Novela em Migalhas - Uma adaptação do romance A escrava Isaura
A novela que acabamos de acompanhar é uma adaptação do romance "A Escrava Isaura", de autoria do escritor romântico Bernardo Guimarães, escrito em 1874 e publicado pela Casa Garnier em 1875.
Da Redação
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Atualizado às 10:08
Prezado leitor, a trama que hoje terminamos de acompanhar foi adaptada por Migalhas a partir da obra A Escrava Isaura, de autoria do escritor romântico Bernardo Guimarães.
Escrita em 1874 e publicada pela Casa Garnier em 1875, a história narrada em A Escrava Isaura transcorre no Segundo Império, "nos primeiros anos do reinado do sr. Pedro II", como lê-se na abertura do primeiro capítulo. Tendo por tema principal a escravidão, instituição que o autor procurou criticar, a obra narra as desventuras de uma jovem e bela escrava objeto dos desejos de seu senhor.
Fiel seguidor do Romantismo, ao traçar para sua personagem os traços europeus de beleza predominantes na época, para muitos críticos Bernardo Guimarães terminou por enfraquecer o libelo abolicionista que buscava construir. Isso porque, em lição proferida pelo respeitável crítico e professor da USP Alfredo Bosi, "apesar de algumas palavras sinceras contra as distinções de cor, toda a beleza da escrava é posta no seu não parecer negra, mas nívea donzela, como vem descrita desde o primeiro capítulo."
Para José Armelin Bernardo Guimarães, neto do escritor, contudo, a escrava branca foi opção estratégica consciente do autor, para quem somente uma moça branca permitiria que a sinhazinha se sentisse no lugar da negra, e "que o senhor desalmado visse sua própria filha debaixo do azorrague do feitor, lá fora, amarrada no tronco!" Para a eficácia da propaganda em tal sociedade, era imprescindível que a protagonista fosse branca.
Continua ainda Armelin que o romance teria nascido de uma cena de açoite de escravos presenciada pelo autor em 1874, em fazenda onde tinha ido pedir pouso, no caminho de Queluz-MG (hoje Conselheiro Lafaiete) a Ouro Preto. Conforme sustenta o descendente, para gritar contra a crueldade da escravidão o escritor teria preferido o romance ao artigo em jornal, porque "Crônica de jornal é escrito que as matronas, os sinhôs-moços e as sinhás-moças nunca lêem e têm efêmera duração." O romance, ao contrário, seria "campanha perdurável" e mais que isso, "qual remédio ministrado em água açucarada", seu novo livro haveria de ser lido "pelos fazendeiros inclementes e por toda a orgulhosa família do fero senhor".
De fato, o próprio Bosi lembra que A Escrava Isaura já foi chamado de A Cabana do Pai Tomás nacional, célebre obra abolicionista estadunidense, e que, em que pese ao exagero, historiadores da literatura apontam que somente depois do sucesso do livro de Harriet Beecher-Stowe, é que começaram a surgir entre nós histórias de feitores cruéis e escravos virtuosos.
Estruturada sob os cânones românticos, a obra apresenta personagens esquematizadas, simples, que servem a apenas um papel. As soluções para as dificuldades enfrentadas por Isaura também são soluções românticas: a religião, a morte, o príncipe encantado: ao ver-se prestes a ser amarrada no tronco, ainda na Fazenda, antes de sua fuga, Isaura põe-se de joelhos e recita fervorosa prece; mais tarde, pede ao pai a sua faca para que ponha fim a sua vida; e por fim, sua fuga alcança sentido no encontro com Álvaro (Danilo, em nossa adaptação), o típico herói romântico, bom, belo e verdadeiro - e rico, acrescente-se.
Álvaro também, por sua vez, reflete uma visão religiosa da vida, encarando sempre como missão divina a tarefa hercúlea de libertar Isaura.
No entanto, ao concentrar a trama na cobiça de Leôncio (Fabrício) por Isaura o autor terminou por tangenciar temas que em pouco tempo caracterizariam o Realismo: a condição feminina, expressa pela passividade reservada à mãe de Isaura, à esposa do comendador e mesmo a Malvina (Manoela); e o abuso sexual que senhores cometiam em relação a suas escravas, antecipando em 60 anos tema que seria objeto do monumental Casa Grande e Senzala, ensaio de cunho histórico e sociológico em que Gilberto Freire revelaria ao Brasil as práticas sexuais comuns no latifúndio monocultor brasileiro.
O romance A Escrava Isaura foi transformado em novela televisiva pela Rede Globo e transmitido em rede nacional nos anos de 1976 e 1977, tendo a atriz Lucélia Santos no papel da escrava cobiçada e Rubens de Falco na pele do temido Leôncio. A novela foi um grande sucesso de público, tendo sido reprisada várias vezes, transmitida em diversos países e mais tarde (2004) refilmada pela Record.
Agradecido por sua companhia, sem a qual nenhum capítulo dessa novela teria alcançado sentido, Migalhas renova sua fé nas letras brasileiras, na arte de narrar como meio de pensar a sociedade e registrar a nossa História.
Migalhas de Bernardo Guimarães
A fim de preservar o desfecho e reservar surpresa para os leitores, Migalhas tomou a liberdade de trocar os nomes dos personagens. Tiradas essas licenças migalheiras, a novela que acabamos de acompanhar é uma adaptação do romance "A Escrava Isaura", de autoria do escritor romântico Bernardo Guimarães, escrito em 1874 e publicado pela Casa Garnier em 1875. Na década de 70, o romance foi transformado em novela televisiva pela Rede Globo e transmitido em rede nacional nos anos de 1976 e 1977.
Agradecido por sua companhia, temos o orgulho de apresentar mais um volume da série de aforismos de grandes autores. São chegadas as "Migalhas de Bernardo Guimarães".
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