Editorial: Tonel das Danaides
Entenda o que há por trás da possível renúncia do presidente da Petrobras.
Da Redação
sexta-feira, 17 de junho de 2022
Atualizado às 13:45
Os jornais indicam que o presidente da Câmara e o ministro da Casa Civil estão pressionando o presidente da Petrobras para que renuncie. O que se quer com a renúncia é que uma pessoa seja eleita para o Conselho da empresa sem a realização de uma Assembleia, e com isso se agilize a troca do comando. Algo meio manu militari.
E por quê? Vamos lá, com uma migalha de paciência.
A Lava Jato, por vias oblíquas, acabou destruindo a imagem da empresa na população. Qualquer um fala sobre Petrobras como se entendesse alguma coisa, e como se fosse uma empresa qualquer. Mas ela não é uma empresa qualquer. Além de ser a maior do Brasil, tendo em seu quadro os melhores profissionais do país, engenheiros de alto gabarito, ela lida com algo que é de importância mundial: óleo e gás. Basta ver o que motiva as guerras que existiram e existem no mundo.
Enfim, o fato é que, com esse menoscabo criado pelas circunstâncias, a população não consegue olhar com olhos críticos para o negócio. E foi nesse período turvo que se resolveu mudar a tal "política de preços". Há um lustro, o preço dos combustíveis segue uma lógica em dólar. E, caso o leitor não saiba, não há mais monopólio da Petrobras. Sim, repetimos, o monopólio acabou.
Como a situação geopolítica está sensível, os preços estão subindo. E, seguindo o modelo de preços vigente, é preciso reajustar ainda mais. O governo, preocupado com o impacto do aumento em pleno processo eleitoral (os combustíveis, direta e indiretamente, representam 50% da inflação), quer mexer nos preços, na mão grande.
Primeiro, e ok, está forçando uma diminuição do ICMS. Esse caminho é o correto. Mas bulir na política de preços dentro da empresa, sem que isso fique claro, é completamente errado. Isso sem falar no fato de que, em tese, estamos diante de um crime eleitoral, pois se está fazendo uma subvenção, proibida no ano de eleição (lei 9.504/97).
Ademais, as empresas privadas que hoje compram combustível serão prejudicadas e fatalmente irão responsabilizar a Petrobras pelas perdas, de modo que quem autorizar a mudança irá, ao fim e ao cabo, ser punido. No caso, o que se vê é uma pressão do acionista controlador. E não só uma pressão, como um abuso no controle, que certamente irá ser questionado.
Nesse contexto, é bem possível imaginar que já há um par de "class action" sendo montada nos EUA. E a história, mais uma vez, vai se repetir, com o povo pagando pelas trapalhadas. Só que, no caso, pegue o montante que a Lava Jato diz que foi surrupiado (há controvérsias) e multiplique por dez. Isso mesmo, os prejuízos serão nessa ordem.
Boa sorte a todos!