A produção jornalística de Olavo Bilac
Paramos nossa história no momento em que Olavo Bilac, tendo publicado seu primeiro livro de poemas e obtido sucesso, desistiu do segundo curso superior e retornou ao Rio de Janeiro. Tendo abandonado de vez a vida de estudante, não contou mais com a ajuda financeira do pai. Passou a viver em um modesto quarto alugado e prover o seu sustento com o trabalho na imprensa diária. Trabalhou nos grandes veículos da imprensa carioca - Cidade do Rio, Gazeta de Notícias, A Notícia, O Combate, revista Kosmos -, colaborou em jornais do interior fluminense (Vassouras e Petrópolis) e até em jornais da capital paulista, dentre eles o Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo.
Da Redação
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Atualizado em 28 de novembro de 2011 16:48
Olavo Bilac
A produção jornalística de Olavo Bilac
Paramos nossa história no momento em que Olavo Bilac, tendo publicado seu primeiro livro de poemas e obtido sucesso, desistiu do segundo curso superior e retornou ao Rio de Janeiro. Tendo abandonado de vez a vida de estudante, não contou mais com a ajuda financeira do pai. Passou a viver em um modesto quarto alugado e prover o seu sustento com o trabalho na imprensa diária. Trabalhou nos grandes veículos da imprensa carioca - Cidade do Rio, Gazeta de Notícias, A Notícia, O Combate, revista Kosmos -, colaborou em jornais do interior fluminense (Vassouras e Petrópolis) e até em jornais da capital paulista, dentre eles o Correio Paulistano e O Estado de S. Paulo.
Poeta talentoso, Bilac não deixou, em nenhum momento da vida, de publicar seus versos nos jornais e revistas por onde passou, amealhando, sempre, grande aceitação de seus pares e do público leitor. Mas a face de sua pena capaz de surpreender o leitor de hoje encontra-se em suas crônicas. Se ao poeta parnasiano não era permitido escapar à sua Profissão de Fé, a descontração do gênero crônica permitiu certa imbricação das preocupações do poeta e do jornalista, proporcionou um pouco de poesia ao leitor dos jornais:
"Perdão, amigos! os poetas sabem muitas cousas que o comum dos homens ignora. Conversam com as nuvens, com os astros, com as árvores, com as águas, e são senhores de todos os segredos dessa maravilhosa linguagem universal, que ainda não foi e provavelmente nunca será incluída nos programas do método Berlitz...".
Ainda nesse tom, é magistral o texto em que o cronista diagnostica que foi a luz elétrica que, ofuscando o luar, matou os poetas cariocas:
"Os nossos luares, neste céu incomparável, sempre foram famosos. No inverno carioca, uma noite de lua cheia, no céu escampo, em que desfalecem e morrem todas as estrelas ofuscadas, é uma maravilha sem par, cuja contemplação dá poesia e imaginação a todas as criaturas, - até aos muares das carroças do lixo, e aos cachorros vagabundos. O luar do Rio! foi por causa dele que esta cidade teve tantos poetas, no tempo em que ainda havia poetas. Agora há... cronistas e burocratas, como este que aqui vai conosco, e que é adorador da Eletricidade."
No período compreendido entre 1893 e 1908, assinou crônica semanal na Gazeta de Notícias e em parte desse tempo, em paralelo, crônica diária em A Notícia, além de inúmeras outras colaborações esparsas.
Aqui é mister abrir parênteses e destacar sua longa permanência na Gazeta de Notícias, jornal diário dirigido por Ferreira de Araújo, apontado por jornalistas e historiadores como responsável pela modernização da imprensa no Brasil. As inovações trazidas pela Gazeta eram de forma e conteúdo: além da disposição gráfica completamente nova, o jornal abriu-se aos escritores e artistas mediante a inserção de temas literários na pauta diária. Representava, no Rio de Janeiro de então, o contraponto ao sisudo e conservador Jornal do Comércio.
Na geração anterior a Bilac, a Gazeta de Notícias chegou a contar com a colaboração dos portugueses Eça de Queirós e Ramalho Ortigão; foi na Gazeta também que Machado de Assis assinou durante anos a coluna A Semana, destinada a comentar os assuntos de destaque no período. Em 1897, quando Machado decidiu aposentar-se, a seção ficou a cargo de Bilac, que já escrevia na Gazeta desde 1893.
Trabalhar na Gazeta era, de acordo com o próprio Bilac, a ambição de muitos jovens daquele tempo:
"É que a Gazeta, naquele tempo, era a consagradora por excelência. Não era eu o único que a namorava; todos os da minha geração tinham a alma inflamada nessa mesma ânsia ambiciosa. Não era o dinheiro que queríamos: queríamos consagração, queríamos fama, queríamos ver o nosso nome ao lado daqueles nomes célebres. Nós todos julgávamos então que a publicidade era um gozo, e que a notoriedade era uma bem-aventurança."
"(...) escrever na Gazeta! Ser colaborador da Gazeta! Ser da casa, estar do lado da gente ilustre que lhe dava brilho! - que sonho!"
Voltemos à surpresa do leitor de hoje com o texto jornalístico do circunspecto poeta parnasiano Olavo Bilac, que na lida da imprensa diária transmudava-se em "atormentado e atarefado filho de Gutemberg", conforme sua própria definição.
O tom adotado pelo escritor nas crônicas, como sói acontecer nesse tipo de texto, é marcado pela informalidade, por conversas com o leitor, pela técnica de pretensamente misturar detalhes de sua vida pessoal ou ainda de criar personagens para retratar situações do cotidiano e criticá-las. Nessa linha, a grande personagem de suas crônicas é a cidade do Rio de Janeiro, com seu calor insuportável, a febre amarela, os cortiços, crimes passionais, a chegada do bonde, da luz elétrica. A informalidade, contudo, não impede o tratamento de grandes questões morais: é comum o escritor bater-se pela educação da infância, pelo serviço militar obrigatório, contra a corrupção política.
Mas estamos invadindo o capítulo de amanhã, quando conheceremos um pouco da visão do escritor sobre os temas de seu tempo.
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