Fotos que falam: Especialista explica símbolos nos mandatos de Trump
Vera Abriata destaca como a escolha de gestos, expressões e cenário transmitem uma narrativa de transição de um líder vitorioso para uma figura polarizadora e autoritária.
Da Redação
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Atualizado às 18:12
Nos últimos dias, Donald Trump voltou ao centro das atenções, seja por suas decisões controversas, declarações polêmicas, escolhas de gabinete ou pela posse que marcou o início de um novo capítulo nos Estados Unidos. Mais do que um evento político, a cerimônia foi carregada de simbolismos que reforçaram a imagem de um país conservador e autoritário, enviando mensagens claras sobre o futuro do cenário global.
Os significados desse momento transcendem suas palavras e ações políticas, eles se manifestam em seus gestos, nas vestimentas de sua família, nas cores escolhidas e até na disposição de pessoas durante os eventos oficiais.
Sob a perspectiva semiótica, cada detalhe atua como um signo, contribuindo para a narrativa que Trump busca construir e projetar ao mundo, revelando pistas sobre a direção que pretende dar ao seu governo.
O que é semiótica?
A semiótica é a ciência que estuda os signos, os processos de significação e as formas como mensagens são construídas e interpretadas em diferentes contextos. Signos, no entendimento semiótico, são elementos que representam algo para alguém, podendo ser palavras, gestos, imagens, sons ou até mesmo objetos. A semiótica busca compreender como esses signos operam, como se relacionam entre si e como comunicam significados em contextos culturais, sociais e históricos.
Tudo o que envolve Trump, desde suas decisões até suas imagens, pode ser interpretado como um signo carregado de significados direcionados ao público. Um ponto relevante é a mudança em suas fotos oficiais.
A comparação entre as fotos de posse de 2017 e 2025 revela elementos que, segundo a doutora em linguística e especialista em semiótica Vera Abriata, refletem o contexto histórico e ideológico de cada fase da presidência de Trump.
Na foto de 2017, Trump aparece sorridente, com um semblante aberto e franco, transmitindo o que Vera descreve como uma "impressão de verdade" - um estado de felicidade por alcançar o "objeto valor", a presidência. O plano de fundo destaca a bandeira americana em sua totalidade, com cores vibrantes que reforçam a ideia de unidade e conquista democrática.
Já na foto de 2025, a narrativa visual é completamente diferente. Trump aparece com lábios cerrados, expressão tensa e olhar que, segundo Vera, transmite mais ameaça do que seriedade.
"A bandeira, antes ocupando todo o plano de fundo, agora surge marginalizada à esquerda, com destaque apenas para as cores vermelha e branca. Isso sugere que a nação, simbolizada pela bandeira, foi relegada a um segundo plano diante da figura do 'todo-poderoso vingador'."
Vera destaca que a postura visual e as escolhas de vestimenta, em azul e branco, permanecem alinhadas às cores da bandeira americana, mas a composição geral sugere uma presidência menos democrática e mais autoritária.
Para ela, a expressão de Trump demonstra estados de alma como rancor e vingança, mais do que celebração, reforçando uma narrativa de revanche histórica.
"De acordo com o contexto em que se deu a sua eleição, alguém que assume, a partir do primeiro mandato, assume esse poder buscando uma determinada vingança na medida em que não chegou a ser eleito numa segunda vez naquele momento em que Biden foi eleito e não aceitou essa derrota."
Outra comparação foi feita entre a foto da atual posse e a imagem registrada em 2023, no condado de Fulton, na Geórgia, durante seu registro policial. A fotografia foi tirada após Trump ser acusado de tentar reverter o resultado das eleições de 2020, quando foi preso brevemente e libertado mediante o pagamento de fiança de 200 mil dólares.
A especialista observa semelhanças marcantes nas expressões faciais de raiva e rancor. Essa coerência visual, segundo Vera, reforça a figura combativa e polarizadora de Trump, que projeta não apenas autoridade, mas também uma postura de imposição de poder.
Para a especialista, as imagens de Trump vão além da representação visual, traduzindo o autoritarismo e a polarização que permeiam sua narrativa política. "A intencionalidade do fotógrafo, combinada com o contexto sócio-histórico-ideológico, revela um governo que, embora eleito democraticamente, carrega traços de mandonismo e ditatorialismo", ressalta.
Vestimenta e simbolismo
Ademais, Vera Abriata analisou como os elementos visuais da posse de Donald Trump em 2025, incluindo a vestimenta de Melania Trump, contribuem para criar significados que dialogam com o contexto político proposto.
Para a especialista, a escolha da vestimenta de Melania simboliza mais do que um simples traje: é um reflexo de seu papel social como esposa do presidente, em um cenário marcado por traços de autoritarismo. Segundo a análise, Melania se apresenta como alguém que "veste uma máscara", ocultando algo por trás de sua aparência.
"Não posso afirmar que ela é uma vítima, mas sim que compactua com o universo de valores que representa. Sua postura visual e escolha de vestimenta sugerem uma aceitação do papel ditatorial que a figura de Trump transmite."
A especialista destacou ainda que a posição de Melania ao lado de Trump reforça sua participação nesse contexto. "Ela exerce um papel social e temático, não individual. Sua imagem está intrinsecamente conectada à dele, como se ambos formassem um símbolo único do poder que projetam ao mundo. A máscara que ela veste parece ocultar não o que ela é, mas o que representa dentro desse universo de valores".
Assista a entrevista completa: