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Problema antigo

Há 83 anos, 70 mil pessoas ficaram desalojadas após chuvas no RS

A enchente deste ano superou o triste recorde de 1941.

Da Redação

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Atualizado às 21:09

Em 1941, o Rio Grande do Sul enfrentou 22 dias de chuvas intensas, resultando numa das piores catástrofes da região. As águas invadiram o cais do porto de Porto Alegre, capital do Estado, no dia 30 de abril, avançando continuamente para o centro da cidade. O auge da inundação ocorreu em 8 de maio, quando as águas do Guaíba atingiram 4,76 metros acima do nível normal. Cerca de 70 mil pessoas, de uma população de 272 mil habitantes, tiveram que abandonar suas casas, e a recuperação levou anos.

 (Imagem: Reprodução/Centro Pedagógico da UFMG)

Porto Alegre inundada após chuvas de 1941.(Imagem: Reprodução/Centro Pedagógico da UFMG)

Agora, 83 anos depois, esse triste recorde foi superado. Na segunda-feira, 13 de maio, o nível do lago estava em 4,77 metros às 7h, e, às 11h15, já registrava 4,91 metros, um aumento de 14 centímetros em quatro horas. A referência histórica de 4,76 metros, registrada na enchente de 1941, foi superada pela primeira vez no dia 3 de maio. De acordo com o boletim da Defesa Civil divulgado domingo, 19, o número de mortos no Estado já é de 157, e total de desalojados chega a 581 mil. Foram afetados mais de 2,3 milhões de pessoas, e há 88 desaparecidos.

 (Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Jornais da época repercutiram a tragédia que assolou o RS.(Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Em 1941, um dos momentos mais críticos ocorreu quando a água atingiu a Usina do Gasômetro, deixando a cidade sem luz. Posteriormente, também faltou água na capital. O Guaíba só voltou a ficar abaixo dos 3 metros (a chamada cota de inundação), 32 dias após o pico da enchente.

A arquiteta Elenara Stein Leitão compartilhou com o jornal O Globo uma carta escrita por sua mãe, Helena Silva Stein, durante a tragédia de 1941. No relato, a então jovem de 16 anos detalha a enchente histórica:

"Os trens pararam e o telégrafo interrompeu. Estávamos simplesmente isolados do interior. Cinemas, colégios, Faculdade de Medicina e Direito ficaram cheios de flagelados e o governo sustentando todo o pessoal. A cidade esteve vários dias às escuras, sem água, sem leite, sem jornal, foi mesmo de assustar!"

 (Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Jornal de 1941 anunciava enorme prejuízo ao Estado do RS.(Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

 (Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Jornal repercutiu situação de Porto Alegre em 1941.(Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Apesar do trauma de 1941, pouco mudou na relação da cidade com as águas. Foi necessária uma nova inundação, em 1967, para que ações efetivas fossem tomadas. Em 26 de setembro daquele ano, o jornal O Estado de S. Paulo informava que o diretor do DNOS, Carlos Krebs Filho, afirmou que o problema das cheias em Porto Alegre seria resolvido até 1969.

 (Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Estado de S. Paulo anunciou que problema das cheias em Porto Alegre seria resolvido até 1969.(Imagem: Arte Migalhas/Reprodução)

Os efeitos da inundação de 1967 resultaram na criação do Sistema de Proteção Contra Cheias. Inaugurado na década de 1970, o sistema é composto pelo muro da Avenida Mauá, um muro de concreto no Centro Histórico, casas de bombas e diques espalhados por diferentes pontos.

Ao todo, são 68 quilômetros de diques, 14 comportas e 19 casas de bombas, de acordo com a prefeitura de Porto Alegre. Esta estrutura deveria proteger a cidade de cheias de até 6 metros, o que significa que, se estivesse funcionando corretamente, Porto Alegre estaria seca neste momento.

À revista Veja, a arquiteta Mima Feltrin afirmou que, se a tragédia de 1941 causou alguma surpresa, a de 2024 era um fato anunciado.

A pesquisadora defende que, desde a década de 1970, cientistas brasileiros têm produzido estudos robustos sobre as inundações no Estado. Desde os anos 2000, analistas avaliam que, se houvesse uma convergência geográfica, hidrográfica e meteorológica, poderia ocorrer uma enchente igual ou superior à de 1941. "Estamos falando de, pelo menos, 25 anos de avisos". A inércia diante dos fatos representa, para a arquiteta, uma estratégia política. 

"Aqui no Brasil a lógica é inversa. Gastamos cerca de 14 vezes mais com reconstrução do que com a prevenção de tragédias".

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