Ex-Diretor Financeiro da Sadia quer processar empresa por danos morais
O processo aberto pela Sadia contra seu ex-diretor financeiro, Adriano de Lima Ferreira, estampou a página dos principais jornais de SP, nos últimos dois dias, 8 e 9/4. "Surpreso" com as acusações, Adriano Ferreira pensa em processar a Sadia por danos morais.
Da Redação
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Atualizado às 08:51
Ação e reação
Ex-diretor financeiro da Sadia quer processar empresa por danos morais
O processo aberto pela Sadia contra seu ex-diretor financeiro, Adriano de Lima Ferreira, estampou a página dos principais jornais de SP, nos últimos dois dias, 8 e 9/4.
"Surpreso" com as acusações, Adriano Ferreira pensa em processar a Sadia por danos morais. Em sua defesa estarão os advogados Massami Uyeda Junior, do escritório Arap, Nishi e Uyeda Advogados, Edgard Silveira Bueno Filho e Tiago Ravazzi Ambrizzi, de Lima Gonçalves, Jambor, Rotenberg & Silveira Bueno Advogados, e de Carmen Sylvia Parkison.
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Confira abaixo a repercussão do caso nos jornais paulistas, em ordem cronológica :
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O Estado de S.Paulo, 8 de abril de 2009
Ex-diretor se diz ''surpreso'' com processo da Sadia
Adriano Ferreira afirma que o conselho da empresa tinha conhecimento das operações com derivativos
Um dia depois de os acionistas da Sadia decidirem abrir um processo contra o ex-diretor financeiro Adriano Lima Ferreira, por perdas bilionárias com operações de derivativos cambiais, o executivo divulgou uma carta aberta em que se diz "surpreso" com a decisão.
O ex-diretor classificou a cultura financeira da companhia como "atípica", e disse que a decisão de processá-lo "é uma clara tentativa de isentar os demais administradores da Sadia, que geriram a companhia junto comigo e que compartilharam as mesmas decisões e as consequências positivas delas". Ele declara que, durante todo os seus anos de Sadia, trabalhou "enquadrado nos parâmetros de riscos aceitos por ela". "Cumpri com rigor a prestação de contas com a Sadia, me reportando diretamente ao presidente do Conselho de Administração, apresentando relatórios mensais e praticando todos os atos que me eram atribuídos."
Ferreira conta que operações de derivativos cambiais sempre fizeram parte das "práticas comerciais e financeiras" da Sadia e que, nos últimos seis anos, foram responsáveis por 60% do lucro da companhia. Os mesmos derivativos que provocaram um prejuízo de R$ 2,5 bilhões à Sadia no ano passado, renderam, no primeiro semestre de 2008, segundo Ferreira, o correspondente a 80% do lucro apurado pela companhia. Ele diz ainda que as mesmas operações de derivativos foram realizadas em 2007, "ano em que a Sadia apurou um resultado excepcional e que todas essas operações constavam do seus demonstrativos financeiros".
VOCAÇÃO FINANCEIRA
Ferreira afirma também em sua carta que, além da vocação agroindustrial, a Sadia também possui uma "vocação financeira com atividades equivalentes e até mesmo superiores". Essas atividades financeiras são conduzidas, segundo ele, "na própria Sadia, na Concórdia Corretora de Valores, há 21 anos em operação, e, mais recentemente, em 2007, na criação da holding financeira e do banco múltiplo, com rentabilidades de extrema relevância nos lucros da organização."
Ferreira diz ainda que sua missão ao ser contratado pela Sadia em 2002 era justamente "coordenar a gestão da liquidez e proteger o patrimônio da Sadia por meio de operações de hedge". "Função que cumpri com excelência, adaptando-me às atipicidades da cultura financeira da organização e otimizando-a de forma significativa ao aprimorar controles e processos, sendo responsável inclusive pela criação da área de gestão de riscos."
Ferreira questiona ainda as conclusões do relatório elaborado pela BDO Trevisan, empresa de auditoria contratada pela Sadia para apurar as responsabilidades no caso. De acordo com a própria Sadia, o relatório indica que Ferreira agiu sem informar ao Conselho de Administração. Ferreira conta que tentou obter o relatório, mas teve o acesso negado pela companhia.
Entretanto, pelos relatos das conclusões do relatório divulgados pela imprensa, ele acredita ter havido, "provavelmente", "erros conceituais". " É importante lembrar que, para eventuais cálculos do relatório serem legítimos, deve ser levado em consideração o cenário macroeconômico e os melhores prognósticos disponíveis na data em que as operações foram fechadas, e não seu valor final", diz ele. "Surpreende-me o relatório considerar apenas o ano de 2008, ou seja, a história muito recente da companhia."
Ferreira sugere também que a forma com que a empresa administrou os contratos de derivativos após sua saída pode ter elevado as perdas. "Sobre as perdas, informo ainda que no momento de minha saída o montante era bem inferior ao divulgado. Desconheço as medidas e decisões tomadas, bem como seus impactos financeiros, subsequentes à minha demissão da Sadia." Procurada, a Sadia disse que não iria se pronunciar sobre o assunto.
FRASES
Adriano Lima Ferreira
Ex-diretor financeiro da Sadia
"Surpreende-me o relatório considerar apenas o ano de 2008, ou seja, a história muito recente da companhia"
"No momento da minha saída, o montante (de perdas) era bem inferior ao divulgado. Desconheço as medidas e decisões tomadas (...) subsequentes à minha demissão"
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O Estado de S.Paulo, 9 de abril de 2009
Ex-diretor quer processar Sadia por danos morais
O ex-diretor financeiro da Sadia Adriano Ferreira, reiterou ontem que o Conselho de Administração da companhia sempre esteve ciente de todas as operações financeiras que eram realizadas na empresa. A auditoria da BDO Trevisan, no entanto, indicou que Ferreira agiu sem informar ao Conselho, o que culminou na aprovação, pelos acionistas, da abertura de ação de responsabilidade contra ele. Questionado sobre como pretende provar que não é o único responsável pelas perdas, Ferreira respondeu: "É só ir lá e fazer a due diligence. Está tudo lá, auditado, registrado, contabilizado no balanço."
O executivo se disse surpreso com o fato de o relatório da BDO Trevisan considerar apenas o ano de 2008 para concluir os seus trabalhos. Em nota, a Sadia disse que "a BDO Trevisan analisou as operações mais relevantes com total independência, dentro do período determinado pela assembleia". A Sadia ainda ressalta que as perdas foram auditadas e descritas em informação trimestral, base 30 de setembro de 2008, e em seu balanço anual publicado. "A partir de agora, a Sadia contratará escritório de advocacia especializado, como determinado pela assembleia, e só se pronunciará em juízo", finaliza a nota.
"Quando você está ganhando, está todo mundo com você. Na hora que o barco começa a afundar, aí é cada um por si", desabafou o executivo de 39 anos de idade, que classificou como "péssimas" as perspectivas para a sua carreira daqui para frente. Ele estuda até a possibilidade de abrir um processo por danos morais contra a Sadia. "Foi causado um dano muito grande à minha imagem, irreparável. Não vai ser fácil voltar para o mercado."
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Folha de S.Paulo, 9 de abril de 2009
"A Sadia sabia de tudo", afirma ex-diretor
Segundo Ferreira, operações que resultaram em perdas eram aprovadas, controladas e auditadas em várias instâncias.
Executivo afirma que soube da demissão pela mídia, que suas chances de recolocação são zero e deve processar a empresa por danos morais.
Os acionistas da Sadia decidiram, nesta semana, processar o ex-diretor financeiro Adriano Ferreira pelas perdas da fabricante de alimentos no ano passado. A Sadia teve prejuízo de R$ 2,5 bilhões em 2008, causado basicamente por operações de derivativos cambiais tóxicos. Esse tipo de instrumento financeiro tem perdas ilimitadas no caso de alta do dólar, como aconteceu após setembro.
Ferreira, 39 anos, diz que, maior do que qualquer prejuízo material, o dano moral causado pela Sadia a ele foi gigantesco.
Ele afirma que a empresa sabia, em várias instâncias, de todas as operações e que houve anos nos quais o lucro só foi garantido por operações financeiras. Para ele, a decisão de processá-lo foi tomada para isentar outros gestores da companhia.
Ferreira diz que, provavelmente, processará a Sadia por danos morais, como afirma a seguir.
FOLHA - A Sadia sabia das operações com derivativos?
ADRIANO FERREIRA - A companhia tem um "modus operandi" financeiro muito diferente de uma empresa não financeira. Ela sempre teve vocação financeira, até porque tem uma corretora de valores e uma tesouraria típica. Eu as melhorei e implementei controles, como a área de gestão de riscos. Ao longo dos seis anos nos quais estive lá, todas as operações financeiras, como as de derivativos, eram comuns.
FOLHA - As de derivativos tóxicos também?
FERREIRA - As operações dois para um começaram em meados de 2007. A empresa ficou mais de um ano fazendo essas operações, que tiveram várias auditorias. Quando se fechava uma operação desse tipo, a boleta ia para nossos operadores, para a contabilidade e à controladoria da companhia, que era separada da área financeira. Ia também para a auditoria interna e para o conselho de administração. Pela atipicidade da cultura financeira da empresa, a auditoria independente, a KPMG, tinha uma equipe financeira destacada para auditar a área financeira da Sadia.
FOLHA - Não era uma auditoria de empresa não financeira?
FERREIRA - Havia uma auditoria principal para a área de alimentos, que buscava apoio numa equipe de auditores de bancos, corretoras e instituições financeiras, porque a Sadia tinha uma cultura financeira forte, operava todos os instrumentos disponíveis no mercado. As operações, sejam derivativos ou não, sempre foram contabilizadas, auditadas e aprovadas em várias instâncias. Havia alçadas rigorosamente atendidas e relatórios mensais.
FOLHA - Eles eram detalhados?
FERREIRA - Não havia o nível de detalhamento [de todas as operações] porque não fazia parte da cultura da companhia. Você apresentava resultados que as operações deram, a exposição dessas operações, simultaneamente com apresentações da área de risco. Em 2003, determinou-se que o limite de risco do câmbio era de 20% sobre o patrimônio, equivalente a R$ 600 milhões ou R$ 700 milhões de perda assumida. Só que havia 95% de confiança nessas operações e 5% de risco. Esse "modus operandi" era o dia a dia da companhia. Agora, de um dia para outro, dizer que não sabia dessas operações? Como não sabia? Tinha diversas auditorias e formas de controle que eram apresentados todo mês.
FOLHA - O conselho de administração e a presidência executiva sabiam das operações?
FERREIRA - As operações eram apresentadas a eles. Todas foram registradas, auditadas e aprovadas. Quando aconteceu uma crise desse tamanho, não só a Sadia, mas centenas de empresas no Brasil, no México e na Ásia, principalmente, tiveram os mesmos problemas. Quando se faziam essas operações, usavam-se como base cenários e probabilidades que, quando colocados nos modelos [econométricos], era difícil de a perda não compensar seu uso. Tanto é que centenas de empresas os utilizavam.
FOLHA - Por que a área financeira não se reportava à presidência executiva?
FERREIRA - Nos seis anos em que eu estive lá, 60% dos resultados da companhia eram de operações financeiras. Se olhar para trás, o percentual era maior. A empresa só teve lucro em alguns anos por causa da área financeira. Até o primeiro semestre de 2008, 80% dos lucros vieram dessas operações específicas. A estrutura de governança da companhia espelhava uma cultura financeira, de uma empresa que tinha uma corretora, que tinha uma tesouraria ativa, que tinha um projeto de criar um banco, que aconteceu. A companhia sempre teve um risco financeiro. A estrutura, quando o presidente-executivo assumiu, em 2004, tinha forma do reporte da diretoria financeira para o conselho [por causa dessa cultura]. Mas contabilidade, controladoria e jurídico, que aprovava as operações, estavam sob a área executiva. Se fechasse uma operação [de derivativo] hoje, no mesmo dia o boleto estava na mão dele [do presidente-executivo].
FOLHA - Qual foi a estratégia da Sadia ao decidir processá-lo sozinho?
FERREIRA - Isentar outros administradores do processo.
FOLHA - O sr. está protegido por um seguro de responsabilidade de administração?
FERREIRA - A Sadia tinha um seguro desse tipo e estou tentando usar. A apólice [das seguradoras] Chubb e Bradesco cobre custos com advogados e, numa eventualidade de eu ser condenado, paga o prejuízo até determinado teto, acho que de US$ 10 milhões. Mas há muitas exclusões na apólice e não está claro que eu vá ter cobertura. Estou muito preocupado. O prejuízo material pode ser grande, mas o moral já me foi causado de forma agressiva.
FOLHA - De quanto pode vir a ser a perda cobrada pela Sadia?
FERREIRA - Estão falando que vão me processar em US$ 2,5 bilhões! Essa é uma ação muito inócua. O maior prejuízo que aconteceu foi para mim. A minha imagem hoje é zero. Meu índice de empregabilidade está zero. Comecei a refazer contatos, falei com "headhunters" e é unânime: minha recolocação é muito difícil. Eu era a estrela em ascensão da Sadia, entrei como gerente e, no fim de 2007, além de diretor financeiro, eu recebi a diretoria de desenvolvimento corporativo, criada para cuidar de planejamento estratégico, fusões e aquisições. Também era diretor da holding financeira e cuidava do projeto do banco. Em 2006 e 2007, ganhei prêmios como melhor gestor financeiro do ano. De uma hora para outra, minha imagem vai para o buraco. Isso sim é prejuízo. Tenho 39 anos, um filho de quatro anos e gêmeas que nasceram prematuras, no olho do furacão.
FOLHA - O sr. vai processar a Sadia por danos morais?
FERREIRA - Estamos estudando, mas provavelmente sim. É tão desproporcional e descomunal a diferença de peso das coisas! Parece um tsnunami em cima de mim! Fui eu que avisei o presidente do conselho de administração das perdas na carteira de câmbio, por conta das operações alavancadas. Na véspera de divulgarem o fato relevante, trabalhei até 2h, concluindo uma operação de captação de recursos de quase R$ 800 milhões. Fui demitido pelo jornal no dia seguinte. É triste.
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