O caso do rabo da vaca
Vaca invade a rodovia, é atropelada e perde o rabo. Ao contrário do que se imagina, foi o motorista quem acabou processado.
Da Redação
sexta-feira, 31 de julho de 2009
Atualizado em 15 de julho de 2022 10:55
Antes de qualquer coisa, leitor, saiba que a história é verdadeira.
O ano é o de 1988. O local, o km 11 da rodovia Engenheiro Ronan Rocha, no nordeste do Estado de São Paulo. A suposta ilicitude : ter atropelado uma vaca.
Mas, diga-se desde já, não era uma vaca qualquer. Era a "Pérola das Candeias", um animal de nobre estirpe, filha do "Lucky das 3 Colinas" e da "Preciosa do Ypê", cuja família pertencia ao Rank Nacional de Gado Jersey.
A árvore genealógica qualificava o animal como de um alto valor comercial. Aliás, nem é correto dizer "animal" para alguém assim, de tão nobre sangue.
Segundo seu proprietário, o preço de venda era, na época, da ordem de Cz $ 500 mil (quinhentos mil cruzados).
Isto é, até que a bichinha fosse atropelada. Foi por isso, por este motivo que o dono entrou com processo na comarca de Patrocínio Paulista (nº 304/88).
Na petição inicial, o dono da vaca provou que os médicos, veterinários (é claro), constataram uma fratura no apêndice caudal da vaca. Apêndice caudal, para quem não entendeu, é também conhecido como o velho e bom rabo.
E, diante da fratura, ela perdeu seu movimento de abano natural. Sem esse imprescindível instrumento de defesa, as moscas passaram a agredir a vaca, implantando famigerados (e nojentos) bernes em sua parte traseira.
Em decorrência disso, a vaca precisou receber constantes pulverizações e ser mantida em estábulo fechado. Pior ainda, não pôde mais desfilar sua beleza nas exposições, pois nenhum comprador iria adquiri-la.
Ela passou a servir, então, apenas como animal reprodutor.
Tal fato, de acordo com o dono, causou-lhe prejuízo na ordem de 50%. Dessa forma, requeria a condenação do atropelador no valor de Cz $ 250 mil (duzentos e cinquenta mil cruzados).
Mas vejamos, agora, o que motivou o acidente que levou a óbito o rabo da vaca.
O réu ia tranquilamente na estrada, à noite. No meio do caminho, numa estrada com pouca sinalização, deu de cara com a vaca, atingindo-a, principalmente na traseira.
O argumento do fazendeiro - dono da vaca - era de que houve "inabilidade, imperícia e imprudência do réu".
Ele confessa que a vaca escapara do redil. Segundo ele, tal se deu por culpa das obras executadas pelo DER que, ao desviar a água que atravessava a pista em vários pontos para uma só passagem, provocou forte erosão debaixo da cerca, o que permitiu a escapulida fatal (para o rabo).
O réu, ainda de acordo com o autor, ao sair do trevo que dá acesso a Itirapuã em direção a Patrocínio Paulista, teria sido insistentemente avisado por conduções que vinham em sentido oposto, com buzina e faróis, sobre a existência de animal na pista.
Além disso, observa o autor, a quadrúpede, de cor clara, podia facilmente ser vista à distância devido ao contraste que fazia com o escuro do asfalto.
A colisão, segundo ele, podia ter sido evitada.
Trocando em migalhas, a vaca atravessou a cerca, foi parar na estrada, à noite, e um coitado abalroou o animal. A vítima, no caso (pelo menos na lógica do pedido), era o fazendeiro e sua vaquinha.
Além dos duzentos e cinquenta mil cruzados, o dono da vaca requereu do reú juros e correção monetária, os honorários advocatícios e as custas processuais.
Pelo rabo, queria quase a vaca toda.
Nem é preciso dizer o resultado do feito : a vaca foi para o brejo.