Filmes e livros registram recentes ditaduras latino-americanas
Livros e filmes podem ser instrumentos de resgate de um passado dolorido. Conheça algumas iniciativas sobre as recentes ditaduras latino-americanas.
Da Redação
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Atualizado em 28 de janeiro de 2013 13:29
O esforço para registrar o passado
Se o registro da História impende esforços, eles são muito maiores quando o que se tem a escrever é sombrio. Hoje os abusos de poder, as supressões das liberdades individuais, as violações de direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar brasileira (1964-1985) são públicos e notórios, mas não o foram sempre assim - houve um longo, difícil e perseverante trabalho de registro e recuperação da memória que permitiu que se tornassem inquestionáveis.
Um dos primeiros trabalhos nesse sentido, o livro "Brasil nunca mais", uma iniciativa da Arquidiocese de São Paulo - então capitaneada por D. Paulo Evaristo Arns - em parceria com o reverendo James Wright e o rabino Henry Sobel, sistematizou e reservou à posteridade os dados contidos em centenas de processos da justiça militar no período de 1961 a 1979, constituindo referência para o estudo do período.
Recentemente, a obra "Marighella - o guerrilheiro que incendiou o mundo", de autoria do jornalista Mário Magalhães, longe de constituir hagiografia, permite um olhar crítico à utopia dos jovens estudantes de classe média de então, que desconectados do povo, imaginavam uma revolução.
As ditaduras no cinema
Apropriar-se do passado para mirar o futuro tem sido a leitura dos países latino-americanos para o drama de suas ditaduras recentes. Há alguns anos a filmografia da região tem buscado olhares mais leves e inusitados para trabalhar os temas que não olvidam terem sido sangrentos.
Com o conhecido ator espanhol Gael García Bernal em seu elenco o chileno No adota como perspectiva narrativa a estratégia publicitária adotada pela campanha da oposição para o referendo que pôs fim à ditadura de Augusto Pinochet - pressionado pela comunidade internacional, o velho ditador, no poder desde a deposição violenta de Allende, em 1973, arquitetou em 1988 um referendo cujo resultado "de fachada" legitimaria, aos olhos internacionais, sua permanência no cargo por mais oito anos.
Ano passado, assistiu-se a Cara ou Coroa (Brasil, 2012), em que o recém-falecido ator Walmor Chagas representa um militar aposentado que se opunha às notícias de tortura, relaxando assim a vigilância sobre as atividades clandestinas de amigos de sua neta. A existência de personagem ambíguo dá conta da evolução do olhar sobre o período, que com o passar do tempo vai distanciando-se dos tipos esquemáticos.
Em Infância Clandestina, também em cartaz em alguns cinemas do país, é a vez da Argentina contar mais uma história de sua sangrenta ditadura sob a perspectiva dos efeitos na vida de uma criança, filha de perseguidos políticos. Todos da década de 2000, alcançaram bastante sucesso as películas Kamchatka (Argentina, 2002), Machuca (Chile, 2004) e O ano que meus pais saíram em viagem de férias (Brasil, 2006), que igualmente traziam em primeiro plano o olhar de crianças sobre a ditadura em seus países.
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