CEO do Pinheiro Neto: "Mundo discute IA; Brasil, taxação de blusinha"
Para Fernando Meira, a inteligência artificial será um divisor de águas mundial, e o Brasil precisa se preparar para essa transformação. Segundo o CEO, a falta de um projeto de país coerente e a mentalidade de buscar atalhos são os maiores problemas que o Brasil enfrenta atualmente.
Da Redação
sexta-feira, 14 de junho de 2024
Atualizado às 15:23
Em meio a um cenário global de rápidas transformações tecnológicas e econômicas, a inteligência artificial (IA) está emergindo como um dos fatores mais disruptivos dos tempos modernos.
Empresas em todo o mundo estão investindo trilhões para desenvolver tecnologias que prometem revolucionar setores inteiros, desde a medicina até o transporte.
No entanto, enquanto nações discutem e se preparam para essa nova era, o Brasil quase não trata do tema e enfrenta desafios únicos que podem dificultar sua adaptação e aproveitamento das oportunidades trazidas pela IA.
É neste contexto que Fernando Meira, CEO do Pinheiro Neto Advogados, um dos maiores e mais tradicionais escritórios de advocacia do Brasil, compartilhou suas percepções ao Brazil Journal sobre o impacto da inteligência artificial, a situação econômica do país e a necessidade de um projeto de nação robusto e consistente.
Fernando Meira destacou a transformação iminente trazida pela inteligência artificial e expressou preocupação com o atraso do Brasil em relação às discussões globais sobre o tema.
"Lá fora só se discute isso. Ano passado a discussão era essa, e esse ano a discussão continua sendo essa. Já no Brasil a gente fica discutindo Bolsonaro e Lula, resultado fiscal, tributação de blusinha.", comentou, lamentando a falta de seriedade em discussões necessárias.
O CEO analisou a transformação iminente trazida pela inteligência artificial. "O mundo está à beira da maior transformação da civilização moderna, que é a inteligência artificial", afirmou. Segundo ele, a IA está redefinindo a base do conhecimento e da progressão de carreira, uma vez que o conhecimento, que antes era um diferencial, estará disponível para todos.
Ele explicou que a IA ameaça empregos rentáveis e altera profundamente a lógica de consumo e investimento. "Isso é um mega desafio. A inteligência artificial vai ameaçar os empregos mais rentáveis, que geram renda, consumo e investimento. Se você não tem nada disso, você não tem arrecadação e os negócios vão reduzindo", analisou.
Reação dos escritórios de advocacia
Sobre como os escritórios de advocacia estão reagindo à IA, Meira comentou que muitos estão preocupados, mas hesitam em tomar ações concretas. "Eu tenho muito essa discussão com os escritórios americanos. Eles falam que estão acompanhando, que estão preocupados, angustiados, mas que não estão fazendo nada. Estão tocando a vida como se não houvesse mudança no futuro", relatou.
Essa inação se deve, segundo ele, à incerteza sobre a intensidade e a velocidade da transformação. "Está todo mundo esperando de mãos dadas, vendo o tsunami vindo e se perguntando o que será que vai ser?", observou.
Quando a ruptura se tornar evidente, a reação será cortar pessoal, investir em tecnologia e mudar o modelo de precificação, mas isso terá um efeito deflacionário e impactará significativamente a economia, aponta o CEO.
Desconexão das discussões globais
Enquanto o mundo discute intensamente as implicações da IA, o Brasil parece desconectado dessas discussões cruciais, acredita o CEO.
Meira destacou a necessidade de estabilidade, previsibilidade e segurança jurídica do país para atrair investimentos. "Os fundamentos do país são muito sólidos, mas se a gente não oferecer isso, o capital não vai vir para cá", afirmou.
Ele ressaltou que, embora os investidores que já estão no Brasil continuem a observar o mercado devido aos seus fundamentos sólidos, novos investimentos têm sido direcionados para outras geografias mais atrativas.
Meira observou que o Brasil tem perdido atratividade para investidores estrangeiros. "O Brasil não está mais no radar do investidor estrangeiro. Não está recebendo dinheiro novo", afirmou. Ele explicou que, embora investidores que já estão no país continuem a observar o mercado devido aos seus fundamentos sólidos, novos investimentos têm sido direcionados para outras geografias mais atrativas.
"O Brasil tem um potencial enorme, mas continua só no potencial", lamentou Meira, apontando a falta de previsibilidade, estabilidade e segurança jurídica como os principais obstáculos.
Para enfrentar esses desafios, é crucial que o Brasil desenvolva um projeto de país robusto que inclua responsabilidade social e fiscal. A busca por estabilidade, previsibilidade e segurança jurídica é fundamental para atrair investimentos e promover o desenvolvimento econômico.
"O projeto desse país tem que ser um capitalismo com responsabilidade social e enfrentamento das carências históricas. Tem que ter seriedade. Tem que ter combate à corrupção. Tem que ter responsabilidade fiscal. Não tem atalho. Não tem caminho fácil", ressaltou.
Ele também mencionou a importância de buscar o grau de investimento e a adesão à OCDE para ganhar respeitabilidade internacional. "Os fundamentos do país são muito sólidos, mas se a gente não oferecer isso, o capital não vai vir para cá", disse Meira.
Problemas estruturais
Além das questões econômicas e tecnológicas, o Brasil enfrenta problemas estruturais significativos, como o crime organizado, analisou Fernando Meira. "Tem usina de açúcar e álcool comprada por fundos debaixo do PCC, que fornece álcool para postos bandeira branca, que pertencem ao PCC", revelou. Ele criticou a mentalidade de buscar atalhos e evitar o trabalho árduo necessário para implementar soluções duradouras continua a ser um grande obstáculo ao progresso do país.
Para Meira, o maior problema do Brasil é a falta de um projeto de país coerente e a mentalidade de buscar atalhos. "O cara que faz a coisa direitinho é o bobo. O cara que tem a visão de que vamos fazer as coisas que já se provaram acertadas e se afastar das que já se provaram erradas, este também é visto como bobo", concluiu.
Por fim, Fernando Meira reflete uma visão crítica e realista dos desafios enfrentados pelo Brasil e a necessidade urgente de reformas estruturais e uma visão de longo prazo para alcançar o potencial econômico do país. A inteligência artificial, segundo Meira, será um divisor de águas, e o Brasil precisa se preparar para essa transformação iminente.