Há 102 anos, gripe espanhola paralisou o Brasil
Segundo historiadores, essa foi a maior pandemia do século XX e fez 50 milhões de vítimas.
Da Redação
segunda-feira, 30 de março de 2020
Atualizado em 31 de março de 2020 06:44
Momentos de tensão e isolamento causados pela propagação de vírus, infelizmente, não são inéditos na história. Em 1918, o mundo estava em guerra quando as primeiras notícias sobre a gripe espanhola começaram a aparecer.
As preocupações com a doença, no Brasil, se iniciaram quando a Missão Médica Brasileira, enviada à França para ajudar na prestação de socorro aos combatentes, foi acometida pelo vírus.
Naquele ano, navios que transportavam correio pelo mundo, aportaram em Recife, Salvador e Rio de Janeiro e traziam junto a influenza espanhola. Em pouco tempo, as cidades portuárias brasileiras foram atingidas pela doença, e logo se estendeu pelo território nacional. Os mortos chegaram às centenas.
A gripe espanhola instaurou terror no Brasil, acabou matando o presidente eleito Rodrigues Alves e paralisou o comércio e as escolas. Segundo historiadores, essa foi a maior pandemia do século XX e fez 50 milhões de vítimas.
O jornal Gazeta de Notícias estampava notícias sobre a grande epidemia. Na edição do dia 15 de novembro de 1918, trazia, na capa, que o Rio de Janeiro era um vasto hospital.
(Jornal Gazeta de Notícias, 1918)
Medidas
Enquanto a gripe espanhola avançava sobre os moradores de São Paulo, em outubro de 1918, o Serviço Sanitário do Estado publicava uma série de recomendações para instruir a população a se prevenir.
Assim como vem sendo recomendado para lidar com a covid-19, o objetivo era impedir a disseminação da doença
O informativo "Conselhos ao Povo" trazia orientações para conter a gripe espanhola:
Segundo o Arquivo Público do Estado de São Paulo somente dois dias depois do primeiro óbito na cidade, o Serviço Sanitário do Estado decretou estado epidêmico.
A partir daí, começaram as restrições, fechando escolas, cinemas, teatros, jardins e as igrejas tiveram que reduzir o público das missas. Os enterros de mortos não podiam ser acompanhados a pé e as compras de muitas famílias eram feitas por uma única pessoa, para reduzir os riscos de contágio.
Para lidar com o vírus, na cidade de São Paulo, a população recorreu a um remédio caseiro que misturava cachaça com mel e limão. De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça, foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha.
Durante a epidemia, um acontecimento nos Estados Unidos evidenciou a necessidade de evitar aglomerações. Em setembro de 1918, o evento Fourth Liberty Loan Drive foi organizado para arrecadar dinheiro para as tropas americanas que combatiam na Primeira Guerra Mundial. Após ficarem expostas à contaminação no desfile pelas ruas da Filadélfia, cerca de 4.500 pessoas morreram por terem sido infectadas pelo vírus.
Morte de Rodrigues Alves
A epidemia da gripe também afetou a política: O presidente eleito em 1918, Rodrigues Alves, adoeceu e morreu em janeiro de 1919 sem sequer ter tomado posse de seu segundo mandato. Após sua morte, o vice Delfim Moreira assumiu o cargo e uma nova eleição foi convocada, sendo Epitácio Pessoa o vencedor do pleito.
O falecimento de Rodrigues Alves se deu em um contexto crítico brasileiro: após a greve geral de 1917 e durante a Primeira Guerra Mundial, quando a economia nacional dependia de exportações de café e acabou sofrendo com o impacto da restrição do transporte mundial.
Em 6 de outubro de 1918, o jornal Estado de S. Paulo divulgou nota sobre os cuidados recebidos por Rodrigues Alves, afirmando que o político poderia se restabelecer a tempo de sua posse. Mas a melhora não ocorreu. Sob tensão, a população acompanhou o estado clínico de Rodrigues Alves através dos jornais até seu falecimento, em 16 de janeiro de 1919.
(Jornal Estado de S. Paulo, 1918)
Fim da gripe espanhola
Os médicos descrevem a gripe espanhola como o "maior holocausto médico da história". Após o ápice da doença, no final de 1918, novos casos caíram abruptamente. Uma das explicações para o rápido declínio da doença é a de que os médicos se tornaram mais eficazes na prevenção e tratamento da pneumonia que se desenvolvia após a contração do vírus. Outra teoria sustenta que o vírus sofreu uma mutação extremamente rápida para uma forma menos letal.
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