Migalheiro comenta notícias em versos: "vazio me fez o Zé Preá"
Leitor assíduo do Migalhas, Abilio Neto afirma que, com irreverência de Zé Preá, seu pseudônimo, jamais será um depressivo.
Da Redação
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022
Atualizado em 25 de fevereiro de 2022 09:20
Migalhas tem a sorte de ser acompanhado por leitores assíduos, os indeclináveis migalheiros. Um deles é Abílio Neto, um simpático pernambucano que, quase diariamente, deixa suas migalhas de críticas e opiniões em forma de verso na seção Migalhas dos Leitores.
Os versos, em verdade, são escritos pelo pseudônimo, o irreverente e crítico Zé Preá.
Ele é o nosso convidado de hoje no quadro Migalheiros em Pauta. Assista:
O Zé Preá nasceu quando Abílio era ainda muito jovem, então morador de uma vila no distrito de Batateira, ligado ao município de São Joaquim do Monte, e que depois passou a pertencer ao município de Belém de Maria. "Nasci no mato", diz. "Não tenho nada contra Belém, mas me considero são joaquinense".
Ele conta que, depois de passar pelo exército, trabalhou por muitos anos no INSS e também na Receita Federal. Hoje, está aposentado de suas funções, o que lhe permite explorar com ainda mais afinco as atividades como Zé Preá.
Em 2004, ano de sua estreia no Migalhas, Abílio Neto publicou uma conversa, em sextilhas, entre Zé Preá e Mané Socó. O assunto era a decisão judicial contrária a Daniela Cicarelli, na qual decidiu-se que revista VIP com fotos da modelo continuariam nas bancas. À época, o magistrado escreveu: "Não se trata de uma freira surpreendida em suas andanças pelo convento." A frase despertou o diálogo entre os cumpadis. Leia trecho:
Mas o que foi que alegou?
Diz que é noiva do Ronaldo
Que só ele pode ver
O que já tinha mostrado
Que a sua foto na banca
Cria desejo em tarado
Essas muié quando pôsa
Dêxa a veigonha de lado
E ganham muito dinheiro
Às custas dos abestado
Dispois elas se arrepende
E vão atrás do Juizado
(...)
Mas o Juiz que julgou
Eita cabra bom danado
O homi disse uma frase
Que só diz cabra letrado
E também não deu razão
Pra noivinha do Ronaldo
Então, por favô me explica
Tu sabe, sô meio jumento
"Cicarelli num é freira
Nas andança de um convento"
Oh Mané, vai comprar logo
Pra espiar o monumento"."
A íntegra está disponivel aqui.
Veja alguns versos recentes deixados por Zé Preá na seção Migalhas dos Leitores:
Mensalão - 19/9/13
"Quem quiser fazer Justiça
Não deve dar bola ao povo
Celso de Mello fez isso
E eu de cá me comovo:
Conseguiu tirar a gema
Sem trincar sequer o ovo!"
Vacina - 30/12/21
"Ministro contra a vacina
Ainda diz que ato foi certo
Mas não houve ato algum
Meu caro juiz Umberto
Que o pai recorra a Fux
Esse vale por Doisberto!"
Caso Robinho - 20/1/22
"Quem acha que pode tudo
Perder-se-á no caminho
Está no samba de Cartola
Que a vida é um moinho...
Pra Justiça da Itália
Chuteira não é sandália
Pedala agora, Robinho!"
Moro no TCU - 9/2/22
"Nas voltas que o Moro dá
Ele tenta um milagre:
Que o povo brasileiro
O endeuse e o consagre!
Mas pra seu 'constrangimento'
Eu lhe envio um unguento
Feito de sal e vinagre!"
Ao final da entrevista, Abílio Neto conta que Zé Preá nasceu de um "vazio existencial" que todos temos, e que é o que nos impulsiona para muitas coisas na vida.
"Se você sentir um vazio existencial e deixar que se transforme em uma coisa que o coloque pra baixo, você vira um depressivo. E eu, com a irreverência do Zé Preá, terei certeza de que jamais serei um depressivo na vida."