Roosevelt e Bush
O liberalismo clássico prega a mais ampla liberdade para o mercado, proibida qualquer regulamentação formulada pelo Estado. Se o mercado vai mal, deve se dar mais mercado ao mercado, nunca o Estado. Todas as liberdades do homem resultam da liberdade na economia, afirmam. A civilização caminha do coletivo para o individual.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Atualizado às 14:07
Roosevelt e Bush
Sérgio Roxo da Fonseca*
O liberalismo clássico prega a mais ampla liberdade para o mercado, proibida qualquer regulamentação formulada pelo Estado. Se o mercado vai mal, deve se dar mais mercado ao mercado, nunca o Estado. Todas as liberdades do homem resultam da liberdade na economia, afirmam. A civilização caminha do coletivo para o individual.
Os primeiros planos econômicos formulados pela União Soviética, logo após a implantação do comunismo, foram condenados como instrumento de dominação do Estado sobre o indivíduo. Sustentou-se mesmo que uma economia planificada pelo Estado representava a inauguração da mais severa ditadura. O mundo testemunhava o fim da Primeira Guerra Mundial.
Dez anos após, ocorreu a quebra da bolsa de Nova York, desastre então administrado pelos economistas clássicos norte-americanos que não conseguiram evitar o mergulho do país numa grande recessão. Os primeiros filmes de Chaplin retratam a época, de se destacar "O Garoto".
O Presidente Roosevelt resolveu em 1933 intervir na economia norte-americana em busca de garrotear os efeitos da grande recessão. O seu plano recebeu o nome de "New Deal". Seus opositores o acusaram de adotar uma tendência socializante de forte inspiração no comunismo soviético. O plano durou até 1937. O governo alcançou seus objetivos tanto que começou a se preparar para enfrentar a Segunda Grande Guerra que já se avizinhava.
O "New Deal" tinha fundamento teórico nas lições do inglês Keynes que defendia a intervenção do Estado no meio econômico, com o objetivo de estancar as crises cíclicas prognosticadas pelos entendidos.
Dizia Keynes que o Estado, nessa emergência, deveria converter-se no principal protagonista do mercado, passando a ampliar desmesuradamente seus serviços. Caberia aos governantes inventar serviços, como abrir estradas desnecessárias, subsidiar pesquisas abstrusas, e, até mesmo enterrar dólares engarrafados nas minas extenuadas de carvão, aconselhando o contribuinte a encontrá-los.
Viam a economia recessiva como um lago adormecido, devendo o governo lançar pedras no seu centro, movimentando ondas até as suas margens.
Se os norte-americanos encontrassem os dólares enterrados, passariam a comprar mercadorias, empurrando os produtores a aumentar a fabricação, contratando mais e mais trabalhadores, que, por sua vez, injetariam mais dinheiro no mercado, reproduzindo o progresso necessário para estancar a recessão.
Os eixos básicos do "New Deal" foram:
a) intervenção do Estado na economia norte-americana;
b) regulamentação da atividade econômica;
c) expansão do serviço público;
d) guerra contra a corrupção no serviço público.
A industrialização brasileira, após o fim da Segunda Grande Guerra, ocorreu com forte intervenção estatal. Se não havia capital privado para empurrar a economia, deveria o governo criar as famosas empresas estatais e para estatais, entre as quais é possível citar: Volta Redonda, Petrobrás, COSIPA, USIMINAS, Fábrica Nacional de Motores, Álcalis. O capital dos contribuintes criou essas grandes empresas.
A imprensa noticia que o primeiro projeto do governo Bush contra a crise foi dirigido para supostamente resgatar a insolvência dos especuladores. Foi rejeitado. O segundo projeto, hoje já aprovado pelo senado, contém também socorro a pessoas menos favorecidas. Já são ouvidas críticas, segundo as quais o governo inclina-se para o populismo. Outros dirão que o republicano Bush, derrotado na primeira rodada, tenta sobreviver, trilhando os passos de Roosevelt, que não era republicano, mas, sim, democrata.
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*Advogado, Procurador de Justiça aposentado do Ministério Público de São Paulo, professor da Faculdade de Direito COC