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Eleições | Literatura

Machado de Assis e a abstenção eleitoral

O escritor do Cosme Velho tinha consciência da importância do processo eleitoral e reconhecia que era por meio da escolha dos representantes que as coisas poderiam ser modificadas.

Da Redação

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Atualizado às 13:36

As questões eleitorais sempre estiveram presente na obra machadiana. Seja com personagens candidatos nos contos, seja com fatos interessantes nas crônicas.

No começo da vida profissional, Machado de Assis provavelmente não era eleitor, nem muito menos elegível. Com efeito, o voto era censitário, e só podia votar quem tivesse salário ou herança.

Não sem motivo, ele clama, aos 25 anos, em 1865, por eleições diretas, "para tornar efetiva a soberania popular".

O direito de votar do escritor só se confirma em 1877, num edital da junta comercial.

 (Imagem: Reprodução)

Edital da junta municipal da Corte publicado no Diário do Rio de Janeiro em 8 de fevereiro.(Imagem: Reprodução)

Ali ele consta como eleitor e elegível, e curiosamente com um "sabe ler".

Contista

Nos contos, percebe-se: em Sereníssima República uma crítica contundente ao processo eleitoral; no clássico O Programa, Romualdo vê baldadas suas chances eleitorais, mas obtém alguns votos: "pedaços da soberania popular que o vestiam a ele, como digno da escolha"; em Um Ambicioso, o personagem obtém míseros 37 votos. Há ainda outras diversas passagens. 

Cronista eleitoral

Mas é nas crônicas machadianas que o tema é constante. Machado de Assis critica reiteradamente o sistema eleitoral.

Numa ocasião, narra que os eleitores de Itu/SP vendiam o voto para um candidato, mas se outro oferecesse mais, o eleitor aceitava e, numa esdrúxula probidade, devolvia o dinheiro ao primeiro.

Outro tema abordado por Machado era o voto feminino. Ele reclama a possibilidade de as mulheres votarem desde 1877, direito que só foi conquistado em 1932.  

Combate ao absenteísmo

Mas nenhum assunto eleitoral ocupa tanto a pauta do Bruxo como a abstenção. Para ele, o grande mal das eleições "é a abstenção, que dá resultados muita vez ridículos". E sentencia: "Urge combatê-la."

E o recado dele é claro:

"Cumpre que os eleitores elejam, que se movam, que saiam de suas casas para correr às urnas, que se interessem, finalmente, pelo exercício do direito que a lei lhes deu, ou lhes reconheceu."

Abstenção crescente

Para que o povo se sinta representado, e possa cobrar os eleitos, é importante que ele vote. Por isso, mais do que nunca, seguindo o que disse Machado de Assis, urge combater a abstenção.

Aliás, abstenção que anda crescente no país, diante da apostasia popular. Nas eleições de 2006, a abstenção foi de 16,8%. Em 2010, aumenta para 18,1%. Em 2014, passou para 19,4%. E nas eleições de 2018, chegaram a 20,3%.

Se este índice se repetir, teremos o assustador contingente de mais de 30 milhões de brasileiros que não exercerão este que é o maior dos direitos de um povo: escolher livremente seus representantes.

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Por estas e outras, programe-se para, no dia 2 de outubro, votar. A praia pode esperar, o Brasil não.

 (Imagem: Migalhas/Redação)

(Imagem: Migalhas/Redação)

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