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Conteúdo de apostila escolar vai parar na justiça

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Da Redação

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Atualizado em 12 de junho de 2007 16:42


Apostila escolar

Instituição de ensino entra com ação na Justiça em virtude da crítica da mãe de uma aluna

Um mãe tira a filha da escola por não concordar com o material didático, e ainda publica um artigo criticando o cunho ideológico contido nas apostilas.

A empresa educacional responsável pelo material didático entra com ação na justiça alegando prejuízo com o texto, pedindo para que seu nome seja excluído da crítica. O juiz da 5a vara cível de Ribeirão Preto/SP concede a tutela antecipada, mandando excluir o nome da empresa.

O Tribunal, em agravo, suspende a ordem, dizendo que em casos como este "a prudência parece indicar que a decisão sobre o pedido de antecipação de algum dos efeitos da tutela jurisdicional postulada há de ser posterga para depois de esgotado o prazo de defesa".

De fato, tudo se deu com crítica feita pela jornalista Mírian Macedo no site "Escola sem Partido". Era, em verdade, um protesto contra o método pedagógico do Colégio Pentágono/COC (unidade Morumbi - São Paulo).

Após analisar as apostilas, a jornalista tirou da escola sua filha de 14 anos.

Segundo Mírian, em uma apostila a escola ensina "como se conjuga um empresário" e fornece uma seqüência de verbos retratando a rotina diária deste profissional : "Acordou, barbeou-se... beijou, saiu, entrou... despachou... vendeu, ganhou, lucrou, lesou, explorou, burlou... convocou, elogiou, bolinou, estimulou, beijou, convidou... despiu-se... deitou-se, mexeu, gemeu, fungou, babou, antecipou, frustrou... saiu... chegou, beijou, negou, etc., etc.".

Na apostila de gramática, ainda segundo a jornalista, é utilizada uma letra de música da banda Charlie Brown Jr, intitulada "Papo Reto" (Prazer É Sexo O Resto É Negócio).

Segundo Mírian, "As apostilas de História e Geografia, pontilhadas de frases-epígrafes de Karl Marx e escritas em 'português ruim', contêm gravíssimos erros de informação e falsificação de dados históricos".

  • Clique aqui e confira no site "Escola sem Partido" a íntegra do texto da jornalista

Direito de resposta

Após a divulgação do protesto da jornalista, o Sistema COC de Ensino pediu direito de resposta ao site.

O site, que tem justamente o objetivo de fomentar estas dicussões, sponte propria concedeu o espaço pedido pelo Colégio.

Entre os esclarecimentos prestados, o Sistema COC diz que "o material impresso é parte do processo de ensino e aprendizagem, que conta também com conteúdo na Internet, Livros Eletrônicos, entre tantos outros recursos que se completam com a atuação dos professores, coordenadores, alunos e pais. As escolas parceiras também complementam o material didático do sistema COC com outras atividades. É o caso do exercício "Como se conjuga um empresário", reproduzido na integra do vestibular da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que não se encontra nos materiais da 1a série do Ensino Médio do Sistema COC".

  • Clique aqui e confira na íntegra o "Direito de Resposta" do Sistema COC de Ensino divulgado no site "Escola sem Partido".

Ação

No entanto, dias depois de exercer o Direito de Resposta, o Sistema COC de Ensino ajuizou ação judicial, objetivando a condenação do coordenador do EscolasemPartido.org, Miguel Nagib, e da jornalista Mírian Macedo, ao pagamento de indenização por danos morais alegadamente causados pelo artigo.

  • Clique aqui e confira a íntegra da petição inicial apresentada pelo Sistema COC de Ensino.

Por mais que seja questionável uma empresa de educação entrar com ação para ceifar um debate educacional, ela está em seu lídimo direito. Até mesmo porque alega que sofreu prejuízos com a crítica supostamente injusta.

O que chama a atenção não é a ação, mas sim a decisão do juiz Paulo Cícero Augusto Pereira, da 5ª Vara Cível da Comarca de Ribeirão Preto/SP, que determinou em Tutela Antecipada que o site retirasse do texto da jornalista Mírian Macedo os nomes da marca COC ou Sistema COC de Educação e Comunicação Ltda. Confira abaixo a decisão do magistrado.


O site e a jornalista autora da crítica entraram com agravo no TJ/SP. A Corte paulista deu curta e didática decisão, atribuindo efeito suspensivo ao recurso.

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  • Leia mais

Matéria publicada na Revista Veja de 13 de junho de 2007 - Edição 2012

Ensino que é bom...

Mãe ganha na Justiça o direito de protestar contra o colégio da filha. Na cartilha sobra ideologia e falta conteúdo

Mirian com a filha, Luísa: indignada com os erros factuais e com a doutrinação esquerdista

"O aparecimento da propriedade privada deu origem à desigualdade social em comunidades neolíticas e na Grécia antiga. Esse é um mal que os capitalistas hoje procuram acobertar." Esse samba do sociólogo louco parece guardar distante parentesco com a teoria de Karl Marx, mas o rigoroso filósofo alemão ficaria chocado com a letra. Criticar o capitalismo é saudável, como qualquer crítica. Mas fazer proselitismo esquerdista usando fatos errados é de lascar. As análises em questão circulam pelos vários capítulos de uma apostila de história e geografia usada em classes de ensino médio de 200 escolas particulares do país. O dono do material é o grupo COC, de Ribeirão Preto, que vende as apostilas às escolas. Ao se interessar pelo material didático usado na escola da filha, a dona-de-casa Mírian Macedo, 53 anos, levou um susto. Ela correu ao Colégio Pentágono, de São Paulo, um dos que aplicam as apostilas, decidida a cancelar a matrícula da filha. Luísa, de 15 anos, estudava lá havia nove. Mírian condensou as passagens que soavam a ela como "panfletagem grosseira" em um texto no qual denuncia o que chama de "Porno-marxismo". Em março, o artigo da dona-de-casa passou a circular na internet. O caso acabou na Justiça. Por meio de uma liminar, o COC exigiu a retirada do nome da instituição do documento. Há duas semanas, a Justiça reavaliou a questão e deu a Mírian o direito de divulgar a versão original. O COC, por sua vez, avisou que fará uma revisão de suas apostilas, usadas por 220.000 estudantes. Reconhece Chaim Zaher, o dono do grupo: "Erramos mesmo".

Ao chamar atenção para o viés ideológico nas apostilas de sua filha, Mírian (que se define como "marxista desiludida") expõe um problema bem maior. Apostilas e livros didáticos adotados pelas escolas brasileiras estão contaminados pela doutrinação política esquerdizante. Resume o sociólogo Simon Schwartzman: "As crianças não aprendem mais o nome dos rios ou as datas relevantes da história da humanidade. Elas estão tendo contato com uma ciência social superficial, marcada pela crítica marxista vulgar". É esse o ponto. As editoras deveriam ser mais criteriosas na erradicação desses dogmas e das simplificações que, como diz Schwartzman, vulgarizam o ensino. Karl Marx foi um pensador profundo e complexo que tirou a filosofia das nuvens e a colocou no mundo real. Nisso é equiparado ao grego Aristóteles, cuja obra deu vida material aos ensinamentos essencialmente teóricos de Platão. Reduzir Marx ao esquerdismo de botequim que se nota em alguns livros e apostilas é uma ofensa ao filósofo alemão e um desserviço à educação dos jovens brasileiros.

Muitos dos livros e apostilas que servem de base para as aulas apresentam problemas ainda mais básicos, como erros factuais e de português - e redações primárias. O texto "Como se conjuga um empresário", panfleto anticapitalista sem graça nem gosto reproduzido nesta página, foi o que mais chamou a atenção de Mírian. Mas a mãe se indignou com muitas coisas mais. O colégio onde estuda a filha reagiu com coragem e correção. Não renovou o contrato com o COC e mandou tirar de sua própria apostila o texto em questão. Assinado por um desconhecido escritor cearense que atende pelo nome de Mino, a peça já havia cativado outros deseducadores. Em 2005, serviu de tema para a redação no vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais. Inspirados na obra, os candidatos deviam produzir um texto crítico sobre o comportamento do empresário. Com um detalhe: o narrador da história seria uma "secretária anticapitalista", indignada com as peripécias do patrão. "Os jovens estão expostos a uma salada de slogans que não esclarecem nada sobre o mundo em que vivemos - isso só emburrece", diz o filósofo Roberto Romano. Como mostra a reação de Mírian Macedo, as escolas ensinam, mas cabe aos pais educar - no sentido mais amplo possível.

ERROS E DOGMAS ESQUERDISTAS

Trechos das apostilas da 1ª série do ensino médio do COC e do Colégio Pentágono

"A escravidão no Brasil é justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado como animal, pois era 'desprovido de alma' (...). Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?"

(Capítulo "Nós e a história", pág. 97 da apostila do COC)

Comentário: a Igreja já era, então, contrária à escravidão. O papa Paulo III escreveu, em 1537: "Ninguém deve ser reduzido à escravidão"

"A dissolução das comunidades neolíticas, como também da propriedade coletiva, deu lugar à propriedade privada e à formação das classes sociais, isto é, a propriedade privada deu origem às desigualdades sociais (...)."

(Capítulo "A pré-história", pág. 103 da apostila do COC)

Comentário: o conceito de "classes sociais" não se aplica a uma sociedade organizada em clãs. As desigualdades subsistem desde que a humanidade vivia da caça, da pesca e da coleta

"O surgimento da propriedade privada dos meios de produção (...) provocou, na Grécia, a formação da sociedade de classes organizada sob a cidade-estado."

(Capítulo "O período arcaico", pág. 128 da apostila do COC)

Comentário: as classes na Grécia antiga eram determinadas pela ascendência dos cidadãos - e não por sua riqueza

"Como se conjuga um empresário: vendeu, ganhou, lucrou, lesou, explorou, burlou... convocou, elogiou, bolinou, estimulou, beijou, convidou... despiu-se... deitou-se, mexeu, gemeu, fungou, babou, antecipou, frustrou..."

(Pág. 14 da apostila de redação do Pentágono)

Comentário: tolice ideológica que, além de ser sem graça, predispõe os alunos contra o sistema de geração e distribuição de riqueza que é a base da democracia, a economia de mercado.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo do dia 12/6

Cartilha escolar do sistema COC é alvo de polêmica

Mãe de estudante diz que apostilas contêm erros

A ex-jornalista Mirian Macedo, 53, obteve na Justiça o direito de manter no site Escola sem Partido (www.escola sempartido.org) texto no qual diz que o sistema de ensino COC utiliza um "método pedagógico pornomarxista".

Mãe de uma aluna do Colégio Pentágono, em São Paulo, diz ter ficado chocada ao ler o material escolar usado pela filha. "Não acreditei no nível de doutrinação esquerdista."

Estudiosa de doutrinação e marxismo, Mirian diz que as apostilas têm erros de informação. Em seu texto publicado no site, cita o seguinte trecho do material: "(...) a escravidão no Brasil, justificada pela condição de inferioridade do negro, colocado como animal, pois era "desprovido de alma". (...) Além da Igreja, que legitimou tal sandice, a quem mais interessava tamanha besteira?".

Sobre ele, a ex-jornalista escreve: "Sandice é dizer que a Igreja legitimou a escravidão. Em 1537, o papa Paulo 3º publicou a Bula Veritas Ipsa, condenando a escravidão dos "índios e as mais gentes"."

Texto correto

Procurado pela Folha, o teólogo Fernando Altemeyer, da PUC-SP, diz, porém, que o texto da apostila está correto. "Está escrito de forma grosseira, panfletária e descontextualizada, mas a Igreja apoiava a escravidão na América Latina."

Já a resposta da mãe da aluna, segundo o teólogo, não leva em conta o fato de a bula papal não ter sido aplicada.

"Ponto de partida"

Mirian resolveu tirar a filha da escola, que há três anos usa o material do COC. A diretora-pedagógica do Pentágono, Gracia Klein, diz que antes disso a escola já decidira mudar o material didático. "Nenhum material é perfeito. É ponto de partida para discussões orientadas pelos professores."

O COC enviou uma resposta ao site Escola sem Partido, publicada na íntegra, mas, considerando ter sido ofendido por expressões como a "pornomarxista", entrou na Justiça.

"Conseguimos uma liminar que, há duas semanas, foi cassada. Agora estamos decidindo o que fazer enquanto o processo continua", afirma o diretor da Editora COC, José Henrique Del Castillo Melo.

"Não adotamos nenhuma linha de pensamento. Mostramos várias versões [no material]. Educar não é doutrinar, é lançar assuntos para os alunos aprenderem a ter pensamento crítico", diz Melo.

Segundo Melo, a avaliação da editora, que atua com 280 escolas parceiras, é a de que os textos não estão errados. "Mas podemos melhorar a redação."

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