José de Alencar - intersecções entre o Direito e a literatura nacional - VII
Da Redação
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Atualizado em 3 de agosto de 2010 15:20
Intersecções entre o Direito e a literatura nacional
VII - A lei
Todos os povos têm seu código de conduta.
José de Alencar, interessado num retrato nacional, foi visto por vezes em conversa com indígenas, perquerindo seus assuntos e tradições.
Dentre os romances indianistas que consagram os resultados desse formidável trabalho de campo, encontramos em "Ubirajara" uma peculiaridade dos tratos das tribos à época de 1874 : a lei da hospitalidade.
Esse código que guiava a conduta das tribos "não consentia que se perguntasse o nome ao estrangeiro que chegava, nem que se indagasse sua nação".
"Talvez fosse um inimigo ; e o hóspede não devia encontrar na cabana onde se acolhia senão a paz e a amizade".
Valendo-se da lei da hospitalidade, chegou o índio Ubirajara, alcunhado Jurandir, à cabana do cacique Itaquê, a fim de buscar por esposa Araci, a jovem filha do morubixaba :
"grande chefe dos tocantis, Jurandir não veio à tua cabana para receber a hospitalidade ; veio para servir ao pai de Araci, a formosa virgem, a quem escolheu para esposa. Permite que ele a mereça por sua constância no trabalho, e que a dispute aos outros guerreiros pela força de seu braço".
O bravo índio Jurandir serviu ao cacique e combateu os guerreiros tocantins. Chegada a hora de obter para si Araci, foi interpelado pelo cacique :
"Quando o estrangeiro chegou à cabana de Itaquê, ninguém lhe perguntou quem era e donde vinha.
O hóspede é senhor.
Mas agora o estrangeiro saiu vencedor do combate do casamento e conquistou uma esposa na taba dos tocantins.
É preciso que ele se faça conhecer porque a filha de Itaquê, o pai da nação dos tocantins, jamais entrará como esposa na taba, onde habite quem tenha ofendido a um só de seus guerreiros".
Não esperava Itaquê que o hóspede estrangeiro à sua frente fosse o poderoso da tribo araguaia que havia levado cativo, após combate vencido, seu filho Pojucan ! O grande chefe, não podendo vingar imediatamente o filho, vergou a cabeça ao peito, como o cedro altaneiro batido pelo tufão :
"tu és meu hóspede ; enquanto Itaquê brandir o grande arco da nação tocantim, ninguém ofenderá o amigo de Tupan na taba de seus guerreiros."
Itaquê respeitou a lei da hospitalidade apesar da ofensa ao filho Pojucan.
Ao garantir a segurança do estrangeiro, enquanto pisava em domínios tocantins, o cacique revelou ter a grandeza que deve habitar os grandes chefes.
Itaquê cumpriu assim o código coletivo que deveria reger a conduta de toda uma tribo ; e mais do que isso, cumpriu aquela que é a primeira lei de um verdadeiro guerreiro : a honra.
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Leia mais
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4/8/10 - VII - A lei - clique aqui.
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3/8/10 - VI - O contrato de casamento - clique aqui.
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3/8/10 - V - Sob jugo no sertão - clique aqui.
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2/8/10 - IV - Verso e Prosa no mundo do Direito - clique aqui.
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30/7/10 - III - Liberdade do corpo, liberdade da alma - clique aqui.
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29/7/10 - II - A lei de Talião em O Guarani - clique aqui.
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28/7/10 - I - Os Bastidores - clique aqui.
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