Com apoio de agentes socioeducativas, ex-interna lança livro de poesia
Projeto "Eu Leitor, Eu Escritor" promove a leitura e a escrita como ferramentas de empoderamento a adolescentes do CASE - Luziânia/GO.
Da Redação
quarta-feira, 26 de março de 2025
Atualizado às 14:02
Na terça-feira, 18, o Fórum de Luziânia/GO foi palco de um lançamento literário que rompeu os muros do sistema socioeducativo.
Aos 18 anos, Luana do Amor Divino transformou sua experiência de internação no CASE - Centro de Atendimento Socioeducativo - em poesia e esperança.
Com o apoio das agentes socioeducativas Josélia Macedo e Elcimar Salomão, o primeiro livro de Luana, "Quem diria, do CASE à poesia!", é fruto de versos escritos entre reflexões, dores e descobertas.
"Eu quis mudar bastante. Fui vendo o que podia melhorar. Aqui dentro, passa um filme do que acontece. A gente procura um meio de não se sentir tão sozinha, e escrever alivia", compartilhou a autora. A escrita, para Luana, foi abrigo. Um espaço seguro para sentimentos difíceis de verbalizar.
Ponte construída por agentes do sistema
O nascimento do livro foi possível graças ao projeto "Eu Leitor, Eu Escritor", idealizado por Josélia Macedo, agente socioeducativa, pedagoga e mestranda em políticas públicas.
Junto de Elcimar Salomão, assistente social e também agente socioeducativa, Josélia vem desenvolvendo um trabalho de escuta atenta e incentivo à expressão, mostrando que o trabalho vai além do abrir e fechar cadeados
"A poesia da Luana guarda um depósito de emoções que dialogam com o público juvenil da socioeducação", escreveu Josélia na apresentação do livro. Para ela, é preciso um olhar sensível para reconhecer os potenciais que, muitas vezes, chegam apagados pelas dores e violências que antecedem o cumprimento da medida.
Elcimar reforça a importância desse processo: "Quando um adolescente chega à unidade, buscamos conhecê-lo, entender seu histórico e criar um vínculo. Não chegamos simplesmente apresentando um projeto. É um processo gradual".
O projeto "Eu Leitor, Eu Escritor" existe há mais de seis anos no CASE de Luziânia. Além de lançar escritores, o projeto é responsável, também, pela alfabetização de adolescentes, muitos dos quais nunca tiveram acesso real à educação.
A iniciativa utiliza livros, filmes e documentários para promover reflexão e aprendizado, abordando temas diversos, como política, história, entretenimento e religião. A proposta é fazer com que a leitura e a escrita deixem de ser ferramentas de exclusão e passem a ser instrumentos de reconstrução de identidade.
Literatura que abre caminhos
Em 2022, outro adolescente lançou um livro com apoio da equipe, relatando sua trajetória de vida, marcada por abandono, tráfico e superação. O livro, intitulado "O Príncipe das Grades: Um relato de experiência na socioeducação", tem 70 páginas e foi ilustrado pelo próprio autor.
Na obra, ele compartilha relatos sobre a descoberta do verdadeiro pai quando era criança, sua relação com os patrões do tráfico e a luta contra a dependência química.
No caso de Luana, a aposta agora é no futuro: ela já pensa em um segundo livro e sonha em cursar Letras.
"A arte, para mim, é uma forma de enfrentar", resume a jovem, que virou autora.