Novela em Migalhas - Uma adaptação do romance Amor de Perdição
Editora Migalhas lança "Migalhas de Camilo Castelo Branco".
Da Redação
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Atualizado em 18 de dezembro de 2012 15:36
A fim de preservar o desfecho e reservar surpresa para os leitores, Migalhas tomou a liberdade de trocar os nomes dos personagens e situá-los em terras tupiniquins. Tiradas essas licenças, a novela que acabamos de acompanhar é adaptação do romance Amor de Perdição, de autoria do escritor português Camilo Castelo Branco, publicada pela primeira vez no ano de 1862 e até hoje muito lida e republicada em Portugal.
O autor
Camilo teve uma vida dramática. Nasceu em 16 de março de 1825, filho de Manuel Correia Botelho Castelo Branco, "de linha varonil não nobre, mas a partir de certa época afidalgada" e Jacinta Rosa, mulher do povo, a quem o marido abandonou depois de certa época. Conviveu muito pouco com a mãe, que morreu antes que ele completasse dois anos. Pouco se sabe de sua vida em Lisboa, onde viveu até completar dez anos, idade em que foi mandado a viver em Vila Real, local de origem de seus antepassados paternos, de onde sairia apenas pelos breves períodos de suas tentativas de estudos superiores.
A formação escolar de Camilo foi irregular, confiada a um padre amigo da família. Em 1843 matricula-se na Faculdade de Medicina no Porto, mas não prossegue nos estudos; em 1845 tenta ainda a carreira jurídica em Coimbra, mas ali também não permanece por muito tempo. Com a deflagração das revoltas populares nas províncias do norte, alista-se e volta para a região de onde não mais sairia.
Casou-se cedo, aos dezesseis anos, com moça ainda mais jovem, a quem abandonou com uma filha logo em seguida; poucos anos depois, uniu-se a outra jovem que morreu tísica em pouco tempo. Em 1858 começa a relacionar-se com uma mulher casada, Ana Plácido, cujo marido processa-os por adultério. Em virtude desse processo os amantes são recolhidos à Cadeia da Relação, no Porto, onde passam mais de um ano aguardando julgamento.
O julgamento acontece na mesma cidade do Porto, aos 16 de outubro de 1861. São enfim absolvidos e vivem juntos até a morte de Ana, em 1885, mas os registros não são de uma vida feliz.
Cinco anos depois da morte da esposa, amargurado pelas dificuldades da vida e pela convivência com uma cegueira progressiva, Camilo, tal qual um de seus trágicos personagens, opta pelo extremo ato de desespero, suicidando-se com um tiro na cabeça no dia 1° de junho de 1890.
A privação da liberdade, o grande mote de Amor de Perdição
É na prisão que Camilo escreve Amor de Perdição, novela em que o amor proibido, contrariado, é pretexto para tratar da privação da liberdade, o grande tema.
Ao longo de todo o texto os protagonistas estão presos: Simão em casa do ferrador, Teresa em casa da família; Simão na cadeia, Teresa no convento. Ambos prisioneiros de pais inflexíveis, intransigentes, que não lhes permitem o direito de escolher a pessoa amada, pais por sua vez também presos a papeis e padrões sociais.
Na esteira dos valores estéticos da época, é na morte que os personagens encontram a redenção, a libertação.
A grande personagem de Camilo, a língua portuguesa - Camilo foi um grande cultor da língua. É comum gramáticos e outros estudiosos buscarem em seus escritos os parâmetros para o bom português. Ao longo da leitura de Amor de Perdição não é raro o leitor surpreender-se com frases belas, seja pela sonoridade, seja pela exatidão da imagem que invocam, seja enfim pelo fato de serem construções divertidíssimas, em que o talento de observador mordaz do autor leva o leitor ao riso.
No segundo capítulo do romance, no momento em que explica a alteração de humor e comportamento do herói ("Simão Botelho amava."), salta aos olhos - e fica por muito tempo nos ouvidos do leitor - a belíssima versão de Camilo para o "amor à primeira vista", tão caro ao ideário romântico:
"Da janela do seu quarto é que ele a vira a primeira vez, para amá-la sempre."
Mas como alertam seus críticos, não foi simples a adesão de Camilo a tal escola literária. No início do capítulo IV, já em andamento a oposição das famílias ao romance dos jovens, vai rir - e fazer rir o leitor, é claro - dos arroubos artificiosos da ficção sob tais moldes, em saboroso retrato de sua personagem:
"...Teresa advinha que a lealdade tropeça a cada passo na estrada real da vida, e que os melhores fins se atingem por atalhos, onde não cabem a franqueza e a sinceridade. Estes ardis são raros na idade inexperta de Teresa; mas a mulher do romance quase nunca é trivial, e esta de que rezam os meus apontamentos era distintíssima. A mim me basta, para crer em sua distinção, a celebridade que ela veio a ganhar à conta da desgraça."
Poder-se-ia garimpar o romance todo, folha a folha. E assim, nessa toada, ler Camilo Castelo Branco é descobrir potencialidades da língua portuguesa, valorizá-la, prestigiá-la.
Migalhas de Camilo Castelo Branco
A história contada na "Novela em Migalhas" revela a escrita ultrarromântica, sagaz e única presentes nos textos camilianos. Não à toa, no ano em que se celebra os 150 anos da publicação de Amor de Perdição, a inspiração de nossa novela, a Editora Migalhas tem a honra de lançar as "Migalhas de Camilo Castelo Branco". Na série de simpáticos e coloridos livros com frases, este volume reúne quase mil aforismos do escritor lusitano.
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