Avança na Câmara projeto que proíbe casamento homoafetivo
Texto ainda precisa ser analisado por outras comissões da Câmara e pelo Senado para ir à sanção.
Da Redação
terça-feira, 10 de outubro de 2023
Atualizado em 11 de outubro de 2023 10:08
A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara aprovou projeto que proíbe homoafetivo. A medida está prevista no PL 580/07 e aos textos apensados a ele. O parecer recebeu 12 votos favoráveis e cinco contrários.
A aprovação da proposta contraria a atual jurisprudência brasileira. Desde 2011, o STF reconhece a união entre casais do mesmo sexo como entidade familiar. Pastor Eurico, relator do PL, no entanto, argumenta que cabe ao Poder Legislativo, e não ao STF, deliberar sobre o tema.
A proposta ainda será analisada nas comissões de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Se for aprovada, seguirá para o Senado.
Sem interpretações
O relator Eurico apresentou uma complementação ao seu parecer, que inclui novos pontos. O texto do relator mantém a proibição da união homoafetiva, e determina que a Justiça interprete o casamento e a união estável de forma estrita, sem "extensões analógicas". Ou seja, deixa claro que essas formas de união dizem respeito apenas a homem e mulher.
O novo texto determina também que o Estado e a legislação civil não poderão interferir nos critérios e requisitos do casamento religioso, sendo vedado qualquer constrangimento a ministro de confissão religiosa ou violação às normas de seus templos. O objetivo dessa medida, segundo o relator, é garantir a proteção das instituições e ministros religiosos.
Pastor Eurico citou trechos bíblicos na tentativa de demonstrar que as culturas antigas julgavam a homossexualidade um fenômeno repreensível e defendeu que o instituto do casamento tem a finalidade da procriação.
"A relação homossexual não proporciona à sociedade a eficácia especial da procriação, que justifica a regulamentação na forma de casamento e a sua consequente proteção especial pelo Estado", disse. "Tentar estender o regime de casamento aos homossexuais é uma tentativa vã de mudar a realidade através de leis", acrescentou.
Além disso, o relator classificou a remoção da homossexualidade da lista de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria, em 1973, como "o lamentável desfecho que se deu quando a militância político-ideológica se sobrepôs à ciência".
Deputados contrários
Em menor número, parlamentares contrários ao parecer chegaram a abandonar a sala da comissão antes da votação final, na tentativa de evitar o quórum necessário, mas não foram bem sucedidos.
Eles também pediram ao presidente da comissão, deputado Fernando Rodolfo, mais tempo para analisar a complementação apresentada por Eurico, mas não foram atendidos. Rodolfo afirmou que não havia previsão regimental para isso.
A deputada Laura Carneiro ressaltou que 80 mil famílias já se casaram e têm direitos previdenciários e civis, como herança e acesso ao plano de saúde do companheiro, que serão retirados se a proposta virar lei. Segundo ela, se o objetivo do casamento é apenas procriação, como defendeu o relator, pessoas idosas que não podem mais ter filhos não poderiam se casar.
A deputada Erika Kokay observou que vários casais homossexuais inclusive já adotaram crianças, mas o instituto da adoção foi desprezado no relatório.
A deputada Daiana Santos argumentou que a proposta aprovada é inconstitucional por causa da jurisprudência do STF. "A própria OAB já falou da inconstitucionalidade desse momento, deste espaço, que não deveria estar fazendo esse debate", avaliou.
A deputada Erika Hilton criticou a associação da homossexualidade a patologias e a doenças. "A nossa comunidade ama, a nossa comunidade compartilha plano de saúde, previdência social, esses direitos não podem ser revogados. Nós não podemos retroceder, precisamos avançar. Não adianta usar da fé e religiosidade para mascarar o ódio", disse Erika.
Fonte: Agência Câmara de Notícias