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Sustentabilidade

Insper lança "Guia de Eletromobilidade para Cidades Brasileiras"

A publicação, lançada pelo Centro de Estudos das Cidades do instituto, faz uma radiografia do setor e apresenta propostas para a sua descarbonização no país.

Da Redação

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Atualizado às 11:12

A urgência em combater as mudanças climáticas e melhorar a qualidade de vida nas cidades impulsiona a busca por soluções inovadoras no setor de transporte. Nesse contexto, o Centro de Estudos das Cidades - Laboratório Arq.Futuro do Insper está lançando o "Guia de Eletromobilidade para Cidades Brasileiras: Transporte Público", uma ferramenta útil para gestores públicos que desejam modernizar frotas de ônibus e promover a transição para que o setor se torne mais limpo e eficiente.

A publicação - desenvolvida pelo Núcleo de Mobilidade Urbana do Centro, no âmbito do Observatório de Mobilidade Urbana Sustentável, com o apoio e a cooperação técnica do Itaú Unibanco - aborda os benefícios da eletromobilidade para o meio ambiente e a economia e traz orientações para a implementação de projetos de eletrificação, considerando os desafios e as melhores práticas internacionais. O Guia foi lançado durante um evento no Insper, em 20/9.

Conforme ressalta Sérgio Avelleda, coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana do Centro de Estudos das Cidades - Laboratório Arq.Futuro do Insper, o transporte urbano, especialmente os ônibus a diesel, é um dos principais vilões da poluição do ar nas cidades, contribuindo significativamente para as emissões de gases de efeito estufa e material particulado.

"Essas substâncias prejudicam a saúde da população, causando doenças respiratórias graves e até mesmo óbitos. Diante desse cenário, a demanda por soluções para descarbonizar o setor de transporte e melhorar a qualidade do ar é urgente. O Guia que estamos lançando apresenta um aprofundamento sobre a eletrificação dos ônibus, uma medida essencial para reduzir as emissões e construir cidades mais sustentáveis", afirma Avelleda.

De acordo com Rafael Castelo, pesquisador do Núcleo de Mobilidade Urbana e diretor de desenvolvimento urbano da SP Urbanismo, o Guia tem como objetivo compilar e analisar as experiências de eletrificação de frotas de ônibus em transporte público no Brasil e em outras nações da América Latina.

"A partir dessa análise, buscamos identificar as principais barreiras e desafios enfrentados nesse processo, além de apontar caminhos e diretrizes para facilitar a transição de frotas a diesel para eletricidade nos municípios brasileiros, tanto na substituição de veículos antigos quanto na incorporação de novos modelos elétricos", explica Castelo, um dos autores do Guia ao lado dos pesquisadores Ariane Fucci Wady e Camilla do Carmo Perotto, tendo Avelleda como coautor.

O Guia é destinado a gestores públicos, chefes do Executivo, e técnicos de prefeituras e empresas de transporte, sendo um material essencial para entender o cenário da eletromobilidade e apoiar a tomada de decisões. Ele também é útil para operadores de mobilidade, oferecendo uma visão detalhada sobre contratos, regimes licitatórios e riscos; também é oportuno para pesquisadores, estudantes e profissionais de planejamento urbano, ao inserir o transporte público eletrificado no contexto do desenvolvimento urbano.

"O Guia é um material muito rico para gestores e atores envolvidos no processo de descarbonização do transporte público", diz Camilla do Carmo Perotto, que é engenheira civil e atualmente faz o mestrado profissional em Políticas Públicas no Insper. "Focamos em consolidar evidências e práticas bem-sucedidas no processo de eletrificação de frotas de ônibus, o que fomenta a sustentabilidade nas cidades brasileiras considerando todos os desafios e potencialidades."

Apesar do crescente interesse na eletrificação do transporte público, o Brasil ainda apresenta um cenário desafiador quando comparado a outros países da América Latina. A cidade de São Paulo, por exemplo, não conseguiu cumprir ainda a meta de atingir uma frota de 2.500 ônibus elétricos até 2024. Um dos obstáculos, segundo Castelo, é a capacidade limitada da indústria de produzir ônibus elétricos em escala suficiente para atender à demanda das urbes brasileiras.

"Mesmo que os municípios tivessem recursos para eletrificar 100% de suas frotas, a indústria não conseguiria atender hoje a essa demanda. Atualmente, as fabricantes nacionais têm capacidade para produzir cerca de 2.000 ônibus elétricos por ano", afirma Castelo. Segundo ele, cidades como São Paulo, São José dos Campos, Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador, que estão avançando na eletrificação do transporte público, acabam competindo entre si pelos ônibus elétricos que saem das montadoras.

Segundo os autores, o lançamento do Guia colabora para deixar de lado o empirismo das reuniões com as comunidades, que na maioria das vezes dependem dos agentes públicos envolvidos e da capacidade de convencimento de suas respectivas argumentações.

"O Guia traz objetividade nas abordagens e aponta técnicas elaboradas para alcançar os vários interlocutores que fazem parte do movimento de transformação", diz Ricardo Balestreri, coordenador do Núcleo de Urbanismo Social e Segurança Pública do Centro de Estudos das Cidades e professor da pós-graduação em Urbanismo Social da instituição.

Avelleda acredita que essa barreira tende a ser superada em breve, dado o ritmo de crescimento da indústria. "Hoje, já temos todas as fabricantes tradicionais no Brasil oferecendo ônibus elétricos", observa. Ele ressalta, no entanto, que a transição para frotas elétricas requer muito mais do que a simples aquisição de novos veículos - envolve uma reestruturação significativa da infraestrutura urbana, especialmente no que diz respeito à recarga dos ônibus. "A infraestrutura para carregar uma frota de ônibus é muito maior e mais complexa do que para veículos particulares", compara.

"Garagens que abrigam centenas de ônibus precisam de uma infraestrutura robusta para garantir que todos os veículos sejam recarregados adequadamente." Ademais, um ônibus elétrico tem atualmente, em média, uma autonomia de 200 a 220 km, o que é suficiente para a maioria das linhas. Em trajetos mais longos, será necessário realizar recargas rápidas nos terminais durante as paradas. "Isso exigirá a instalação de pontos de recarga não apenas nas garagens, mas também nos terminais, além de possíveis ajustes nas linhas para adaptar-se à limitação de autonomia dos ônibus elétricos", pontua Avelleda.

 (Imagem: Divulgação)

Insper lança "Guia de Eletromobilidade para Cidades Brasileiras: Transporte Público".(Imagem: Divulgação)

Vantagens da transição

Apesar dos desafios tecnológicos e de infraestrutura, a transição para frotas elétricas traz vantagens tanto ambientais quanto econômicas. "Os ônibus elétricos desempenham um papel crucial em termos de ecoeficiência e sustentabilidade, principalmente devido à sua contribuição significativa para a redução das emissões. Em comparação com os ônibus a diesel, as emissões dos ônibus elétricos são praticamente nulas, o que ajuda a diminuir as ilhas de calor e melhora a qualidade do ambiente urbano, aspectos essenciais no contexto da emergência climática. Além disso, os ônibus elétricos produzem muito menos ruído urbano em comparação com os convencionais a diesel", diz Castelo.

Outro ponto importante é a maior durabilidade dos ônibus elétricos em comparação com os veículos a diesel, traduzindo-se em uma necessidade muito menor de manutenção. Como o motor elétrico não depende de combustão, ele sofre menos pressão mecânica, resultando em menos desgaste e menores custos de manutenção. "Fora isso, operar um ônibus elétrico é mais simples e econômico do que um a diesel, que possui diversos componentes que complicam sua operação. Assim, os custos operacionais dos ônibus elétricos são significativamente menores", aponta Castelo.

O pesquisador destaca também um benefício indireto da eletrificação dos transportes: A inserção de frotas de ônibus elétricos cria um novo setor econômico de alto valor agregado e alta complexidade intelectual, que favorece a cidade e a economia. "A produção e reposição de peças para esses veículos, além da manutenção especializada, desenvolvem uma economia do conhecimento significativa. Esse setor fomenta uma nova economia, voltada para a transição energética, que impulsiona a indústria automobilística, gera empregos e renda e fortalece o parque fabril, trazendo ganhos importantes para a economia como um todo".

Outro aspecto relevante é que o Brasil possui uma vantagem competitiva em relação a outras nações: A matriz energética predominantemente renovável. "Mais de 80% da nossa energia é renovável", lembra Avelleda. "Dessa forma, quando você faz a troca de um ônibus a diesel por um elétrico no Brasil, a substituição é de fato sustentável, o que não acontece em muitos países da Europa, onde a eletricidade ainda é gerada por fontes não renováveis."

Avelleda é otimista quanto ao futuro dos ônibus elétricos no Brasil. "Vemos a Europa, os Estados Unidos e a China avançando na eletrificação, com a China liderando com mais de 90% da frota mundial de ônibus elétricos. Entretanto, a Índia está rapidamente ganhando terreno com um programa nacional intenso de eletrificação de ônibus", afirma. "No Brasil, acredito que veremos também um crescimento significativo na adoção de ônibus, caminhões e motos elétricas nos próximos anos."

Essa tendência, segundo ele, é irreversível - e o "Guia de Eletrificação para Cidades Brasileiras" surge como um manual útil para ajudar a promover ambientes urbanos mais limpos, saudáveis e preparados para os desafios de sustentabilidade do século 21.

Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa