Solidariedade marca o encontro da história da Santa Casa com a Revolução Constitucionalista
Fundada há mais de quatro séculos, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é a mais antiga instituição assistencial e hospitalar em funcionamento na cidade.
Da Redação
sexta-feira, 8 de julho de 2011
Atualizado às 09:10
O espírito de 1932
Solidariedade marca o encontro da história da Santa Casa com a Revolução Constitucionalista
Hospital Central - Sede da Santa Casa de São Paulo
"A Santa Casa paulistana é o centro, a coluna vertebral de todo o evolver da civilização paulista de Piratininga. Todos os homens de bem, de prol, de sapiência, de sensibilidade, claro, que tinham o poder - o poder econômico conquistado pelo esforço, pelo labor, pelo trabalho, pelo estudo -, fizeram da Santa Casa o seu epicentro... Ela condensa as nossas próprias raízes... a saga paulista é a saga do homem da Santa Casa, que somos todos nós, paulistas, filhos da Santa Casa..." Duílio Crispin Farina
Fundada há mais de quatro séculos, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é a mais antiga instituição assistencial e hospitalar em funcionamento na cidade. Não existem registros da data exata de sua fundação, mas indícios apontam para o ano de 1560.
São Paulo era, então, uma pequena vila isolada, distante de tudo e de todos, desenvolvendo-se em torno do colégio criado pelos jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega.
Do alto de uma colina escarpada, do vale entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, São Paulo expandiu-se para tornar-se uma das mais exuberantes e significativas metrópoles do mundo, abrigando, no início do século XXI, mais de onze milhões de habitantes.
A Santa Casa acompanhou esse crescimento e vivenciou sua evolução. Um dos episódios mais marcantes que entrelaçou a história da capital paulista com a da Santa Casa de Misericórdia ocorreu durante a Revolução Constitucionalista de 1932, que completa em 2011 seu 79º ano.
Um encontro de histórias
Quando os paulistas revoltaram-se contra o governo provisório de Getúlio Vargas e lutaram por uma nova Constituição Federal, enfrentaram dificuldades ao reunir os fundos necessários para manter-se em batalha. Para arrecadar dinheiro, realizaram a campanha "Ouro para o bem de São Paulo", que consistia em convocar as pessoas a doarem o metal precioso que possuíssem: moedas, medalhas, joias...
Solidária e engajada com a causa, a população aderiu à campanha. Mas, apesar dos esforços do Exército Constitucionalista, os 87 dias de combate terminaram com a rendição paulista ao governo Vargas. Perdida a revolução, optou-se por doar os recursos que sobraram da campanha "Ouro para o bem de São Paulo" para a Santa Casa de Misericórdia. Com o dinheiro, a Irmandade construiu um edifício, nomeado "Ouro para o bem de São Paulo".
Assim, criou-se uma fonte perene de renda para a instituição, com o aluguel comercial das salas do edifício. O dinheiro procedente do ouro doado para a defesa dos ideais paulistas, hoje cura, opera, tira a dor, acalenta, dá luz e esperança...
Cabe valorizar a lembrança da gente que se uniu e doou o que tinha - há quem tenha entregado joias valiosas, cravejadas de pedras preciosas - e o que não tinha - registra-se que muitos doaram as alianças de casamento, por não possuir nada mais de valor - por uma São Paulo melhor.
Moeda Paulista - Guilherme de Almeida
Moeda Paulista, feita só de alianças,
feita do anel com que Nosso Senhor
uniu na terra duas esperanças:
feita dos elos imortais do amor!
Quanto vale essa moeda? - Vale tudo!
Seu ouro eternizava um grande ideal:
e ela traduz o sacrifício mudo
daquela eternidade de metal.
Ela, que vem na mão dos que se amaram,
Vale esse instante, que não teve fim,
em que dois sonhos juntos se ajoelharam,
quando a felicidade disse :"SIM".
Vale o que vale a união de duas vidas,
que riram e choraram a uma só voz
e, simbolicamente desunidas,
vão rolar desgraçadamente sós.
Vale a grande renúncia derradeira
das mãos que acariciaram maternais,
o menino que vai para a trincheira,
e que talvez... talvez não volte mais...
Vale mais do que o ouro maciço:
vale a glória de amar, sorrir, chorar,
lutar, morrer e vencer... Vale tudo isso
que moeda alguma poderá comprar!
Ouro para o bem da saúde de São Paulo
A solidariedade dos constitucionalistas ainda pulsa no coração da Santa Casa. Os tempos são outros para São Paulo, mas o sentimento de compaixão e desprendimento tem sempre os mesmos propósitos. Por que não fazer renascer a intenção e união constitucionalista na campanha: "Ouro para o bem da saúde de São Paulo"?
A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo é uma instituição privada e filantrópica. Ainda que não seja estatal, atua como se fosse, pois atende à população de forma indiscriminada e boa parte de seu orçamento é de origem governamental. No entanto, como todos os locais que trabalham com assistência médica pública, a instituição necessita de parcerias e doações da iniciativa privada para sua manutenção e aperfeiçoamento.
Referência em saúde
A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo possui sete hospitais na cidade, que prestam serviços de assistência e saúde para a população da capital e interior do Estado. Pela reconhecida excelência no atendimento que oferece e por ser uma das instituições hospitalares que mais presta serviços ao SUS, a instituição constitui-se em um centro de referência médica nacional e internacional. Além de oferecer atendimento, também dispõe de recursos avançados em tecnologia, pesquisa e ensino na área da saúde e formação profissional especializada.
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Bibliografia
CARNEIRO, Glauco. O poder da misericórdia - a santa casa na história de são paulo. 1. ed. São Paulo : 1986. Volume I - A serviço de Deus e do Rei.
CARNEIRO, Glauco. O poder da misericórdia - a santa casa na história de são paulo. 1. ed. São Paulo : 1986. Volume II - Ascensão e Queda do Liberalismo.
CARNEIRO, Glauco. O poder da misericórdia - a santa casa na história de são paulo. 1. ed. São Paulo : Atheneu Editora, 2010. Volume III - A era contemporânea da maior instituição de benemerência do país e suas relações com a história política, médica e assistencial de São Paulo.
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