. É estabelecer relações mais diversificadas com os Governos autônomos e abrir novas áreas e novos campos de intercâmbio, sem abrir mão de intensificar os caminhos já abertos de diálogo e cooperação com o Governo central.

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