Manifestação contra a corrupção é encerrada com leitura de manifesto
Da Redação
quinta-feira, 8 de setembro de 2005
Atualizado às 09:01
Manifesto contra a corrupção
A Manifestação Pública contra a Corrupção, que aconteceu na terça-feira (6/9), no centro de São Paulo, começou com a concentração das lideranças e manifestantes na Praça da Sé e terminou às 12 horas, sob chuva, nas escadarias do Teatro Municipal, onde o presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso leu, em nome de todas as entidades, um Manifesto, no qual afirma que o Brasil assiste " estarrecido, à maior crise política de sua história". O documento criticou a paralisação do governo e o andamento das apurações por parte das três CPIs em andamento, considerando-as "lentas e confusas, com risco de punições brandas". Ao final, cobrou: " a Nação exige transparência e ética na política e nas relações do Estado com a sociedade civil. Exige desenvolvimento e emprego. Exige Justiça Social. Nossa manifestação hoje, na véspera do Dia da Independência, se expressa por um indignado silêncio. O silêncio da vergonha". O Manifesto será entregue aos presidentes da Câmara e Senado e dos tribunais superiores, em Brasília, pelas lideranças ao Ato na próxima semana.
A caminhada - que reuniu cerca de 10 mil pessoas - passou pela rua Boa Vista, onde houve uma parada diante do 'impostômetro', placar eletrônico que mostra o volume de arrecadação de impostos no Brasil, onde os fogos de artifício chamaram atenção para mais de meio trilhão de reais recolhidos este ano pelos cofres públicos. Seguiu pelas ruas Líbero Badaró e Viaduto do Chá, até a Praça Ramos. Os carros de som executaram o Hino da Independência durante o percurso e os participantes agitavam bandeirolas do Brasil e de entidades sindicais , Muitos, também portavam o tradicional nariz de palhaço.
Para o presidente da OAB/SP, a manifestação mostrou que "estamos no caminho certo. Houve uma ampla articulação da sociedade, que veio às ruas. Não foi necessário discurso, bastou a indignação. Brasília tem de receber essa manifestação como um diagnóstico do que sente a população. A nação está querendo a verdade. Esse ato não é contra o governo. Esse ato é contra a corrupção, contra aquelas pessoas que traíram a confiança do povo, que receberam o voto e usam desse poder para fazer falcatruas", afirmou D'Urso.
Na avaliação do presidente da OAB/SP, a sociedade vai reagir a qualquer tentativa de "acordão". A sociedade está articulada, numa verdadeira vigília e nós vamos continuar fiscalizando, exigindo apuração, transparência e punição para quem precisa ser punido e virar essa página da história brasileira o quanto antes para que o Brasil possa voltar ao seu caminho da normalidade. Se necessário, estaremos novamente nas ruas," ponderou D'Urso. O presidente da OAB/SP foi cumprimentado pelo deputado Fernanda Gabeira (PV), que enfatizou a importância de a OAB/SP estar presente neste momento de crise.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, ficou satisfeito com o ato. "Foi um sucesso e aconteceu como nós prevíamos". Para o presidente da ACSP, Guilherme Afif Domingos, "a manifestação foi forte. Hoje é um dia de semana e aqui eu vi gravata e macacão juntos. Todos pararam para fazer essa grande manifestação. Acho que é o início de uma reação da sociedade organizada. Acredito que o Brasil vai ficar melhor".
A proposta dessa Manifestação Pública foi lançada pela Força Sindical na primeira reunião do Movimento pela Legalidade contra o Arbítrio e a Corrupção, em agosto. Inicialmente, o ato público foi apoiado pela OAB/SP e Associação Comercial, recebendo ao longo do período adesão de inúmeras outras entidades da sociedade civil.
Participaram da marcha nesta terça-feira: Guilherme Afif Domingos, presidente da Associação Comercial de São Paulo; Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical; João Carlos Basílio da Silva, CIESP; Celso Limongi, presidente da Apamagis; Antonio Marangon, presidente do Sescon; Rubens Approbato Machado, conselheiro nato da OAB, Márcia Melaré, vice-presidente da OAB/SP; Marcos da Costa, diretor tesoureiro da OAB/SP e o secretário de Justiça e Cidadania do Estado, Hédio Silva Júnior, entre outras lideranças. O ato também reuniu muitos parlamentares: Roberto Freire (PPS), Alberto Goldman (PSDB), Fernando Gabeira (PV), Walter Barelli (PSDB); Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB); José Carlos Alelulia (PFL) o secretário das subprefeituras de São Paulo, Walter Feldman, Gilberto Natalini, secretário de Participação e Parceria da Prefeitura de São Paulo. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, compareceu à leitura do Manifesto. "Avaliamos que a manifestação foi positiva pela serenidade, pelo respeito, enfim pela tranqüilidade", disse Skaf.Também estiveram presentes, conselheiros seccionais, advogados e estudantes de Direito.
Conheça a íntegra do Manifesto.
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O Grito do silêncio: queremos a verdade!
O país assiste hoje, estarrecido, à maior crise política de sua história. A cada dia surgem denúncias de graves casos de corrupção no Governo Federal e no Congresso Nacional.
No mesmo ritmo, crescem as suspeitas de que partidos políticos saquearam os cofres públicos, em nome dos governos Federal e municipais, para comprar apoio de políticos e partidos, seja para troca de siglas, votações no Congresso, ou financiamento ilegal de campanhas eleitorais.
O andamento das apurações de três Comissões Parlamentares de Inquérito é lento e confuso, com risco de punições brandas. É inaceitável que membros do Governo e do Legislativo se esforcem para prejudicar as investigações e assim livrar os principais acusados das merecidas punições.
Não faltam denúncias, confissões e documentos para fundamentar inquéritos, processos, julgamentos e punições. Por isso a sociedade brasileira espera das CPIs, do plenário da Câmara dos Deputados, do Ministério Público e da Polícia Federal, que todos os crimes sejam desvendados e os criminosos processados e punidos com rigor, nos termos da lei.
O governo está paralisado há quase quatro meses. O Congresso também. Portanto, mais cedo ou mais tarde a economia será afetada. O Orçamento da União não é executado, interrompendo os benefícios dos programas sociais à população mais necessitada.
Precisamos de um projeto de Nação e não de tomada e aparelhamento do poder. O país espera o cumprimento de fato de um programa de governo, alterando com segurança a política econômica. Não há outro meio de reduzir os juros, renegociar a dívida pública sem desrespeitar contratos, e executar o Orçamento da União com responsabilidade fiscal.
Exausta de promessas não cumpridas, a Nação exige transparência e ética na política e nas relações do Estado com a sociedade civil. Exige desenvolvimento e emprego. Exige Justiça Social. Nossa manifestação hoje, na véspera do Dia da Independência, se expressa por um indignado silêncio. O silêncio da vergonha.
São Paulo, 6 de setembro de 2005
Assinam este Manifesto, entidades de trabalhadores, empresários, comerciantes, profissionais liberais, magistrados, promotores, parlamentares, mulheres, estudantes etc.
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