Juiz iraquiano afirma que Saddam não era ditador
Da Redação
quinta-feira, 14 de setembro de 2006
Atualizado às 15:00
Só parece
Juiz iraquiano afirma que Saddam 'não era ditador'
O principal juiz responsável pelo julgamento do ex-presidente do Iraque Saddam Hussein disse nesta quinta-feira que o ex-líder não era um ditador, mas seus assistentes faziam com que ele se parecesse com um.
Os comentários ocorrem um dia depois do juiz Abdullah al-Amiri ter sido acusado de favorecer o ex-líder. Durante a sessão de ontem (13/9), um homem da etnia curda relembrou uma audiência com Saddam Hussein em 1989, em que ele esperava garantir a liberdade para sua família, que estava aprisionada.
Saddam Hussein e seis outros ex-integrantes do governo estão sendo julgados em Bagdá por crimes de guerra contra os curdos durante a chamada operação Anfal, em 1987 e 1988.
Depoimento
As observações do juiz foram feitas depois do depoimento de Abdullah Mohammed-Hussain, convocado pela acusação no caso. Saddam perguntou à testemunha de 57 anos: "Por que você tentou se reunir comigo quando você sabia que eu era um ditador?"
"Você não era um ditador. Pessoas próximas a você fizeram com que (você parecesse com) um ditador", disse o juiz.
"Obrigado", disse Saddam Hussein.
Abdullah Mohammed-Hussain contou como tinha conseguido se encontrar com o ex-líder iraquiano em 1989, no final da operação Anfal. A testemunha afirmou que a reunião ocorreu depois muitos pedidos feitos aos militares do Iraque. "Eu falei a Saddam: 'Senhor, meus familiares foram presos'", disse o fazendeiro durante o depoimento. "Saddam me perguntou onde e eu respondi: 'em meu vilarejo'. Saddam disse: 'Cale a boca. Sua família se foi na operação Anfal'."
O presidente iraquiano falou então para Hussain ir embora. "Eu saudei o presidente e disse: 'Sim, senhor'. E saí. Me consolei, pensando que Saddam poderia sentir pena e libertar minha família. Eu estava muito triste. Realmente esperava que ele (Saddam Hussein) fosse libertar minha família", disse.
Vala comum
Hussain afirmou que os restos de alguns de seus familiares apareceram em uma vala comum há apenas dois anos, mas os outros continuam desaparecidos. A testemunha também descreveu como seu vilarejo, Sida, perto da cidade curda de Suleimaniya, foi atacado pela artilharia e por aeronaves durante a operação Anfal.
Ontem o chefe da promotoria, Munqith al-Faroon, pediu que o juiz do caso deixe o posto, afirmando que Amiri está favorecendo Saddam Hussein e os outros réus.
Faroon se queixou que os réus foram "longe demais", ameaçando testemunhas e fazendo declarações políticas.
No dia anterior, Saddam Hussein ameaçou um dos advogados de testemunhas, acusando-o de ser um agente de "iranianos e zionistas", acrescentando "nós vamos esmagar a cabeça dele".
Na segunda-feira, quando o julgamento foi reiniciado depois de um intervalo de três semanas, o ex-presidente iraquiano prometeu "caçar (Faroon) pelo resto da vida" se as alegações de que mulheres iraquianas foram estupradas durante seu regime se mostrar falsa.
Os réus são acusados da morte de até 180 mil civis no final da década de 80.
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