Réquiem para um advogado
Ele era lhano no trato, humilde, igual, companheiro. Figura franzina, ombros levemente caídos, despido de vaidades materiais, pouco impressionava àquele que o conhecia de relance.
terça-feira, 14 de abril de 2009
Atualizado às 07:32
Réquiem para um advogado
Paulo Roberto da Silva Passos*
Ele era lhano no trato, humilde, igual, companheiro.
Figura franzina, ombros levemente caídos, despido de vaidades materiais, pouco impressionava àquele que o conhecia de relance.
Candente na fala; tomado de amor infindo pela humanidade; conhecedor profundo dos segredos da alma, bastava, no entanto, um dedo de prosa, para que, embevecido, seu interlocutor se deixasse levar, clamando para que o diálogo não terminasse.
E, foi essa acendrada paixão pelo homem que o fez optar por se sentar no último degrau da escada, e, mãos entrelaçadas com o aflito, caminhar pelas angustiantes veredas do Tribunal do Júri.
Ali, atendendo à vocação inata, ele imperou!
Pouco importando quem o acusado - por largo tempo, como Procurador do Estado, se notabilizou por defender os socialmente deserdados- quando adentrava o plenário para representá-los, para servir de escudo aos desmedidos ataques acusatórios, se transformava.
Voz candente, oratória brilhante, argumentos irrespondíveis, apartes que cortavam como navalha, aos poucos sua figura se agigantava, se tornava sobrenatural, encantava, preenchia todos os espaços do tribunal.
O homem frágil, nessas ocasiões - sem nunca perder a doçura que lhe era peculiar -, se transformava no guerreiro audaz, que na defesa da causa que abraçara, da verdade em que acreditava, se forjava na têmpera do aço, não se vergava a qualquer força conhecida.
Mercê das liças travadas nos arraiais da Justiça, ganhou fama. Invariavelmente, ao saber ser ele o defensor, estudantes, advogados, promotores de justiça, juízes de direito, componentes de diversos núcleos sociais, em verdadeira romaria, buscavam a sala sagrada do Júri, deixando à espera outros tantos, menos felizes na empreitada.
O tempo, porém, que corre célere, e, em sua marcha inexorável deixa suas marcas, propôs-lhe um último desafio. Até onde pode lutou. Foi sua derradeira batalha, aquela que alguém jamais venceu.
A advocacia criminal brasileira está de luto; os tribunais do júri, já saudosos se entristecem, calou-se a voz do príncipe dos tribunos. Waldir Troncoso Peres sem nunca abdicar de seus ideais foi chamado para pugnar em planos outros!
Com a gratidão de todos os seus discípulos, descanse em paz, eterno mestre.
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