MIGALHAS QUENTES

  1. Home >
  2. Quentes >
  3. 30 anos sem Chico Emygdio, o amigo dos alunos das Arcadas
História

30 anos sem Chico Emygdio, o amigo dos alunos das Arcadas

Antigo estudante e tesoureiro da velha e sempre nova Academia, a partida do apaixonado pela juventude enche corações de saudade.

Da Redação

terça-feira, 10 de julho de 2012

Atualizado em 5 de julho de 2012 16:20

"Se existe o Céu das Grandes Almas Boêmias, nele deve haver uma cantina bem-aventurada, onde confraternizam jovens alegres, à roda de uma mesa etérea, risonhamente presidida por um gordinho de olhos azuis, muito orgulhoso de sua gravata borboleta. Esta criatura - que já era angelical na terra - certamente haverá de estar jubilosa por poder reger, com uma caneca de chope à guisa de batuta, um coro de boêmios, poetas e seresteiros".

(Sidney Gioielli, no especial Folha Dobrada, informativo trimestral da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP. Edição 14 - Ano 3)

A Faculdade de Direito da USP foi e se mantém como celeiro de grandes nomes e grandes homens. Bons exemplos, os famosos três Chicos das Arcadas se tornaram personagens marcantes na história da Faculdade de Direito do Largo S. Francisco. Do grupo, que incluía o franzino Chico Elefante e o discreto Chico Torres, estava o saudoso e popular Chico Emygdio. O amigo dos alunos, que dá nome à rua no bairro paulistano Santo Amaro, é hoje responsável por infindável saudosismo desde sua partida, há 30 anos, em um triste 11 de julho.

O paulistano nasceu Francisco Emygdio Pereira Neto no dia 2 de agosto de 1913. Órfão de pai aos 17, o trabalho, essencial para ajudar a família, não o impediu de realizar o sonho de estudar Direito. Calouro das Arcadas em 1931, no ano seguinte combatia com orgulho na Revolução Constitucionalista de 32.

Definido pela Associação dos Antigos Alunos como "uma das maiores personalidades que pisaram nas Arcadas", o dedicado membro da Academia, além de incentivador fervoroso do tradicional hino acadêmico, foi presidente honorário do XI de Agosto e também exerceu a função de tesoureiro por largos lustros, desde sua formação, em 1935, até sua aposentadoria 34 anos mais tarde. Nunca deixou a advocacia de lado, tendo exercido função de conselheiro da OAB/SP e membro das Comissão de Disciplina e de Prerrogativas da seccional.

Espécie de elo entre estudantes e docentes, definir Chico com palavras como simpatia, prestígio e dedicação seria pouco perto de sua representatividade na vida e no coração da velha e sempre nova Academia. De estilo inconfundível, fora de sua excelência profissional, consagrou-se pelas famosas emigdianas, noitadas inconfundíveis e carregadas de surrealismo que fazia acontecer nos boêmios botecos paulistanos.

Apaixonado pela juventude, Emygdio não era homem de apreciar a bebida pela bebida, como conta o cronista das Arcadas, Sidney Gioielli, em "Os Filhos Joviais de São Francisco - Recordações da Faculdade de Direito". Estimulava a juventude talentosa e empolgava-se com suas manifestações nos mais variados formatos e expressões. Era esse seu apreço.

Nas artes, o fiel era bom mesmo de Tietê, nome que se dava aos desafios cantados em rodas de estudantes, espécies de repentes. As toadas caipiras, as serenatas, a improvisação, a empolgação, a boemia... Chico fazia de tudo um pretexto para sacar ora sutis, ora provocativos versos, sempre motivos para mais um afetuoso brinde.

A leveza e alegria de viver não tinham dia, nem hora. Nas noites e madrugadas tão divertidas entre amigos, o que se tornaram os jovens arcadianos, era recorrente a companhia da compreensiva e tolerante esposa dona Maria Conceição, carinhosamente e reconhecidamente chamada por todos de Santa Maria.

Em uma vida que soube ser vivida, seria impossível reunir em poucas palavras os carinhosos adjetivos votados a Emygdio nas mais diversas publicações que se dedicaram a exaltar o saudoso tesoureiro. De sereno e extraordinário a santo e inesquecível, sobram qualidades. Dentre elas, a transtemporalidade talvez defina o caráter daquilo que o velho Chico representou para a Faculdade de Direito do Largo S. Francisco. Segundo Gioielli, em poucas palavras, Emygdio foi um ente "que varou gerações e gerações, zelando fielmente pelas funções de seu cargo e pelas alegrias da vida acadêmica".