Advogado analisa criação do maior pacto comercial do mundo
Para o professor Marcelo Godke, nova zona de livre comércio tem poder de ameaçar supremacia econômica e geopolítica ocidental.
Da Redação
domingo, 5 de dezembro de 2021
Atualizado às 08:33
Os países da ASEAN - Associação de Nações do Sudeste Asiático se uniram com Japão, China, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia e fecharam acordo para a formação de pacto comercial que deverá ser o maior do mundo e estar ativo a partir de 1º de janeiro de 2022. A Índia também fez parte das negociações para integrar o grupo, mas desistiu por temer que a redução das tarifas prejudicasse seus produtores.
Denominado de RCEP - Parceria Econômica Abrangente Regional, o grupo irá cobrir cerca de 30% da população mundial e do produto nacional bruto global, com a promessa de eliminar tarifas de importação sobre 91% dos bens, principalmente itens industriais. Uma das características emblemáticas da parceria é que trata-se do único grande acordo de livre comércio assinado pela China.
Segundo Marcelo Godke, advogado especialista em Direito Empresarial e Societário, professor do Insper e da FAAP e sócio do escritório Godke Advogados, o acordo pode, mais uma vez, colocar o centro do poder econômico na Ásia.
"Já tivemos uma ameaça do Japão nos anos 80, depois vieram os chamados Tigres Asiáticos e agora é provável que a gente veja uma aceleração do crescimento da Ásia, que vai passar para um novo patamar, tanto nos cenários econômico e comercial e até no político, porque sabemos que poder econômico atrai poder político."
Para o professor, como o acordo vai abranger uma boa parte da população e da produção industrial do mundo, deverá ter um impacto enorme, acelerando o comércio nesses países, que já contam com altas taxas de crescimento.
"O acordo deve impulsionar ainda mais o posicionamento da China como potência econômica mundial, com a queda de barreiras comerciais e a retomada de um crescimento econômico acelerado. Sem dúvida, será uma zona de livre comércio importantíssima, que tem o poder, inclusive, de ameaçar a supremacia econômica e geopolítica ocidental."
Índia como nova potência
A Índia, apesar de não fazer parte desse novo pacto, tem um acordo de livre comércio com a ASEAN. O professor chama a atenção para o fato de China e Índia serem as duas maiores populações do mundo, com mais de três bilhões de pessoas.
"O crescimento populacional econômico indiano é acentuado e muitos especialistas na Europa e nos Estados Unidos enxergam a Índia como uma potência que vai bater de frente, sendo um contraponto importante com a China, alterando o atual padrão da geopolítica mundial."
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