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Quebrando barreiras

Justiça do Trabalho terá primeiro juiz cego em 1ª instância; conheça Márcio Cruz

Em entrevista ao Migalhas, o futuro magistrado conta as barreiras que enfrentou até a aprovação.

Da Redação

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Atualizado em 23 de julho de 2024 11:32

Na próxima sexta-feira, 26, a Justiça do Trabalho terá importante marco de inclusão. Será empossado como juiz do Trabalho Márcio Aparecido da Cruz Germano - o primeiro magistrado cego a atuar na 1ª instância trabalhista no Brasil.

Márcio tem 44 anos, é de Maringá/PR e atuou como técnico judiciário na Justiça Federal e analista judiciário no TRT da 9ª região, no gabinete do desembargador Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, que também é cego.

Neste ano, ele foi aprovado no II CNU - Concurso Público Nacional Unificado para ingresso na carreira da magistratura do Trabalho, e tomará posse em São Paulo.

Em entrevista ao Migalhas, o futuro magistrado conta como perdeu a visão, aos quatro anos de idade, e os desafios que enfrentou por falta de acessibilidade e inclusão. Ele também conta como foi a rigorosa rotina de estudos e quais equipamentos utilizou para conseguir a sonhada aprovação.

Assista:

Márcio Cruz perdeu a visão progressivamente dos 4 aos 8 anos devido a um erro médico. Desde então, passou por uma série de superações.

Desde o colégio, Márcio enfrentou a falta de acessibilidade e de material escolar em braile. Não foi diferente na faculdade, onde, por muito tempo, contou com a ajuda de colegas que leram para ele os textos que precisava para estudar.

Finalmente com a ajuda de um computador e de leitor de telas, além de um mercado editorial mais preparado para atender às necessidades de pessoas com deficiência visual, com livros digitais e cursos acessíveis, o futuro magistrado pôde se dedicar aos estudos para concursos.

Em 2005, ele se tornou técnico judiciário; em 2011, foi aprovado analista judiciário, tendo atuado no TRT da 9ª região por 12 anos escrevendo minutas de votos do desembargador Ricardo Tadeu; e agora, em 2024, está prestes a ser nomeado juiz.

Ele conta que o destaque de sua trajetória foi a prova oral do CNU, onde, pela primeira vez, sentiu que competia em igualdade de condições com outros candidatos.

A acessibilidade e a acolhida que encontrou durante o concurso não apenas facilitaram seu processo, mas também reforçaram sua determinação.

Há hoje, na Justiça do Trabalho, há apenas dois magistrados com deficiência visual, ambos atuando em 2º grau: o desembargador Ricardo Tadeu, e o desembargador Marco Antônio Paulinelli de Carvalho, do TRT de Minas Gerais.

O exemplo de Márcio não apenas ilumina as possibilidades para pessoas com deficiência em alcançar altos cargos no serviço público brasileiro, mas também enfatiza a importância de uma infraestrutura mais inclusiva e acessível em todos os níveis da sociedade.

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