8 de março: Não serei a última, diz 1ª mulher a comandar o TJ/RS
Em entrevista ao Migalhas, a desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira fala sobre a necessidade de qualificação das mulheres no mundo jurídico; o Judiciário ideal e, por fim, deixa um recado para as operadoras do Direito.
Da Redação
terça-feira, 8 de março de 2022
Atualizado às 10:00
Na infância, Iris Helena Medeiros Nogueira não podia ver uma briga entre crianças que já tinha vontade de solucionar a disputa. E resolvia: logo tratava de apurar quem era o dono do brinquedo e terminava por fazer uma conciliação entre os amigos. O espírito de juíza já estava ali.
Hoje, Iris Helena Medeiros Nogueira é desembargadora e, não só isso, ela é a 1ª mulher e a 1ª pessoa negra a presidir o TJ/RS. Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, Migalhas teve a honra de entrevistar a presidente recém-empossada do Tribunal gaúcho. Já avisamos as migalheiras: essa reportagem será uma dose de motivação.
"Eu sou a primeira, mas tenho certeza de que não serei a última. Tenho consciência da minha responsabilidade por ser a primeira, por abrir essa porta, que eu não posso permitir que se feche."
Para se ter ideia onde a desembargadora Iris Helena chegou, mostramos números:
- 44 desembargadoras de um total de um total de 136;
- 307 juízas de Direito de um total de 609;
Nos quadros de presidentes da instituição, só se veem nomes masculinos. Uma realidade que acaba de mudar.
"O sentimento de conquista é muito forte. Me sinto vitoriosa."
A maior parte da vida estudantil de Iris Helena foi em escola pública. No vestibular, ela prestou dois cursos: Serviço Social e Direito. Passou nos dois, mas optou pelo Direito por influência do pai, que era advogado. Olhando para trás, a magistrada afirma: "faria a mesma escolha muitas vezes, se fosse necessário". Se formou em Direito em 1981, na UFPel - UFPel - Universidade Federal de Pelotas.
Vida pessoal e profissional
Iris Helena é solteira, não tem filhos, mas se dedica à família (seus irmãos e sobrinhos "filhos"). Ela, no entanto, afirma que ter família/filhos não é óbice para a carreira, pois existem profissionais valorosas que atendem muito bem às atribuições jurisdicionais.
Sobre o avanço feminino, a desembargadora contou que faz pouco tempo que as mulheres saíram da função exclusiva de mãe e administradora do lar e comemorou o avanço: "temos magistradas capazes e preparadas que, a seu tempo, chegarão à presidência do Tribunal, se assim o quiserem, e alcançarão os cargos de destaque na administração que escolherem".
Ir atrás do que se quer
A presidente Iris Helena tem tempo e idade para se aposentar, mas, mesmo assim, se propôs ao desafio de chefiar um tribunal de grande porte: "saí da zona de conforto".
Para as mulheres do Direito, que pretendem crescer na carreira, a desembargadora fala da importância da "saudável ambição" pelo crescimento: "para que se chegue a algum lugar há de se ter superação. Nós devemos nos preparar, termos uma educação, um estudo, a qualificação e irmos à luta para conquistarmos maior espaço".
Judiciário ideal: "de gente para gente"
Agora, à frente do Judiciário gaúcho, Migalhas perguntou à desembargadora Iris Helena quais as características de um Judiciário ideal. Para S. Exa., a instituição deve ser feita "de gente para gente".
Para a ela, o Judiciário deve ser cada vez mais informatizado; provedor de boas condições para seus servidores, além de ser uma instituição célere.
Dia Internacional da Mulher
Aproveitando a importância do dia 8 de março, a desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira deu um recado muito especial às mulheres do Direito: "continuem com muito denodo, se dedicando à causa da Justiça. Apurar a verdade, fazer com que o Direito venha socorrer os casos concretos".