Novo edital não pode mudar cálculo de nota previsto no edital de abertura de concurso
Mudanças ferem princípios da boa-fé e da segurança juridical.
Da Redação
sábado, 6 de abril de 2013
Atualizado às 09:11
Os
critérios de classificação e aprovação dos candidatos, fixados no edital de
abertura do concurso público, não podem ser alterados pela administração
durante a realização do certame, sob pena de ofensa aos princípios da boa-fé e
da segurança jurídica.
Com esse
entendimento, a 1ª turma do STJ deu
provimento ao recurso em mandado de segurança impetrado por candidatos que
participaram de concurso público para promotor de Justiça substituto em
Rondônia, no qual houve mudança nas regras de cálculo das notas no decorrer do
certame.
Os
recorrentes afirmaram que o edital de abertura do processo seletivo - Edital
39/10 - estabelecia em cinco a nota mínima em cada prova escrita discursiva, e
em seis o mínimo a ser alcançado no total obtido nessas provas, valor a ser
calculado pelo somatório das notas de cada prova discursiva. O critério foi
confirmado pelo Edital 40/10.
Mudança de
regras
Após a
realização da prova discursiva, o Cespe, organizador do concurso, publicou o
Edital 45/10, com a divulgação das notas provisórias dessas provas. Porém, no
mesmo mês, tornou-o sem efeito, para adequar o certame ao art. 48 da
resolução 8/10, do CSMP/RO.
De acordo
com os recorrentes, a redação do art. 48 traz nova regra para cálculo da nota
de corte dos candidatos, pois afirma que "serão considerados aprovados nas
provas escritas discursivas os candidatos que obtiverem nota igual ou superior
a cinco em cada grupo de disciplinas e média final, considerando os três grupos
de disciplinas, igual ou superior a seis".
Para os
impetrantes, o edital de abertura é bastante claro quando determina que o somatório
das notas dos grupos deve ser seis ou mais. Em nenhum momento cita a palavra
"média", inovação trazida com base na resolução.
O TJ/RO entendeu de forma divergente. Para a corte, a
rResolução do CSMP/RO deveria ser observada. Nela, o cálculo da nota mínima de
seis pontos, necessária para aprovação na fase discursiva, deveria "ser apurada
por meio de média aritmética, e não pela simples somatória das notas".
Parecer do
MPF considerou que a resolução, "não publicada em meio
oficial, não pode se sobrepor ao edital do concurso, cuja publicidade e
divulgação foram amplas"; e que, se se tratasse de mero erro material, a banca
organizadora deveria tê-lo corrigido antes da realização das provas.
Segurança
jurídica
Inconformados
com a decisão de segundo grau, os candidatos recorreram ao STJ invocando, entre
outros, os princípios da legalidade e da segurança jurídica, para que o cálculo
de suas notas fosse feito conforme o edital inaugural, ou seja, de acordo com a
lei que rege o concurso.
A turma atendeu ao pedido. Para o ministro Benedito Gonçalves, relator do recurso, "não pode a administração pública, durante a realização do concurso, a pretexto de fazer cumprir norma do Conselho Superior do MP/RO, alterar as regras que estabeleceu para a classificação e aprovação dos candidatos, sob pena de ofensa aos princípios da boa fé e da segurança jurídica".
- Processo Relacionado : RMS 37.699
______________
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº 37.699 - RO (2012/0082935-3)
RELATOR : MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
RECORRENTE : J.T.B.
ADVOGADOS : MARCO ANDRÉ DUNLEY GOMES E OUTRO(S) ARTHUR ROSSI SIMÕES CARVALHO E OUTRO(S)
RECORRENTE : B.B.F.
ADVOGADOS : AURÉLIO PIRES E OUTRO(S) MIGUEL CALMON TEIXEIRA DE CARVALHO DANTAS E OUTRO(S)
RECORRENTE : L.P.B.M.
ADVOGADOS : PAULO NICHOLAS DE FREITAS NUNES E OUTRO(S) FERNANDA MARINELA DE SOUSA SANTOS E OUTRO(S)
RECORRIDO : ESTADO DE RONDÔNIA PROCURADOR : RENATO CONDELI E OUTRO(S)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. PROMOTOR DE JUSTIÇA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA. INTERPRETAÇÃO DE REGRAS EDITALÍCIAS. ALTERAÇÃO DAS REGRAS DO EDITAL NO DECORRER DO CERTAME. PRINCÍPIOS DA BOA-FÉ E DA SEGURANÇA JURÍDICA. POSICIONAMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. DIREITO LÍQUIDO E CERTO EVIDENCIADO.
1. Recurso ordinário no qual se discute as regras de edital de concurso para o cargo de Promotor de Justiça do Estado de Rondônia.
2. No caso, o Edital n. 40, de 19 de agosto 2010 procedeu a alteração na fórmula de cálculo da nota de corte prevista, inicialmente, no Edital n. 39, de 21 de julho de 2010, na medida em que passou a exigir que a nota mínima de 6 pontos para a aprovação na fase discursiva fosse apurada por meio de média aritmética, e não mais por simples somatório das notas, como previsto no edital inaugural.
3. Não pode a Administração Pública, durante a realização do concurso, a pretexto de fazer cumprir norma do Conselho Superior do MP/RO, alterar as regras que estabeleceu para a classificação e aprovação dos candidatos, sob pena de ofensa aos princípios da boa fé e da segurança jurídica.
4. Recurso ordinário provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso ordinário em mandado de segurança, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Sérgio Kukina, Ari Pargendler, Arnaldo Esteves Lima e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 21 de março de 2013(Data do Julgamento)
MINISTRO BENEDITO GONÇALVES
Relator