Com campanhas rasas, México inicia processo eleitoral para Suprema Corte
É o primeiro pleito para eleger membros do Judiciário, após reforma constitucional aprovada em 2024.
Da Redação
quarta-feira, 2 de abril de 2025
Atualizado às 14:19
O México deu início, no último domingo, 30, à campanha eleitoral da primeira eleição de integrantes do Judiciário no país. O pleito está marcado para 1º de junho, e conta com milhares de candidatos que disputam 881 vagas em cargos federais, e 1.749 vagas locais.
A eleição ocorre inclusive para cargos na Suprema Corte do país, que será renovada em sua totalidade, passando de 11 para 9 ministros.
Muito diferente do nível de decoro que se espera para o mais alto cargo da Justiça, o que se vê são propagandas teatrais, que se assemelham a métodos utilizados por vereadores.
Um dos candidatos à Suprema Corte é Arístides Rodrigo Guerrero Gar, que se descreve como "candidato a ministro jovem da SCJN". Em sua propaganda, ele se diz "mais preparado que um Chicharrón".
Dora Martinez Valero também é candidata à Suprema Corte. Em seu vídeo, ela derruba um "muro de processos" e diz que a Justiça vai chegar onde deveria estar: próxima do povo.
Veja outros vídeos de campanha:
¡Arrancamos campaña! ??
— Zulema Mosri (@z_mosri) March 31, 2025
Con compromiso, experiencia y visión para construir una justicia cercana y sin privilegios.
Este es el momento de hacer valer tu voto.#elecciónjudicial #poderjudicial #VoyAHacerValerTuVoto #reformajudicial pic.twitter.com/8saHSaU9VF
Reforma polêmica
A eleição ocorre após uma reforma constitucional aprovada em setembro do ano passado pelo ex-presidente, Andrés Manuel López Obrador, contrariando juízes e ministros da Suprema Corte, os quais acusava de supostos atos de corrupção.
O ponto principal do texto prevê a eleição popular de juízes e desembargadores, incluindo ministros que integram a SCJN - Suprema Corte de Justicia de la Nación.
A aprovação se deu sob protestos, em especial dos trabalhadores do Judiciário, que chegaram a fazer greve.
A atual mandatária, Claudia Sheinbaum, próxima de seu antecessor, apoiou plenamente a mudança, que promove como sendo "histórica" em seus atos.
A modificação na Carta Magna foi promovida pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador, contrariando juízes e ministros da Suprema Corte.
A maior parte dos atuais membros do Supremo mexicano, os Estados Unidos e uma relatoria da ONU alertaram que o voto popular ameaça a independência dos poderes, pois os juízes podem ser alvo de manipulações políticas ou do narcotráfico.
Dez dos candidatos teriam sido apontados pela imprensa local de suposto envolvimento com atos ilícitos ou casos de violência de gênero.
Antes da alteração, a nomeação de ministros da Suprema Corte do México era semelhante à do Brasil. Os juízes eram indicados pelo presidente e confirmados pelo Senado.
Campanha
A campanha eleitoral teve início em 30 de março e será realizada até o dia 28 de maio.
Nessas eleições, estarão em jogo metade dos cargos federais e locais, e outro pleito está previsto em 2027 para as vagas restantes.
A campanha segue um modelo próprio, pois os candidatos não terão acesso a recursos públicos nem vão dispor de espaços oficiais nos meios de comunicação para se promover, como ocorre nas eleições gerais.
Segundo as normas definidas pelas autoridades eleitorais, os candidatos terão nas redes sociais o seu principal espaço de promoção, porém a contratação de publicidade está proibida.
Os candidatos poderão participar de debates, mas estão impedidos de realizar comícios.
Todos os candidatos e candidatas habilitados são formados em Direito e tiveram que cumprir, como requisito, apresentação do histórico universitário com nota média entre oito e nove em disciplinas relacionadas ao cargo, além de um mínimo de cinco anos de experiência na prática jurídica, seja como advogados ou trabalhadores do sistema judiciário.
Modelo inédito
O modelo adotado pelo México é único. O único caso similar na América Latina é o da Bolívia, onde os magistrados das altas Cortes são eleitos por voto popular, enquanto os juízes comuns são designados por um conselho do Judiciário.