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Goffredo da Silva Telles Jr.: a paixão pela literatura e o aprendizado com grandes mestres

Conheça as obras e personalidades que fizeram parte da formação cultural do Professor Goffredo da Silva Telles Junior.

Da Redação

terça-feira, 14 de junho de 2011

Atualizado às 08:06


Entre livros e mestres

Goffredo da Silva Telles Jr.: a paixão pela literatura e o aprendizado com grandes mestres

"Meu tempo de aluno passou como a manhã de sol de um só dia. Mas meu tempo de estudante dura até hoje."

Revendo a biografia do ilustre professor Goffredo da Silva Telles Jr. é impossível não captar a extensão e a força de suas palavras. De fato, desde muito cedo o pequeno Goffredo esteve cercado de personalidades e materiais fartos que ajudaram a construir e moldar as linhas de seu pensamento, sempre em evolução.

Quando criança, na casa do aristocrático bairro dos Campos Elísios, a presença da avó, a mecenas das artes Olívia Guedes Penteado, era sinônimo de inúmeras reuniões com os principais intelectuais, artistas e políticos da época. Professor Goffredo teve, assim, muitos mestres ilustres, em todos os campos do conhecimento.

Aloysio de Castro, por exemplo, introduziu-o na poesia de Horácio, quando ainda se sentava nas cadeiras do colégio. Deu-lhe de presente o volume das Odes, em latim. "Hoje, Horácio figura, em edições diversas, na minha amada estante de poesia", confidenciou.

Ainda antes, quando as brincadeiras de crianças disputam com ferocidade a atenção dos pequenos, Goffredo da Silva Telles Junior já possuía instrutores de alto nível. Brecheret abriu-lhe o ateliê, e sempre de amável personalidade acolhia a contemplação do menino.

"Um dia, revelei-lhe meu espanto, meu pasmo, ao vê-lo dar, ao duro mármore, a figura comovente de um rosto de pensador. Foi então que ele me disse, sorrindo, estas extraordinárias palavras: - Eu não faço quase nada. A figura já está na pedra. Eu não faço mais do que soprar com amor, para assustar a poeira".

Os amigos ilustres permaneceriam vida afora. No apartamento da rua Aires Saldanha, reuniões descontraídas contavam com Carlos Drummond de Andrade, Ciro dos Anjos, Saldanha Coelho, Almeida Fischer, entre tantos outros. Cecília Meirelles e Érico Veríssimo também se fizeram presentes.

Muito cedo o professor Goffredo adquiriu o hábito da leitura. Na infância, leu no original, em inglês, clássicos como Robinson Crusoe, Peter and Wendy, Os três mosqueteiros, O Conde de Monte Cristo e Robin Hood. O guarani, Iracema, Ubirajara e O tronco do ipê, de José de Alencar, figuraram na literatura nacional. Os jornais tornaram-se rotina na vida do Mestre, entre os doze e treze anos, no longo trajeto feito de bonde entre a casa e o liceu.

"A viagem durava mais de uma hora. Então, para encher esse tempo, fui aprendendo a ler os jornais do dia."

Suas "grandes leituras" tiveram início com a mudança para o Colégio São Bento. Madame Bovary, de Flaubert, encantou-lhe, abrindo o caminho para as obras-primas da língua francesa; a obra de Eça de Queirós "foi um deslumbramento". Com a leitura dos exímios escritores, aprendeu, "desde cedo, que uma forma apagada e morta pode arruinar a matéria, e destruir um livro."

Na mocidade, dedicou seu intelecto às entranhas do Brasil. A exemplo da grande dama paulista Olívia Guedes Penteado - que em 1927 comunicou à família que faria duas viagens, ao norte e ao sul do país, a fim de melhor conhecer a realidade tupiniquim -, Goffredo percorreu grandes extensões do Brasil, com a obsessão de conhecê-lo. Como alicerce, leu muito sobre o país. Casa-grande e senzala, Os sertões, Evolução política do país, Bases da nacionalidade brasileira, Retrato do Brasil, O Estado Moderno, Formação da política burguesa, Raízes do Brasil, apenas para citar alguns.

Crítico exigente, o ilustre Professor Goffredo da Silva Telles Jr. possuía o hábito de catalogar as obras lidas, anotando nome, editora e época em que os lera. Como toque final, apontava as obras excelentes com uma estrelinha vermelha: "Levavam a estrelinha os livros que me pareciam perfeitos, no conteúdo e na forma, estórias admiráveis pela sua universalidade, pelo seu humanismo, plenas de espiritualidade e beleza", revelou. Entre os estrelados constam Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Clarice Lispector, João Ubaldo Ribeiro e Guimarães Rosa.

Uma formação tão vasta e excepcional não poderia ter resultado em algo distinto de toda a eloquência e propriedade com que Mestre Goffredo brindou os afortunados que tiveram a oportunidade de entrar em contato com seus ideias, raciocínios e dissertações. Certamente, muito contribuíram para transformar o nosso ilustre Mestre um estrelado por si só.

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