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"Rigor incompreensível"

Ministro do STJ anula falta de preso que devolveu livro danificado

Sebastião Reis Júnior enfatizou importância da leitura na ressocialização e que rigor em penalizar pode dificultar reintegração social.

Da Redação

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Atualizado em 17 de outubro de 2024 08:28

Ministro Sebastião Reis Júnior, do STJ, concedeu HC e anulou falta disciplinar grave aplicada a preso por, supostamente, ter devolvido livro à biblioteca do presídio em condições ruins.

No HC, a advogada do réu argumentou que a conduta atribuída ao preso não se enquadra como infração grave prevista na LEP - lei de execuções penais, devido à ausência de dolo e de provas conclusivas quanto ao estado do livro antes de seu uso pelo preso. 

A defesa solicitou a desclassificação da infração para leve ou média, destacando que o dano ao livro foi mínimo, e que a conduta não deveria ser punida com tanto rigor.

Excessivo rigor

Ao analisar o pedido, ministro Sebastião Reis Júnior, ressaltou que a penalidade aplicada ao preso foi desproporcional. 

Destacou que o ato de devolver um livro apenas rasgado e remendado, sem estar inutilizado, não pode ser tratado como falta grave, visto que isso seria um entrave à ressocialização. 

"[...] é incompreensível tratar o apenado, que busca se reeducar, com excessivo rigor, sob pena de colocar obstáculos à ressocialização."

O ministro frisou a importância de não sobrecarregar o sistema com punições excessivamente rigorosas, especialmente em um contexto de reeducação. 

Para o magistrado, a punição evidenciou "excesso de rigor e intolerância", contrariando o principal objetivo da execução penal, a ressocialização.

"Vejam-se que as circunstâncias do caso, consistente em detento que  manifestou interesse em exercer a leitura de livros no estabelecimento prisional, revelam que considerar como grave a conduta de rasgar, ao que parece, acidentalmente, um livro, e aplicar os consectários legais dessa falta, incorre em estabelecer obstáculos à essocialização. 

Não significa que quem exerce o hábito da leitura não tem o dever de preservar os livros, mas que punir gravemente um ato isolado de danificar sem inutilizar um livro, mostra excesso de rigor e intolerância e, por consequência, entrave ao principal objetivo do cumprimento da pena."

Com a decisão, a infração grave foi considerada atípica e anulada.

Veja a decisão.

 (Imagem: Rafael Luz/Arte Migalhas)

Ministro Sebastião Reis Júnior anulou falta grave aplicada a preso que devolveu livro danificado.(Imagem: Rafael Luz/Arte Migalhas)

Leitura = remição

Em vez de ser considerado falta grave, o interesse do preso pelos livros - e a leitura efetiva - deve ser via para o benefício da remição de pena, possibilitando a redução do tempo da condenação.

Conforme a recomendação 44/13 do CNJ, o preso pode reduzir quatro dias de sua pena a cada obra lida, sendo necessário que ele elabore uma resenha ou faça uma avaliação do conteúdo lido. A leitura precisa ser supervisionada e deve respeitar um calendário, com o limite de até 12 livros por ano, o que pode gerar uma redução de até 48 dias de pena anualmente.

A remição por leitura é aplicada em unidades prisionais que adotam programas específicos de incentivo à leitura, geralmente em bibliotecas internas. A prática busca não só a redução da pena, mas também a ressocialização e a capacitação dos detentos, ajudando a melhorar suas perspectivas de reintegração social ao término do cumprimento da pena.

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