Trump intensifica ataques ao Judiciário e intimida advogados nos EUA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem ampliado sua ofensiva contra o Judiciário e advogados que atuam em casos contrários aos interesses de seu governo. Nos últimos dias, Trump assinou uma ordem executiva proibindo o governo Federal de contratar o escritório de advocacia Perkins Coie, que representou a campanha de Hillary Clinton em 2016, além de criticar e pedir a destituição de um juiz Federal que barrou a deportação de imigrantes venezuelanos.

As medidas vêm sendo vistas como parte de uma estratégia de retaliação contra advogados e juízes que tomam decisões desfavoráveis ao governo. A ABA - American Bar Association, entidade que regula a atuação da advocacia no país, expressou preocupação com as ações da Casa Branca, alertando que elas colocam em risco a independência do sistema judicial.

Ordem contra Perkins Coie e escritórios de advocacia

A ordem executiva assinada por Trump proíbe órgãos federais de manter contratos com o Perkins Coie, alegando que a atuação do escritório teria prejudicado o governo ao representar a campanha democrata. A medida também revoga as credenciais de segurança dos advogados da firma, impedindo seu acesso a instalações federais e documentos sigilosos.

Além do Perkins Coie, outra grande banca de advocacia, a Covington & Burling, também foi alvo de retaliação no início do ano. O escritório atuou na defesa do ex-procurador especial Jack Smith, que investigou Trump nos casos relacionados à tentativa de reverter os resultados da eleição de 2020 e à posse de documentos sigilosos após deixar a Casa Branca.

Trump pede destituição de juiz que suspendeu deportação

Paralelamente ao embate com advogados, Trump voltou a atacar publicamente juízes Federais. Após a decisão do magistrado James Boasberg de suspender a deportação de imigrantes venezuelanos com base em uma lei de guerra do século 18, o presidente chamou o juiz de "lunático radical de esquerda" e sugeriu sua destituição.

"Este juiz, assim como muitos dos juízes corruptos contra os quais sou obrigado a me defender, deveria ser removido!", escreveu Trump em sua rede social Truth Social. Ele alegou que Boasberg, nomeado pelo ex-presidente Barack Obama, não foi eleito e estaria bloqueando ações que a população aprovou ao elegê-lo.

A resposta veio diretamente do presidente da Suprema Corte dos EUA, John Roberts, que, em uma rara manifestação pública, defendeu a independência do Judiciário e criticou a retórica de Trump. "Por mais de dois séculos, ficou estabelecido que o impeachment não é uma resposta apropriada para desacordos sobre uma decisão judicial", afirmou Roberts.

Efeito das ações de Trump no sistema judicial

As recentes medidas tomadas por Trump vêm sendo interpretadas como uma tentativa de minar a independência da Justiça e reforçar seu poder sobre o sistema legal dos EUA. O presidente da American Bar Association (ABA), William R. Bay, alertou que os ataques contra juízes e advogados são uma ameaça ao funcionamento da democracia americana.

"Estamos observando um padrão preocupante: ameaças a juízes que tomam decisões desfavoráveis ao governo, retaliação contra escritórios de advocacia e punição de advogados que apenas fazem seu trabalho. Isso interfere diretamente na imparcialidade da Justiça e no direito à defesa", afirmou Bay.

Advogados e organizações de direitos civis temem que a pressão do governo sobre o Judiciário e a advocacia possa afetar futuras decisões e desestimular advogados a aceitarem casos que envolvam oposição a Trump. Escritórios de renome que antes atuavam contra medidas da Casa Branca agora evitam se manifestar publicamente, temendo represálias.