Waldir - um homem de muitas histórias
Muitos lamentamos que o "Príncipe dos Advogados" não tenha deixado um livro de memórias que preservasse para a eternidade a riquíssima experiência de vida, pessoal e profissional, de Waldir Troncoso Peres.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Atualizado em 10 de agosto de 2009 13:17
Waldir - um homem de muitas histórias
Salvador Ceglia Neto*
Muitos lamentamos que o "Príncipe dos Advogados" não tenha deixado um livro de memórias que preservasse para a eternidade a riquíssima experiência de vida, pessoal e profissional, de Waldir Troncoso Peres.
Isso, de certa forma, contribui para fortalecer o mito. Tal como Pelé, dificilmente apareça alguém como ele.
Com a fama de não mais que folhear algumas páginas dos sempre volumosos autos processuais, Waldir deles extraia a seiva, o néctar, a alma, e como num passe de mágica, manobrava como um bruxo com aquele elixir, praticamente hipnotizando plateia e jurados que ficavam completamente à mercê daquela verve privilegiada que aparentava comprazer-se com o manejo incondicional da mente humana.
Transformava mentiras em verdades, criminosos em vítimas, sempre tendo como pano de fundo o sentido incomensurável da natureza humana, com todos os seus vícios, perversidades, mazelas, imperfeições, sempre escusáveis e justificáveis, na visão bondosa, paternalista, quase deísta, de um espírito que pareceu, e certamente é, de um grau muito elevado.
Na década de 70 funcionava junto ao Tribunal do Júri de São Paulo um combatente promotor público, de quem tive a honra de ser aluno de Direito Penal, na Faculdade Paulista de Direito, o Dr. Dirceu de Mello, que tinha a fama de não deixar malfeitores sem condenação.
Hoje, na qualidade de Magnífico Reitor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o ilustre Desembargador e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo recentemente, em saborosa conversa, comentou comigo sobre os pitorescos Júris em que teve a oportunidade de se defrontar com Waldir.
A oratória de Waldir era imbatível e demolidora, mas o cioso promotor público não se intimidava e em sucessivos apartes tentava fazer ver aos Jurados a culpabilidade dos acusados.
O resultado final dos Júris travados nessas circunstâncias invariavelmente não agradavam ao combativo promotor público.
Depois de dezenas de Júris travados nessas condições, o eterno e perspicaz promotor resolveu mudar de tática, abstendo-se de apartear o mais aquinhoado tribuno advocatício.
É que percebera que a cada aparte, Waldir crescia e com sua inigualável retórica convencia ainda com mais força os jurados e desconsertava a plateia e o resistente promotor.
Os resultados finais melhoraram... na visão de Dirceu.
Waldir se renovava, se revigorava, rejuvenescia com os apartes do Ministério Público ou dos assistentes da acusação.
Mas a velha raposa não se fez de rogada e insistentemente perguntava ao estratégico Procurador se não desejava mesmo aparteá-lo nos longos julgamentos, convite que o Promotor Dirceu delicadamente declinava.
Memoráveis julgamentos com dois brilhantes contendores que ainda hoje ecoam no Salão dos Passos Perdidos.
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*Sócio do escritório Ceglia Neto, Advogados
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