MIGALHAS QUENTES

  1. Home >
  2. Quentes >
  3. Homem que morou desde criança com Chico Xavier não consegue reconhecimento de paternidade
Paternidade

Homem que morou desde criança com Chico Xavier não consegue reconhecimento de paternidade

Para juíza, apesar de demonstrada profunda relação de afeto, isso não implica reconhecimento parentalidade socioafetiva.

Da Redação

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Atualizado às 15:49

A juíza de Direito Andreísa Alvarenga Martinoli Alves, da 1ª vara de Família e Sucessões de Uberaba/MG, negou o pedido de Eurípedes Humberto Higino dos Reis, um dentista que queria ver reconhecida sua filiação sócioafetiva post mortem com o médium Chico Xavier.

Para a magistrada, não ficou demonstrada a "manifesta intenção de estabelecimento de paternidade" por parte do médium. Isto porque, em carta enviada a um jornalista, Chico explica que Eurípedes não é seu filho, mas sim um amigo.

t

Eurípedes dos Reis contou que nasceu em Ituiutaba, em 1950, e que conviveu com o pai biológico até os cinco anos de idade, quando o pai faleceu. Aos sete anos, ele passou a conviver semanalmente com Chico Xavier e, oito anos depois, Chico pediu autorização à mãe de Eurípedes para que ele passasse a residir em sua casa, sob seus cuidados e responsabilidade.

Na ação, Eurípedes afirma que conviveu em relação familiar com o médium de 1957 até o falecimento de Chico, em junho de 2002. Ele também afirma que o médium o chamava de "filho de coração" e que era apresentado como filho para todos, inclusive para a imprensa.

Além do pedido para que seja declarado que é filho socioafetivo de Chico Xavier, Eurípedes pediu que o sobrenome "Xavier" fosse acrescentado ao seu registro, passando a assinar "Eurípedes Humberto Higino dos Reis Xavier".

Ao negar o pedido, a magistrada observou que, para que seja reconhecida a filiação, deve ser demonstrada a intenção inequívoca do suposto pai de ser concebido juridicamente desta forma. No caso, ficou demonstrada a relação entre os dois e a existência de forte vínculo de afeto e confiança, porém, não ficou provada "manifesta intenção de estabelecimento de paternidade".

"Do que foi dito é possível concluir que Eurípedes foi criado por Francisco Cândido Xavier desde a infância, sendo estabelecido entre ambos profunda relação de afeto, confiança e amizade, porém, isso não implica o reconhecimento da relação de parentalidade socioafetiva, porquanto, tais sentimentos podem ser inspirados pela solidariedade ou mesmo por convicções religiosas [...] haja vista que o falecido pai foi um dos maiores praticantes e divulgadores da religião espírita cristã no Brasil ao longo do século passado."

Para decidir, a juíza levou em consideração carta enviada por Chico ao jornalista Ney Bianchi, da extinta revista Manchete, na qual o médium teria afirmado que Eurípedes não é seu filho adotivo, mas um amigo:

"Exmo. Sr. Dr. Ney Bianchi

Redação da Revista Manchete

(...)

Sou constrangido pelas circunstâncias a prestar-lhe as seguintes informações:

1º - o Dr. Eurípedes Humberto Higino dos Reis é odontólogo, diplomado pela Faculdade Superior de Odontologia (...), distinguindo-se pelo trabalho que realizada.

2º - não é meu filho adotivo, e sim, um amigo que me presta assistência em regime de absoluta gratuidade e humanitarismo.

Terminando, rogo-lhe o obséquio de dar publicidade a esta carta, motivada pelos enganos, certamente involuntários, em que o Sr. envolve o meu nome (...)".

A juíza também levou em consideração que Chico Xavier teve várias oportunidades ao longo da vida para registrar a intenção de reconhecer Eurípedes como filho, seja nos testamentos, seja nas escrituras públicas de doação ou nas declarações firmadas.

Motivos

Eurípedes explicou que não tem interesse patrimonial, e que os bens deixados por Chico foram doados ou transmitidos via testamento.

Em relação aos bens imateriais, nome, imagem e pertences dos médium, Eurípedes ficou com a responsabilidade de preservá-los com a Casa de Memórias Chico Xavier. Ele disse que também ficou como representante da livraria a qual Chico concedeu o uso exclusivo de seus produtos e marca e que tem dado destinação ao dinheiro conforme o pai afetivo havia pedido.

A motivação para a ação, afirmou, é que várias pessoas têm usado o nome e imagem de Chico Xavier indevidamente para obtenção de lucros, o que contraria os ensinamentos do médium. Por isso ele pediu a concessão da medida acautelatória, para autorizá-lo a figurar como parte legítima em ações judiciais e administrativas em proteção à honra, respeito, uso indevido e sem autorização do nome e da imagem de Chico Xavier.

Patrocínio

Patrocínio Migalhas