ESG: Advogado analisa acordos de empresas para reduzirem dívidas
Segundo advogado, descumprimento das contrapartidas sociais, porém, não gera sanções.
Da Redação
domingo, 29 de outubro de 2023
Atualizado em 27 de outubro de 2023 13:15
Duas vitórias recentes de acordo de transação com a Fazenda Nacional para quitar débitos tributários, oferecendo como contrapartida a manutenção de políticas de assistência social, apontam uma nova tendência para empresas que buscam reduzir dívidas com a União. Esse é o entendimento do advogado Luciano Ramos Volk, sócio do Volk & Giffoni Ferreira Sociedade de Advogados. Para ele, "é um incentivo para outras empresas, mas o descumprimento ainda não gera sanções".
De acordo com Luciano, um dos grandes acordos foi nas últimas semanas. A Manikraft Guaianazes Indústria de Celulose e Papel fechou pacto de transação com a Fazenda Nacional para quitar débitos tributários que somam R$ 288 milhões - ofereceu políticas de assistência social na região da sua sede, em São Paulo, como forma de ter acesso a desconto de 80% de dívida com União.
Anteriormente, em agosto, o Grupo João Santos, produtor do cimento Nassau, fez acordo de transação tributária que prevê ações ESG (ambientais, sociais e de governança). Assim, comprometeu-se a apoiar a erradicação da exploração sexual, além de adotar ações que previnam ou reparem danos ao ambiente e fazer esforços para melhorar a qualidade do ar no entorno das suas fábricas.
"Os acordos nesta modalidade seguem o que preconiza a portaria 6.757/22, que coloca como objetivos da transação fiscal a promoção da função social da empresa e a execução de políticas públicas, com espaço para entender o direito tributário com transversalidade", explica o advogado.
Segundo Volk, ainda há uma falha a ser corrigida pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.
"Faz sentido que a função social da empresa e a contrapartida que ela oferece à sociedade seja levada em conta. Mas, o descumprimento das contrapartidas sociais não gera sanções. Daí que se caracteriza como uma transação individual, mas não especificamente com a força, o compromisso e a pujança do ESG, capaz de transformar a vida de pessoas."
O especialista ainda reiterou que, no acordo, a Manikraft conseguiu reduzir em quase 80% a dívida original. Com o desconto e a possibilidade de compensar o passivo com prejuízo fiscal, vai pagar R$ 64,6 milhões em até dez anos.
"Alinhar interesses financeiros com valores éticos é uma obrigação das grandes empresas. O mundo empresarial brasileiro está em meio a uma profunda metamorfose, num momento em que a sustentabilidade, a diversidade, a inclusão e a equidade se tornaram preocupações primordiais. Só falta a criação de regras de cumprimento e que a organização se adapte a essas novas exigências contemporâneas."