O papel do Peru na "Peruada"
A polêmica, a história e as opiniões sobre a festa
Da Redação
quinta-feira, 16 de outubro de 2003
Atualizado às 09:47
O papel do Peru na "Peruada"
No ano de seu centenário, o Centro Acadêmico XI de Agosto enfrenta uma polêmica envolvendo a realização da festa mais antiga da Faculdade de Direito da USP, a "peruada".
O diretor da faculdade, Eduardo Vita Marchi, com respaldo em parecer do Condephaat (conselho estadual que cuida do patrimônio histórico), proibiu a realização da festa no Pátio das Arcadas, onde começa a brincadeira. O documento atesta que a vibração do som pode afetar as estruturas do prédio, tombado pelo patrimônio histórico. (Clique aqui para ler)
A medida do diretor foi tema de sátira dos alunos, que no ano passado usaram o tema "Ei Marchi, Liberte o Meu Peru". Este ano os alunos devem reagir com a impetração de um mandado de segurança para garantir o acesso ao prédio.
Um pouco de história
Quem conta um conto aumenta um ponto. O dito popular justifica as várias versões para o surgimento da "peruada". Documentos arquivados na faculdade atestam que a festa surgiu no começo do século XX, como uma brincadeira de iniciação dos calouros. Os estudantes saíam às ruas do centro de São Paulo e davam seus recados, sempre ironizando acontecimentos e figuras da política nacional.
Já outros contam que tudo começou em 1948, quando estudantes surrupiaram alguns perus, premiados, do professor Mário Mazagão. Convidaram o dono das aves para um saboroso jantar que degustou, garfada à garfada, sem se dar conta da peça. A "peruada" virou comemoração anual, uma espécie de carnaval fora de hora, que ocorre sempre na terceira sexta-feira de outubro.
Durante 10 anos (entre 1972 e 1982) a repressão da ditadura militar impediu a realização da festa. Mas, foi quando em 1982, o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou a carta de um leitor elogiando a "peruada" daquele ano. Os estudantes da época nunca tinham ouvido falar em "peruada" e logo se interessaram. Pesquisaram na biblioteca da faculdade e levaram, no ano seguinte, a "peruada" de volta às ruas da Paulicéia.
Destes anos de história surgiu uma melodia, de autoria do migalheiro Eduardo Calvert, que Migalhas convida nossos migalheiros a entoar:
A Peruada
Vai vai vai começar a brincadeira,
tem cerveja de graça a tarde inteira,
vem soltar a lascívia acumulada,
vai vai vai começar a PERUADA.
Bebe bebe, vagabundo,
é melhor não estar desperto,
prá se a velha chegar junto,
enfrentar de peito aberto,
pois no meio da folia,
meio dia céu aberto,
uma neta que protesta,
vitupera sua nona,
que veio só dar carona
e resolveu ficar na festa.
(estribilho)
Quem se esquiva do dentista,
ou vê sangue e dá um salto,
tem chilique em lugar alto,
teme sapo de brinquedo,
em outubro vai ter medo,
no dia da PERUADA,
pois o centro e infestado,
de canhão de bruxa e draga,
tem até mulher barbada,
neste circo disfarçado.
(estribilho)
Os vapores de cachaça,
fazem mudar todo mundo,
o careta é maconheiro,
o nerd é vagabundo,
o juiz é sem juízo,
o alegre é moribundo,
mas não vale este brocardo,
prá quem joga do outro lado,
o Vitão lançou o grito
e não deixou de ser viado.
(estribilho)
De terno, gravata e meia,
franciscano quer a morte,
ouve a turba, titubeia,
o instinto é mais forte,
bem na hora do batente
o estagiário some,
seu chefe fica valente,
mas por dentro se consome,
noutro tempo inconseqüente,
fora em ébrio de renome.
(estribilho)
Foi beijada a velha nona,
foi beijada a bailarina,
é beijada toda hora
a safada da Marina,
todo mundo se devora,
Pierrô e Colombina,
quem zerou até agora,
mesmo assim não desanima,
porque a festa só termina,
quando o dia for embora.
Vai vai vai terminar a brincadeira,
que a cerveja rolou a tarde inteira,
morre o sol faz-se sombra nas arcadas,
vai vai vai terminar a Peruada.
Opiniões
"A atitude do diretor é desrespeitosa para com os estudantes, para com os antigos-alunos, para com os professores, os funcionários e também para com a cidade de São Paulo", afirma a migalheira Eunice Nunes, que deixou seu manifesto em nossas Migalhas dos Leitores.(Clique aqui para ler)
Há quem discorde, e diga que "Peruada tem mais a ver com playboyzinhos se divertindo que com efetivo "ridendo castigat mores". Qualquer um que andou convivendo com a classe estudantil são-franciscana ou tentando fazer política acadêmica nos últimos 12 anos sabe o quão politizada ela é" diz Antonio Carlos Iazigi.
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