"Quem prende ou não é o Judiciário", explica Barroso ao dizer que não é censor do que Lula diz
Em entrevista, Barroso falou que o presidente Lula tem liberdade de expressão e que o Supremo cumpre o papel que lhe cabe.
Da Redação
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Atualizado às 12:33
O ministro Luís Roberto Barroso, em entrevista, comentou sobre críticas do presidente Lula à atuação do STF no caso da descriminalização do porte de maconha. O ministro afirmou não ter visto as críticas de Lula, mas que, seja como for, o presidente tem liberdade de expressão como todas as pessoas e merece respeito e consideração. "O Supremo cumpre o papel que lhe cabe cumprir", finalizou.
"Eu não sou comentarista do fato político do dia, não sou censor do que fala o presidente, menos ainda fiscal do salão. O que eu posso dizer é que o Supremo julga as ações que chegam lá, inclusive os habeas corpos e os recursos extraordinários de pessoas que são presas, às vezes, com pequenas quantidades de droga, e nós somos obrigados ao sermos capazes de distinguir entre o que seja consumo, o que seja porte para consumo pessoal, que não gera pena de prisão, e o que seja tráfico, que gera pena de prisão."
Nesta quarta-feira, 26, Lula comentou a decisão do STF que descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal, afirmando que o "o Supremo não tem que se meter em tudo". O presidente ressaltou que o STF deveria se concentrar em sua função principal (Constituição) e não interferir em todas as questões políticas e sociais.
Ainda, Barroso destacou que quando chega um processo ao Supremo, a Corte tem o dever de julgar. "Quem prende ou não prende alguém é o Judiciário. Portanto, o Judiciário tem que saber qual é o critério que vai utilizar para saber se prende ou se não prende", destacou.
Ainda sobre a descriminalização, Barroso fez uma analogia sobre o cumprimento da decisão: "é muito importante na vida a gente não quebrar o espelho por não gostar da imagem". Portanto, segundo o ministro, a decisão vai ser cumprida por quem tenha gostado dela e também por quem não tenha gostado.
O ministro ainda ressaltou que a decisão é muito clara. "O porte até 40 gramas não constitui infração penal, constitui uma infração administrativa", destacou.
"A autoridade policial, pelo menos por enquanto, até ser regulado ainda é autoridade policial, pode apreender a droga e pode lavrar um auto circunstanciado da apreensão, mas não pode prender essa pessoa, nem e instaurar um inquérito policial contra ela."
A descriminalização
O STF decidiu que a posse de até 40 gramas de maconha ou seis plantas-fêmeas será considerada para uso pessoal, diferenciando-se do tráfico de drogas. Esta decisão, inspirada na legislação uruguaia, estabelece que o porte para uso próprio será tratado como ilícito administrativo, não penal, eliminando consequências criminais e se limitando a sanções administrativas.
A medida visa descriminalizar o porte de maconha para uso próprio, enfatizando que se trata de uma questão de saúde pública, não de segurança.
Durante a sessão que definiu a discriminalização, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte, destacou a competência do STF em julgar o tema e definir os critérios que separam o uso do tráfico, já que o Supremo é frequentemente demandado em habeas corpus que questionam prisões relacionadas a drogas.
O artigo 28 da lei 11.343/06 foi interpretado de forma a eliminar quaisquer efeitos penais.
A tese formulada pelo STF estabelece que a posse de cannabis para uso pessoal não configura infração penal, embora seja ilícito administrativo. As sanções administrativas incluem advertências sobre os efeitos da droga e a participação em programas educativos.
Em casos de posse para consumo pessoal, a autoridade policial deve apreender a substância e notificar o indivíduo para comparecer em juízo, sem prisão em flagrante ou termo circunstanciado.
O Supremo também determinou que o CNJ, em articulação com outras entidades governamentais, adote medidas para implementar a decisão, incluindo a criação de protocolos para audiências de usuários e dependentes e a promoção de políticas públicas voltadas ao tratamento e reinserção social de dependentes.
O evento
O XII Fórum de Lisboa, realizado de 26 a 28 de junho, abordará o tema "Avanços e Recuos da Globalização e as Novas Fronteiras: Transformações Jurídicas, Políticas, Econômicas, Socioambientais e Digitais". O evento reúne autoridades e especialistas de diversas áreas para analisar as mudanças e os desafios contemporâneos que impactam o cenário global.