Lula, o filho do Brasil
Na cidade de Santos vimos "rodar" parte do filme da biografia de Lula, o chamado "O filho do Brasil". Biografia é a descrição da vida de uma pessoa. No caso, a pessoa biografada neste filme tem uma história a ser contada. Mas, também é dado a contar estórias.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Atualizado em 6 de março de 2009 10:45
Lula, o filho do Brasil
Danilo Pereira*
"Santos.
Nasci junto do porto do porto, ouvindo o barulho dos embarques.
Os pesados carretões de café.
Sacudiam as ruas, faziam trepidar meu berço.
Cresci junto do porto, vendo a azáfama dos embarques.
O apito triste dos cargueiros que partiam.
Deixava longas ressonâncias na minha rua.
Brinquei de pegador entre os vagões das docas.
Os grãos de café, perdidos no lajedo,
Eram pedrinhas que eu atirava noutros meninos.
As grades de ferro dos armazéns, fechados à noite,
Faziam sonhar (tantas mercadorias!)
E me ensinavam a poesia do comércio.
Sou bem teu filho, ó cidade marítima.
Tenho no sangue o instinto da partida,
O amor dos estrangeiros e das nações.
Ah, não me esqueça nunca, ó cidade marítima,
Que eu te trago comigo por todos os climas.
E o cheiro do café me dá tua presença."Rui Ribeiro Couto, "Um homem na multidão".
Na cidade de Santos vimos "rodar" parte do filme da biografia de Lula, o chamado "O filho do Brasil". Biografia é a descrição da vida de uma pessoa. No caso, a pessoa biografada neste filme tem uma história a ser contada. Mas, também é dado a contar estórias.
Minha curiosidade é saber se se tratará de biografia histórica ou estória. Mas, como filho da terra que também sou, das duas, do Brasil e de Santos, não fico muito contente em ver essa estória ser contada aqui na vizinhança.
Aliás, a vizinhança não está lá tão comovida e convencida com sua história de vida. As ruas andaram lá meio vazias, os espectadores, quase nenhum, mais se interessam em desfrutar de um bom café na Bolsa do Café, do que propriamente acompanhar a vida desse filho. Aliás, alguns ficaram até chateados, dentre todos, eu mesmo.
Se imaginem impedidos de desfrutar do melhor café do país devido a tais gravações! Afinal, até as cadeiras da Bolsa de Café de Santos ouviram histórias melhores. Não sei se será um bom filme. Acredito sinceramente que será monótono. Poucas ou raras vezes de emoção, se é que haverá alguma. Aliás, o gênero do filme apontado é "drama/romance". Emblemático isso, pois acreditava piamente que se trataria do gênero policial!
Será um filme cujos brasileiros, filhos que colocaram o biografado no poder, e depois o reelegeram, também poderão colaborar com o diretor, Fábio Barreto. Assim, será sucesso. Filas e filas para adentrar as salas dos cinemas, ingresso, pipocas, refrigerantes e tudo aquilo que a sociedade capitalista exige para se poder assistir a alguma arte.
Arte? Sim, cinema já foi arte. Hoje é encarte. Provavelmente, a maioria dos filhos que elegeram e reelegeram o ilustre filho biografado não terá condições de assistir a sua biografia no cinema. A não ser que até a estréia surja um "bolsa cinema", talvez um PAC (Pipoca, Água e Circo ou Programa de Auxílio ao Cinema ou Povo Acredita "Cempre"...desculpem estou sendo apenas fiel a história do biografado).
Para evitar a ansiedade destes filhos aguardando o filme passar em um canal aberto, farei minha contribuição para todos estes filhos que não poderão assistir a ficção (!) e outros mais que, assim como eu, possuem uma mórbida curiosidade do resultado.
Essa seria minha sinopse:
"É a história de um brasileiro, filho parido pobre em Pernambuco, veio para São Paulo tentar a vida. Foi subindo a custas de sindicatos e aposentadoria por ter perdido o dedo mínimo em uma prensa hidráulica. Foi um dos fundadores de seu partido e sua principal estrela.
Ego alto, estrela brilhante, que assim como muitos dos astros, apenas luz itinerante, sucumbida no espaço, luz apenas vagante. Foi deputado. Ainda assim não procurou melhorar, estudar ou ao menos saber falar a língua de seu vernáculo. Tentava a Presidência e não conseguia.
É filho da pátria, tinha a cara do Brasil, mas de que adiantava, se o povo queria primeiro o saudável e depois o notável. O terno alinhou, a barba aparou e botox aplicou. Deram uma chance, o povo acreditou.
Chegou a Presidência da República, onde na diplomação chorou. Recebeu seu primeiro diploma, aos 57 anos. Orgulho de toda mãe ver seu filho diplomado, nem que seja 40 anos atrasado.
Em seu governo tudo acontecia, corrupção, mensalão, cuecão, cartão corporativo, álcool, escândalos com amigos pessoais e seus Ministros diretamente ligados. Nada sabia e nada viu e jurava isso à pátria que lhe pariu.
Bem reeleito fora pelos filhos do Brasil. Mesmo assim não aprendeu a falar. Está desculpado, qualquer brasileiro letrado se confundiria com a língua, se como ele fosse tão viajado. Mas, como sabia tagarelar.
É ponto "G" para economia, é jogo de futebol para comércio internacional, e também tem exame de próstata no discurso para explicar que tem gringo colocando a mão no Pantanal. Professores não servem para nada, afinal, o filho da pátria, pobre de nascimento, "enricou" sem conhecimento.
Para que vencer por merecimento, frequentando bancos acadêmicos, processo lento, lendo. Então nada mais justo que explicar com o dedo também, mas este em riste. É tudo bem original, e permitido, afinal, estamos na pátria dos filhos do carnaval, dos filhos caras de pau, caras pintada com óleo de peroba, e dos filhos de uma mãe legal que nos colonizou na base do degredo de marginal.
Acredita que fez um bom governo, sim, de pai para filhos. Aliás, foi aprovado por mais de 80% de seus filhos: os filhos do bolsa família. Tornou-se uma lenda, de tantas que tinha a falar.
Nesse enredo dramático e melancólico, o final estórico preciso contar: o filho do Brasil sentado na praia, e várias caipirinhas a tomar. Feliz da vida, pois aos hermanos passa contar as aventuras de um nordestino no país tropical cujo iniciou sua vida no lombo de jegue, animal símbolo de um povo que merece a história que lhe persegue.
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*Professor Universitário. Advogado do escritório Pereira, Maximino, Toledo & Barros Advogados Associado.
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