Livro analisa "plágios" de Machado de Assis
Da Redação
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
Atualizado às 15:27
Centenário
Livro analisa "plágios" de Machado de Assis
Uma coleção de ensaios reunidos pela Universidade americana de Massachussets para antecipar o centenário de morte de Machado de Assis retrata o escritor fluminense como um "plagiário". E ainda por cima confesso.
"A Revolução Francesa e Otelo estão feitos; nada impede que esta ou aquela cena seja tirada para outras peças, e assim se cometem, literariamente falando, os plágios", escreveu em 1895 o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A citação machadiana serve de exemplo para que o editor da coleção, o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, explique: "Machado de Assis era um plagiário confesso, porque foi o primeiro escritor da literatura ocidental a reconhecer que o autor é antes de tudo um grande leitor".
Em uma época que escritores eram considerados 'gênios' que escreviam histórias unicamente a partir de sua imaginação, Machado encampou uma idéia "muito contemporânea", disse o professor. "Muita gente na época simplesmente não entendeu."
Centenário
Batizado com o intrigante título de The Author as Plagiarist - The Case of Machado de Assis ("O autor como um plagiário - o caso de Machado de Assis"), o livro, que foi lançado em Londres, pretende inaugurar as comemorações pelo centenário da morte do escritor, em dois anos.
Machado de Assis rompeu com a idéia de que o artista é um gênio, ou nas palavras do professor Castro Rocha, "um vulcão de criatividade" cuja força vem do interior, muito comum aos autores românticos que faziam sucesso até então.
O escritor reconheceu que autores refletem suas influências literárias a um ponto em que "todos os escritores são filhos de suas leituras", como definiu em breves palavras - reproduzidas no livro - o escritor português José Saramago.
Décadas mais tarde, o argentino José Luis Borges afirmou que o escritor é um leitor que só escreve porque "esqueceu tudo o que leu".
Mas Borges, afirmou Castro Rocha, "tem certo gosto narcisista de mostrar que é um homem culto. Machado de Assis, não".
Contemporaneidade
Um século depois, a Internet colocou a idéia machadiana na ordem do dia.
"O artista de hoje recebe muita informação via Internet. Ele sabe que o que fizer já foi feito em algum lugar no mundo; em Londres, na Índia, ou no Piauí", diz o editor.
Ao que tudo indica isto já era conhecido por Machado de Assis, homem de leitura e dado a intercâmbios culturais - sua mãe era de Açores e sua mulher, da cidade do Porto.
José Saramago nota apenas um aspecto estranho
"Há quem me diga que Brás Cubas não cita Diderot simplesmente porque não o leu", escreve o prêmio Nobel de Literatura. "Pode ser. Mas ninguém me tira da cabeça que então era Diderot quem lia Brás Cubas."
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