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Cronista onírico

Dr. Semana: Dois pesos e duas medidas - II

Dr. Semana é um pragmático, obcecado pelo Estado de Direito, apolítico e totalmente a favor da livre iniciativa. Otimista com a chegada de um rascunho de governo liberal ao Brasil, ele traz luzes sobre os dois pesos e duas medidas da Justiça brasileira.

Da Redação

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Atualizado às 09:50

Como anunciado há algum tempo, Dr. Semana comunicou o respeitável público que se achava em solo pátrio, e que iria ministrar aos necessitados os socorros de sua infalível ciência.

Enquanto não estabelece sua clínica, Dr. Semana ministra aos migalheiros homeopáticos comentários.

Para quem não o conhece, é preciso ressaltar que Dr. Semana é um pragmático, obcecado pelo Estado de Direito, apolítico e totalmente a favor da livre iniciativa.

Por tudo isso, ele está muito otimista com a chegada de um rascunho de governo liberal ao Brasil.

Todavia, é preciso estar constantemente vigilante. E nosso Doutor já chamou atenção neste mesmo espaço para a existência de "dois pesos e duas medidas" entre nossos jovens procuradores: desde o "alerta" feito pelo procurador-réu Marcelo Miller acerca da criação de carrascos nas forças-tarefa Brasil afora nas páginas Amarelas de Veja - sendo ele mesmo um dos mais agressivos usuários da tortura psicológica de candidatos a delator -, até a defesa contundente das nossas estrelas de Curitiba pelo fato de "darem" palestras em troca de dinheiro, ao mesmo tempo que investigam o ex-presidente Lula por também cobrar nas situações semelhantes (mesmo tendo elas sido feitas na presença de centenas de convidados).

 

Vejamos agora uma nova rodada destes dois pesos e duas medidas. 

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"Doutor SemanaDois pesos e duas medidas - II"

Por Doutor Semana

Faço agora um novo alerta.

Nosso novo presidente marcou um novo gol de placa ao convidar o popular juiz Moro para comandar o Ministério da Justiça. Nada mais emblemático para um governo eleito com a bandeira do combate ao mal feito.

Ao fazer esse saudável simbolismo cruzar a campanha eleitoral e aterrissar no mandato, começam alguns desafios, de lado a lado.

De fato, logo nos primeiros dias nosso juiz-herói viu-se obrigado a esclarecer sua visão sobre Caixa 2, visto que um dos ministros mais próximos ao chefe tinha recém confessado a prática, a qual fora apontada por um dos tantos delatores.

O que fez nosso juiz-ministro? Ele passou a fazer uma oportuna releitura desta prática. Da tipicidade chegou-se à atipicidade.

Com efeito, ao contrário do amplamente divulgado por ele e por seus jovens assistentes de acusação em Curitiba, que outrora diziam ser o Caixa 2 crime pior até que a corrupção, pois corrompe o processo eleitoral, agora simplesmente passou a (des) classificar a prática como corriqueira da política nacional, e que, dissociada da corrupção, beira o inofensivo.

Bravo! Bela mudança. Aliás, bem positiva na visão deste cronista.

Mas há mais.

Sim, um novo fato, desta vez mais importante, e ainda inconclusivo, volta a assombrar nosso inquebrável juiz-ministro: um condecorado assessor do filho do presidente eleito, então deputado estadual, é flagrado recebendo depósitos mensais de funcionários de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio. Mais ainda, os depósitos são invariavelmente seguidos de saques em dinheiro. Tudo muito suspeito e às escâncaras.

Para nossos sagazes investigadores de Curitiba ou do Rio a suspeita é óbvia e o script seria simples: prisão preventiva de Queiroz. Encarcerado, o assessor, homem de bem, certamente não resistirá às condições inóspitas dos presídios brasileiros e fará, ato contínuo, uma delação admitindo a corriqueira prática de 'dobradinha', tão comum nas Assembleias Estaduais tupiniquins.

Na sequência, está pronta a receita: crime de "Peculato" (na nova jurisprudência paranaense), cumulado com "Lavagem de Dinheiro" (pois a bufunfa sacada era produto de um crime) e uma pitada de Organização Criminosa (ora, são várias pessoas envolvidas no mesmo ilícito).

Tudo isso colocado a fogo brando na mídia e estará servido o prato: o senador eleito com mais votos no Brasil - filho do presidente eleito - torna-se réu de crimes gravíssimos, e talvez seja até preso, assim como aconteceu com outros.

Para saborear a refeição, adicione-se ao caldo o fato de que houve um depósito na conta da primeira-dama, com confessada anuência do nosso "commander in chief", e o menu pode novamente causar uma indigestão e levar o Brasil político de volta ao vaso sanitário.

Ah!... E logo no início de um mandato tão aguardado por todos.

Nesse sentido, ou entendemos que o Brasil atravessa uma fase de transição para chegar a um ambiente de tolerância zero (frise-se, dentro de parâmetros construtivos e educadores, sem excessos e vinganças), ou viveremos nova crise institucional, de proporções ainda maiores, com danos irreparáveis para nossa economia e sociedade.

Mas, claro, existe ainda uma terceira via: podemos passar a considerar crime apenas aquilo que acontece com os outros, com nossos vizinhos, com nossos inimigos políticos, e apenas com aqueles que criticamos gostosamente nas redes sociais. Nessa terceira opção, ninguém duvide, está o caminho mais curto para a barbárie institucional.

Com a palavra, nosso juiz-ministro, o único com credibilidade para implantar essa transição tão positiva e necessária a nosso sofrido Brasil.

Feliz 2019, com muita paz e saúde, para todos meus queridos e pensantes leitores.

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