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Relato

Desabamento de prédio em São Bernardo do Campo

Advogada que trabalhava no edifício, em meio a palavras comoventes, comenta a situação.

Da Redação

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Atualizado às 10:01

Relato

Desabamento de prédio em São Bernardo do Campo

No último dia 6, um edifício comercial de 13 andares desabou parcialmente em São Bernardo do Campo/SP. O prédio abrigava alguns escritórios de advocacia, empresas e consultórios médicos.

Ontem, a redação migalheira recebeu uma carta da advogada Eliana Cardoso, que trabalhava no prédio, no escritório Cardoso e Macedo Advogados Associados. A causídica, em meio a palavras comoventes, comenta a situação. Veja abaixo.

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Caríssimos,

Peço desculpas por escrever uma mensagem coletiva, mas a nossa realidade nos últimos dois dias não permitiu responder individualmente às mensagens carinhosas e solidárias de cada um. Escrevo para dizer que nós estamos bem e para informar a todos como estamos enfrentando a adversidade que nos desafia, sobre a qual todos puderam conhecer por meio da mídia.

Nosso escritório estava sediado na sala 34. Todas as salas de final 4 estavam na mira da implacável e impiedosa avalanche vertical de entulho que engoliu em segundos parte de todas as salas que estavam na sua mira. O inusitado monstro que surgiu, não se sabe como, em nossas vidas não se contentou em engolir o posto de trabalho de centenas de pessoas: levou consigo, em sua fome voraz, a vida de duas pessoas, uma criança que acompanhava os pais em uma consulta e uma trabalhadora que no momento estava em serviço. Sob os escombros materiais ficaram móveis, documentos, equipamentos de trabalho, objetos de estimação e tudo o mais que normalmente as pessoas deixam no local onde passam em torno de nove horas de suas vidas. Sob os escombros imateriais ficaram tristeza, sensação de desamparo e de fragilidade, inconformismo, vazio.

Sorte de quem não coloca como fundamento de sua vida os bens materiais. Sorte de quem acredita na Vida e em um Ser Superior que nos ama e nos protege. Este é o nosso caso! E, por isso, estamos removendo aos poucos os destroços todos.

Da nossa sala, pelo que a emoção permitiu constatar, restou em torno de 10 metros quadrados dos 80 que eram ocupados pelas nossas vidas no trabalho. Além de três dos nossos nove computadores e meia dúzia de pastas, resgatamos um quadro que me acompanha desde meu primeiro escritório inaugurado em 1985. Nele está retratado de forma poética o pecado e a morte presentes no individualismo e a vida e a ressurreição presentes na solidariedade. Fiquei muito feliz em poder resgatá-lo, intacto na parede.

As pastas contendo cópia de quase mil processos foram brutalmente desorganizadas por este monstro impiedoso que nada entende de arquivos, de processos e de prazos. Algumas caíram no precipício que se instalou ao centro da nossa sala e que fez desaparecer completamente, como que por mágica, a sala da Vanessa, da Michelly e a minha, além do corredor e parte da sala de reuniões. Outras pastas ainda estão lá. Estas se negaram a nos abandonar, sabedoras do quanto nós sempre zelamos pelos interesses dos nossos clientes. Estão nos nossos arquivos, que estão inacessíveis, apoiados apenas em uma viga de concreto à beira do inacreditável buraco. Não sabemos quantas pastas foram fieis a nós, pois a nossa emoção e a pressa de dois heróicos bombeiros que nos acompanharam não permitiram fazer a chamada.

Mas nós temos um trunfo, que a faminta e ultrapassada avalanche não conseguiu atingir: a informática. Todos os nossos processos eram catalogados em um sistema informatizado que armazena todos os dados "nas nuvens", fora do alcance do monstro, que soube apenas agir do teto do 13º. andar ao subsolo do prédio e não soube como alcançar o espaço invisível da internet. Bem feito para ele! Todos os andamentos processuais, prazos, agendas, compromissos e relatórios estão a salvo, pois estão hospedados fora da nossa (ex) sala.

Assim, enquanto Alan, Bruno e eu providenciamos outro espaço para trabalhar, percorremos os locais de armazenamento de escombros e frequentamos o grande escritório coletivo em que se transformou o asfalto em frente ao nosso prédio para obter informações e conseguir acessar o que restou da nossa sala, Vanessa, Juliana e Michelly estão fazendo aquilo que nós sabemos fazer melhor: cuidar dos nossos processos, cumprindo prazos e tomando providencias. Isso, graças ao fato de não termos perdido nossos dados hospedados em servidor externo, que efetivamente está nos servindo neste momento tão difícil das nossas vidas.

Amanhã iremos montar um escritório provisório, mas muito acolhedor, na própria Avenida Indico, 86, Edifício Itamar, 5º. Andar, sala 52, Jardim do Mar, São Bernardo do Campo, SP, CEP 09750-600. O telefone continuará o mesmo: 4125.6655. Enquanto a transferência da linha não se efetiva, solicitamos a gentileza de ligarem para o celular 9159.7789 ou para os nossos celulares pessoais.

Contente por ter encontrado tempo e tranquilidade para prestar contas do nosso trabalho nos dois últimos dias, peço desculpas pelo longo texto. Era necessário fazê-lo para expurgar esta angustia que me assola desde as 19h35 do dia 06/02/2012, dia que já foi decretado pela CMS o dia do nosso recomeço.

Em meu nome e em nome dos meus amigos Vanessa, Alan, Bruno, Juliana e Michelly, agradeço de coração o apoio, a solidariedade e a compreensão de todos.

Grande abraço,

Eliana

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