Pesquisadores concluem que MPF usou Twitter de forma política
A pesquisa também concluiu que a rede de conexão do MPF no Twitter está estreitamente alinhada com a extrema direita ideológica, em termos de valores e visão de mundo.
Da Redação
quinta-feira, 27 de maio de 2021
Atualizado às 19:36
Os pesquisadores Rafael Rodrigues Viegas e Lucas Busani Xavier, da FGV, desenvolveram uma pesquisa para investigar o uso político do Twitter pelo MPF na Lava Jato.
Para os pesquisadores, é razoável concluir que o parquet usou sua conta no Twitter de forma política e estratégica a fim interferir na opinião pública. No estudo, concluiu-se que o uso da rede social se voltava para a autopromoção e para a defesa dos interesses corporativos dos integrantes do MPF.
Como a pesquisa foi feita?
Os pesquisadores combinaram técnicas qualitativa e quantitativa, junto a ferramentas computacionais. Para a análise, foi extraído um banco de dados de 37.041 tweets e retuítes publicados desde o lançamento da conta em 2011.
As ferramentas utilizadas pelos pesquisadores foram:
- Linguagem de programação Python: para o processamento dos dados extraídos e para a análise realizada;
- Iramuteq: usado para análise de conteúdo textual;
- Gephi: serviu como ferramenta de extração de dados do Twitter para o análise da rede social do perfil.
MPF é responsável por lutar apenas contra corrupção?
O perfil do MPF do Brasil no Twitter é o maior em número de seguidores se comparado com instituições semelhantes em outros países. Enquanto o parquet brasileiro tem 700 mil seguidores, o perfil da instituição na Inglaterra tem 30 mil, dos EUA tem 24 mil e da Argentina tem 33 mil. A média do parquet, em 10 anos, era de 10 tweets por dia.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi a variação da atividade do MPF ao longo do tempo e em momentos específicos: os picos de tweets aconteceram "coincidentemente" quando estouraram escândalos de corrupção, envolvendo membros do PT (destaque para Mensalão e Lava Jato).
Os acadêmicos observaram que a maioria dos tweets do MPF era referente a casos de corrupção (mais de 60% dos tweets do MPF envolviam o tema da corrupção). A pesquisa questionou o fato de que o combate à corrupção é somente um dos pilares do trabalho do parquet, existindo outros como defesa do meio ambiente, saúde e educação.
Assim, concluiu-se que o Twitter tem servido como meio de transmissão de informações sobre investigações e processos judiciais relativos à luta contra corrupção, em detrimento de outras áreas igualmente relevantes.
Modus operandi e rede de contato
Os pesquisadores mapearam as estratégias que o MPF usa em seu Twitter. Eles elencaram da seguinte forma:
- Se autorreferenciam em tweets;
- Usam massivamente a ferramenta de retweet;
- Focam em assuntos específicos usando termos exatos, tais como: denunciar, eleitoral, corrupção, condenar, crime, justiça, federal, ação, processo e condenação.
- Divulgam informações institucionais de casos nos quais atuam no STF e informações sobre o CNMP.
A pesquisa também rastreou a rede de contato do MPF e encontrou figuras importantes que se destacaram no cenário político: a deputada Carla Zambeli; o ex-juiz Sergio Moro; o perfil da Polícia Federal: "Isso faz sentido, pois o MPF supervisiona a PF e conta com ela nas operações anticorrupção", afirmaram. Além disso, registraram a rede ligada a perfis de influencers bolsonaristas.
Nesse ponto, a conclusão da pesquisa foi de que as conexões estabelecidas com instituições e atores da sociedade civil estão estreitamente alinhadas em termos de valores e visão de mundo com a extrema direita ideológica.
Uso político
A pesquisa concluiu que o uso do Twitter pelo MPF nos últimos anos pode ter tido como objetivo afetar a governabilidade no União. Os alvos preferenciais do MPF, não só em suas investigações e ações judiciais, mas também nos posts, estão ligados ao processo de impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e para as eleições de 2018.
O modus operandi do MPF no Twitter provavelmente está relacionado a um projeto institucional de política comunicação que visa legitimar as ações do MPF e, assim, defender interesses corporativos em vista de outras instituições e da sociedade em geral, "que no período analisado resultou em um alinhamento com a extrema direita ideológica".
Leia a íntegra da pesquisa, clique aqui.
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*Rafael Rodrigues Viegas é doutorando em Administração Pública e Governo pela FGV, São Paulo, Brasil. Seus principais tópicos de pesquisa são: controle e burocracia; recrutamento político; elites políticas e burocráticas; democracia; Política e sistema judiciário brasileiros.
*Lucas Busani Xavier é mestrando em Administração de Empresas pela FGV, São Paulo, Brasil. Sua linha de pesquisa na FGV é "Marketing" (MKT). Seus principais interesses incluem: online, comunidades; cultura de consumo; pirataria digital.