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Litigância predatória

Juiz extingue processo de advogado com mais de 600 ações semelhantes

Caso de litigância predatória foi identificado no Amazonas. Órgãos responsáveis vão apurar conduta do causídico.

Da Redação

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Atualizado às 12:05

Após verificar mais de 600 processos semelhantes de um mesmo advogado, o juiz de Direito Marco Aurelio Plazzi Palis, do 1º JEC de Manacapuru/AM, considerou configurada a prática de litigância predatória, extinguiu processo e condenou o advogado por má-fé.

O magistrado destacou que os jurisdicionados, em sua maioria, seriam pessoas ribeirinhas, residentes em comunidades rurais, de pouca instrução e algumas analfabetas, e que desconheciam o advogado e as ações da Justiça.   

O processo foi incluído em um bloco de ações encaminhadas à corregedoria do Tribunal de Ética e Disciplina OAB/AM, à Procuradoria-Geral de Justiça e à corregedoria do TJ/AM para providências quanto à conduta praticada pelo advogado na comarca, assim como ao MP local e à autoridade policial para providências.

"A litigância predatória compromete a atividade do Poder Judiciário, pois o grande volume desse tipo de litigiosidade ocasiona sérios prejuízos ao erário com impacto no tempo de tramitação dos processos, afetando a celeridade e a própria eficiência do sistema de justiça."

 (Imagem: Freepik)

Juiz extingue processo de advogado com mais de 600 ações semelhantes no Amazonas.(Imagem: Freepik)

O caso julgado pelo juiz é uma ação de indenização por danos morais movida contra a empresa Amazonas Energia. Após movimentação processual atípica por parte do causídico, foi implantado procedimento de ratificação pelo juiz, no qual a parte autora é intimada para comparecer em juízo e esclarecer a forma de contratação do advogado. O procedimento, conforme esclareceu o juiz, tem espeque na nota técnica 1/22 do Numopede, da corregedoria-Geral de Justiça do TJ/AM, que impõe práticas para a identificação de demandas predatórias.

Após a providência, o juiz identificou centenas de processos do advogado com petições semelhantes, e cujas partes desconheciam a demanda. "Em apertada síntese, a forma de agir envolvendo processos patrocinados pelo Advogado consiste na abordagem dos consumidores em suas residências por pessoas desconhecidas com o fim de ajuizarem ações contra a Amazonas Energia e obterem indenizações decorrentes."

O modus operandi do advogado se repete em 18 processos citados na sentença. Em um deles, a parte informou que não assinou a procuração, e que inclusive não sabe assinar. Disse que não conhece o advogado, e que foi abordada por pessoas estranhas em sua residência falando sobre a ação contra a empresa de energia.

O magistrado pontuou que, ao todo, são 604 processos naquele juizado protocolizados pelo causídico, número muito superior ao de outros advogados, totalizando 23% da distribuição naquele Juizado, e que as petições são genéricas, com procurações muito abrangentes, inclusive para levantar alvará e receber em nome do jurisdicionado.

Ainda conforme explicado pelo juiz, o mecanismo de IA instalado no Projudi para verificar similaridade das petições atestou a semelhança de 100% das petições distribuídas pelo advogado:

Análise Processual Automática - IA Arandu

Análise de Semelhança: O seguinte processo foi encontrado com a petição inicial semelhante em 100.00%

De acordo com os autos, os documentos utilizados no ingresso das demandas seriam obtidos por intermédio de terceiros desconhecidos ou até de presidentes das comunidades ou bairros, e o autor sequer tem ciência do ajuizamento da lide, com possível fraude na subscrição da procuração. O juiz destacou que este fato, e todos os demais onde há indício de crime, estão sob investigação da polícia.

No caso julgado, o processo foi extinto sem exame do mérito. O advogado foi condenado a multa por litigância de má-fé no importe de 10% sobre o valor da causa.

O escritório FM&V Advocacia atua pela empresa de energia.

  • Processo: 0601009-22.2024.8.04.5400

Leia a sentença.

FM&V Advocacia

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